Líder Aviação firma parceria com Beta Technologies para aeronaves elétricas no Brasil

Maior companhia de táxi aéreo do país encomenda três unidades à fabricante norte-americana com opção de adicionar mais 50 aviões; CEO da Líder Aviação diz que escolha da Beta ocorreu após análise de mais de 30 projetos no mercado

Aeronave elétrica da Beta encomendada pela Líder Aviação
04 de Agosto, 2025 | 07:42 PM

Bloomberg Línea — A Líder Aviação anunciou nesta segunda-feira (4) uma parceria com a empresa norte-americana Beta Technologies para representar exclusivamente no Brasil as suas aeronaves elétricas.

O acordo marca a entrada da companhia brasileira no mercado de aviação elétrica, um setor ainda em desenvolvimento em diferentes países.

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A parceria estabelece a Líder como representante de vendas e centro de serviços autorizado para os modelos da Beta Technologies no território nacional.

Como parte do acordo, a empresa brasileira adquiriu três aeronaves e garantiu opções de compra para mais 50 unidades destinadas à sua frota própria. O valor da aquisição e outros detalhes do contrato não foram divulgados.

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O anúncio acontece em um momento em que o setor de aviação busca alternativas sustentáveis aos combustíveis fósseis. As aeronaves elétricas representam uma das principais apostas da indústria para reduzir as emissões de carbono no transporte aéreo, especialmente em voos de curta distância.

A Beta Technologies desenvolve dois modelos que serão comercializados pela Líder no Brasil: o CX300, uma aeronave elétrica de decolagem e pouso convencionais, e o ALIA 250, um veículo de decolagem e pouso verticais (eVTOL). Ambos os modelos ainda estão em processo de certificação junto à FAA (Federal Aviation Administration) dos Estados Unidos.

No Brasil, a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) acompanha o processo de certificação internacional.

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A entrega das primeiras unidades depende da conclusão da homologação pelas autoridades reguladoras, o que ainda não tem prazo definido.

“Há seis anos e meio, resolvemos estudar a mobilidade aérea sustentável. Avaliamos mais de 30 projetos no mercado e chegamos à conclusão de que a Beta tem a aeronave com melhor performance em relação aos outros projetos”, disse a CEO da Líder Aviação, Junia Hermont, a jornalistas.

Um dos destaques do projeto apontado pela executiva é que a Beta desenvolveu a própria bateria e o sistema de recarregamento e já vendeu mais de 650 unidades.

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Anderson Markiewicz, diretor de vendas e aquisições de aeronaves da Líder Aviação, disse esperar que a operação comercial com as aeronaves elétricas da Beta comece em 2028.

Segundo ele, existe a possibilidade de que o modelo de decolagem e aterragem convencionais, conhecido pela sigla CTOL (Conventional Take-Off and Landing), consiga a certificação antes desse ano citado.

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O executivo visitou a fábrica da Beta em South Burlington, no estado de Vermont (nordeste dos EUA).

“A fábrica já se encontra em plena atividade. Encontramos estruturas em fibra de carbono já totalmente em montagem, com componentes chegando. Eles montam não só as aeronaves mas também o sistema e recarregamento de baterias por meio de um sistema robótico”, contou Markiewicz.

Outro fator que deu segurança à empresa brasileira, segundo os executivos, foi o funding.

A Beta já captou mais de US$ 1,2 bilhão no mercado e patenteou mais de 390 tecnologias e projetos, disse Markiewicz. A fabricante tem uma equipe com cerca de 1.000 funcionários e 100% do capital privado.

“Isso faz com que a companhia esteja pronta para levar o projeto até o final do processo de certificação”, disse o diretor da Líder.

Beta desenvolve sistema de carregamento para aeronave vendida para Líder Aviação

Como são as aeronaves

O ALIA 250 utiliza um sistema de propulsão com quatro rotores verticais independentes e uma hélice horizontal. Essa configuração evita o uso do sistema tilt-rotor, que permite mudança de orientação das hélices durante o voo, mas é considerado mais complexo tecnicamente.

A aeronave promete operação sem emissões diretas de carbono por ser totalmente elétrica. O sistema de carregamento foi projetado para ser compatível com a infraestrutura elétrica existente em aeroportos brasileiros, o que pode facilitar sua implementação.

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O cockpit do ALIA 250 possui dois assentos, uma característica que pode simplificar o treinamento de pilotos e as operações iniciais. A presença de um segundo piloto ou instrutor durante os voos pode contribuir para a segurança durante a fase de introdução da tecnologia.

“O CTOL tem uma envergadura de asa de aproximadamente 15 metros. O volume de cabine é o maior volume de todos os eVTOLs e CTOLs que são vistos no mercado. Estamos falando de 5,7 metros cúbicos”, explicou Markiewicz.

