Mercado de carros elétricos vai encolher pela metade com Trump, diz CEO da Ford

Jim Farley previu em evento em Detroit que o market share de elétricos nos EUA vai passar de 10% para 5% com medidas como o fim de crédito fiscal ao consumidor e a flexibilização de regras de emissões: ‘o mercado será muito menor do que pensávamos’

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Bloomberg — O chefe da Ford Motor alertou sobre uma perspectiva sombria para os veículos elétricos, dado que as políticas do presidente Donald Trump proporcionam uma nova vida aos carros movidos a gasolina.

A eliminação de um crédito fiscal de US$ 7.500 para o consumidor e a flexibilização das regras de emissões reduzirão drasticamente a demanda por veículos elétricos nos EUA, de acordo com o CEO da tradicional montadora, Jim Farley.

Ele previu que a participação dos veículos de emissão zero - atualmente em torno de 10% do mercado doméstico - poderia cair pela metade.

“Eu não ficaria surpreso se as vendas de veículos elétricos nos EUA caíssem para 5%”, disse o executivo nesta terça-feira (30) em um discurso em Detroit, em uma conferência que a Ford organiza sobre empregos de “chão de fábrica”.

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O mercado de veículos elétricos será “muito menor do que pensávamos”.

A avaliação contundente ressaltou a dinâmica de rápida mudança do setor automotivo sob o comando de Trump, em que muitos dos principais fabricantes postergam planos de produção de veículos elétricos e redistribuem investimentos em motores de combustão interna e veículos híbridos.

A Ford enfatizou a escolha do consumidor quanto aos tipos de combustível e, ao mesmo tempo, mudou sua estratégia de veículos elétricos para modelos de baixo custo.

A unidade de veículos elétricos da Ford, Model-e, perdeu cerca de US$ 1,3 bilhão no segundo trimestre e a empresa previu que poderia perder até US$ 5,5 bilhões em veículos elétricos este ano.

Suas vendas de elétricos nos EUA caíram 31% no trimestre, prejudicadas pelo envelhecimento dos modelos e por uma interrupção temporária nas vendas do Mustang Mach-e elétrico devido a um recall de segurança.

Farley disse que vê mais oportunidades na “eletrificação parcial”, como os híbridos. Ele disse acreditar que os elétricos puros são mais adequados para “trajetos curtos” e representam apenas de 5% a 7% desse mercado.

Ele disse que a Ford tem procurado adicionar a produção de híbridos às suas fábricas de baterias.

“Temos que fabricar esses veículos parcialmente elétricos nas plantas que seriam de veículos elétricos”, disse Farley. “O que faremos com todas essas fábricas de baterias? E vamos enchê-las, mas será mais estressante” devido às mudanças de política do governo Trump.

A Ford tem quatro fábricas de baterias em construção, incluindo uma em Kentucky com a SK On da Coreia do Sul, que iniciou a produção em agosto.

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A montadora também tem duas fábricas dedicadas à produção de veículos elétricos, incluindo sua primeira planta de montagem totalmente nova em mais de meio século.

A Ford tenta determinar o que fazer com essas fábricas, agora que se espera que a demanda de veículos elétricos, que já é fraca, diminua ainda mais devido ao esforço de Trump para acabar com o que ele chama de “mandato de veículos elétricos”.

“Temos mais decisões a tomar sobre essas fábricas de baterias e de montagem nos próximos meses e anos com essa mudança”, disse Farley em uma entrevista com David Westin, apresentador da Bloomberg TV Wall Street Week.

“Essas políticas são reais. Elas vão durar por pelo menos um governo. Agora temos que decidir.”

Farley disse que a Ford pretende usar parte dessa capacidade para produzir híbridos, mas são necessários 20 carros híbridos para usar a mesma quantidade de energia da bateria que um veículo elétrico.

“A capacidade que construímos para as fábricas é muito maior do que que precisaríamos”, disse Farley. “Portanto, não é compatível. Temos algumas escolhas a fazer.”

Novos tipos de modelos híbridos plug-in, como os veículos elétricos de alcance estendido, precisam de baterias maiores, o que poderia ajudar a utilizar mais capacidade nas fábricas de baterias da Ford.

Três das plantas industriais receberam um empréstimo de US$ 9,2 bilhões do Departamento de Energia dos EUA em 2023.

“São algumas das melhores fábricas que já construímos e as projetamos de forma flexível”, disse Farley sobre as fábricas de veículos elétricos e de baterias da Ford.

“Tomaremos a decisão certa para a empresa. Não vamos permitir que elas sejam desativadas.”

-- Com a colaboração de David Westin.

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