Bloomberg — Investidores estão em alerta enquanto as reservas de caixa da Braskem Idesa encolhem às vésperas do pagamento de um cupom, alimentando temores de mais uma perda com títulos corporativos na América Latina.
Um relatório de resultados trimestrais divulgado na terça-feira (11) mostrou que a empresa tinha apenas US$ 46 milhões em caixa no fim de setembro — menos da metade do valor registrado em junho.
A companhia precisa desembolsar US$ 33,5 milhões até segunda-feira para honrar o pagamento do cupom.
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Mesmo antes da divulgação dos resultados — feita enquanto os mercados de títulos dos Estados Unidos praticamente não operavam devido ao feriado do Veterans Day —, as preocupações com a liquidez já vinham pressionando os papéis da empresa.
Os títulos da Idesa acumularam queda de 7% nos cinco pregões até segunda-feira, um dos piores desempenhos entre mercados emergentes. Os papéis com vencimento em 2029 estão sendo negociados em torno de 60 centavos de dólar, com rendimento de cerca de 24%.
Segundo o analista Arturo Galindo, da BCP Securities, a dívida deveria estar sendo negociada entre 35 e 40 centavos de dólar, com base em fatores como os níveis de caixa e o endividamento da empresa, e em linha com sua controladora, a Braskem (BRKM5).
“Existe a possibilidade de eles não pagarem”, disse Galindo. “O risco de calote ainda não está totalmente precificado.”
A Braskem Idesa vem consumindo suas reservas ao longo do último ano, enfrentando uma combinação difícil de custos mais altos de insumos e queda acentuada na demanda.
Os resultados mais recentes mostraram que a alavancagem da empresa saltou para 25 vezes o lucro no fim de setembro — mais que o dobro do registrado no trimestre anterior.
A deterioração do caixa e o aumento do endividamento explicam por que a companhia contratou assessores financeiros em agosto para revisar sua estrutura de capital e suas condições de liquidez, o que provocou uma queda de 15 centavos nos títulos desde então.
Os detentores de títulos já começaram a trabalhar com a consultoria Houlihan Lokey em preparação para possíveis negociações de reestruturação.
Um eventual calote da Braskem Idesa poderia abalar ainda mais os investidores latino-americanos, que já enfrentam uma sequência de crises corporativas — inclusive na própria Braskem, sua controladora. A empresa teria um período de carência de cinco dias para realizar o pagamento.
Ainda assim, há quem veja alguma esperança para a Braskem Idesa. A companhia, que produz polietileno em uma única planta em Veracruz, no México, tem como acionista minoritário o Grupo Idesa, controlado majoritariamente pelo bilionário Carlos Slim.
Com o esvaziamento das reservas de caixa, surgiram especulações no mercado de que Slim estaria comprando os títulos da empresa por meio do Grupo Financiero Inbursa, com o objetivo de convertê-los posteriormente em uma participação maior no negócio.
Na terça-feira (11), o CEO da Braskem, Roberto Ramos, afirmou que o nível de endividamento da unidade deve melhorar no próximo trimestre — comentário que alguns interpretaram como um indício de que novos recursos podem estar a caminho.
“Se for verdade que a Inbursa de Carlos Slim adquiriu cerca de US$ 600 milhões em títulos no mercado secundário, podemos esperar uma solução viável relativamente rápido”, disse Roger Horn, estrategista sênior de mercados emergentes da Mariva Capital Markets.
“Com a Inbursa no comando, o pagamento do cupom pode servir como catalisador para avançar rumo a uma solução.”
Representantes da Inbursa e da Braskem preferiram não comentar, e a Braskem Idesa não respondeu aos pedidos de declaração.
O aumento da alavancagem da Braskem Idesa reflete um período em que a planta ficou parada por dois meses e meio e a empresa também enfrentou problemas no fornecimento de etano pela Pemex, explicou Ramos a jornalistas, acrescentando que a produção e o lucro antes de itens não recorrentes devem crescer nos próximos meses.
“Vocês estão vendo um retrato momentâneo — eu convidaria a assistir ao filme inteiro”, disse Ramos.
A Braskem, por sua vez, viu sua própria alavancagem subir para quase 15 vezes o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) em setembro — ante 10,6 vezes no trimestre anterior.
A companhia também tem enfrentado anos difíceis após o desastre ambiental que lhe custou o grau de investimento, a fraqueza dos preços por causa do excesso de oferta e uma série de tentativas fracassadas da Novonor (ex-Odebrecht) de vender sua participação a um comprador com mais fôlego financeiro.
Segundo a Bloomberg News, a Novonor está próxima de fechar um acordo com credores para vender sua fatia de controle na Braskem a um fundo administrado pela gestora IG4 Capital.
A empresa também utilizou uma linha de crédito de US$ 1 bilhão para atravessar um período de incerteza no mercado. Na terça-feira, a Novonor afirmou que não houve “avanço relevante” nas negociações para uma possível venda.
“O mercado pode estar subestimando a importância da Braskem Idesa, dada toda a atenção à dívida da Braskem, mas é uma história de crédito relevante por si só”, disse Horn.
-- Com a colaboração de Rachel Gamarski.
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