Em termos de ocupantes, o ALIA 250 comporta um piloto mais cinco passageiros ou dois pilotos mais quatro passageiros. O tempo de recarga das baterias é de menos de 50 minutos para uma carga total. Para cargas parciais, são necessários de 20 a 30 minutos.

Sobre o design da aeronave, a inspiração veio da aerodinâmica da andorinha do Ártico, um pássaro migratório que voa até 70 mil km por ano e que cruza o planeta, do Ártico à Antártida, segundo o executivo.

“É o pássaro que voa mais longe. Ele passa dois verões por ano: no Ártico e depois ele voa até a Antártida”, disse o diretor da Líder.

A companhia estuda diferentes aplicações para as aeronaves elétricas no mercado brasileiro. Entre as possibilidades estão voos shuttle entre aeroportos, rotas urbanas e regionais, transporte aeromédico, entrega de cargas e voos corporativos sob demanda.

A empresa posiciona os eVTOLs como complementares à frota de helicópteros e aviões convencionais, o que destaca o potencial para abrir novas rotas com custo operacional reduzido. O foco principal seria o mercado urbano, em que questões de ruído e poluição são mais sensíveis.

Início previsto para 2028

O mercado de mobilidade aérea urbana está em desenvolvimento no Brasil e em outros países.

Questões regulatórias, infraestrutura de carregamento e aceitação pública são alguns dos desafios que as empresas do setor precisam enfrentar antes da operação comercial.

A parceria prevê treinamento de pilotos e equipes técnicas, inicialmente em outros países em que a Beta Technologies já opera.

Posteriormente, essa capacitação seria transferida para o Brasil, para criar competência local para operar e manter as aeronaves.

Patrick Buckles, head de vendas da Beta Technologies, destacou no evento a tradição do Brasil no transporte aéreo e a importância da parceria com a Líder Aviação para desenvolver o mercado de aeronaves elétricas.

“Desde 2017, quando a Beta foi fundada, nossa missão foi proporcionar transporte seguro, econômico e sustentável para as pessoas em todo o mundo. Acreditamos que a aviação elétrica é a ferramenta perfeita para tornar isso uma realidade”, afirmou Buckles.

A BetaTechnologies possui uma carteira diversificada de clientes, que inclui nomes como a Amazon, a Air New Zealand, a United Therapeutics, que usará as aeronaves para transporte de órgãos, e a UPS, além de contratos com o Exército dos EUA e outras empresas de mobilidade aérea.

A Líder Aviação é considerada a maior empresa de aviação executiva da América Latina, com 66 anos de operação e mais de 1.350 funcionários. A empresa possui frota de mais de 50 aeronaves e atua em diferentes segmentos, incluindo fretamento, gerenciamento, vendas e manutenção.

A companhia mantém presença em 22 bases operacionais nos principais aeroportos brasileiros.

Além da aviação executiva, atua em serviços aeroportuários e em operações de helicópteros para a indústria de petróleo e gás, além de serviços relacionados.

Desafios técnicos e regulatórios

O movimento da Líder reflete uma tendência global de empresas de aviação que buscam diversificar suas operações com tecnologias consideradas mais sustentáveis.

No entanto o mercado de aeronaves elétricas ainda enfrenta desafios técnicos e regulatórios significativos.

A autonomia limitada das baterias atuais restringe o alcance das aeronaves elétricas, o que as torna mais adequadas para voos curtos.

O tempo de carregamento e a disponibilidade de infraestrutura adequada também são fatores que podem impactar a viabilidade operacional.

O setor de aviação elétrica tem atraído investimentos nos últimos anos, mas ainda precisa provar sua viabilidade comercial em larga escala.

Diferentes empresas ao redor do mundo estão desenvolvendo tecnologias similares, o que deve criar um ambiente competitivo no setor.

A Beta Technologies compete com outras fabricantes como a brasileira Eve, que é controlada pela Embraer, a Joby Aviation, a Lilium e a EHang no desenvolvimento de aeronaves elétricas.

Cada empresa adota abordagens técnicas diferentes, e o mercado ainda está em fase de compreensão para saber quais tecnologias serão mais bem-sucedidas comercialmente.

O anúncio da parceria ocorre um dia antes do início da Labace 2025, feira de aviação executiva que acontece em São Paulo.

O evento será uma oportunidade para a Líder apresentar as especificações técnicas dos modelos e as estratégias para implementação no mercado brasileiro.

A entrada da aviação elétrica no Brasil dependerá não apenas do desenvolvimento tecnológico mas também da adaptação do ambiente regulatório e da criação de infraestrutura adequada. O sucesso dessa iniciativa pode influenciar o desenvolvimento de um novo segmento na aviação nacional.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.