Bloomberg Línea — O Santander Brasil (SANB11) apresentou resultados um pouco abaixo do esperado para o segundo trimestre, marcado por um cenário macroeconômico apontado como “desafiador” que afetou a carteira de crédito e elevou as provisões.
Ainda assim, a expectativa do CEO, Mario Leão, é que o cenário seja mais benigno nos próximos meses.
No crédito, um dos principais pontos de atenção foi a carteira de grandes empresas, afetada pelas incertezas sobre o aumento das alíquotas do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) e por efeitos cambiais.
O segmento teve retração de 5,8% na comparação trimestral e de 13% em 12 meses – a maior baixa entre as carteiras do banco.
O IOF mais alto impactaria o Santander em particular nas operações de risco sacado, em que o banco antecipa o pagamento a fornecedores com base na expectativa de pagamento da empresa compradora.
Decisão recente do STF excluiu o risco sacado da cobrança de imposto decretada pelo governo, mas, durante o período de incerteza sobre a tributação, a procura por esse tipo de operação recuou de forma expressiva.
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“Tivemos uma retração brutal da demanda”, disse o CEO em entrevista coletiva com jornalistas na manhã desta quarta-feira (30).
O Santander não abre números específicos, mas se considera um player relevante nas operações de risco sacado. E disse já verificar uma retomada nos dados de julho.
“Com o impulso que já estamos vendo, deveríamos ter uma recuperação, se não integral, já material no terceiro trimestre”, disse Leão.
Ainda assim, o cenário segue desafiador.
O custo de crédito para empresas permanece elevado – com juros básicos de 15% ao ano, o que, somado aos spreads bancários, empurra as taxas para até 25% anuais nos cálculos de Leão.
“Não é que as empresas vão deixar de se financiar, mas o custo está mais caro, o que afeta a capacidade de financiamento na margem”, avaliou.
Provisões para o agro
O ambiente macroeconômico desafiador teve ainda impacto nas provisões do banco – um dos maiores pontos de atenção do balanço.
As provisões para devedores duvidosos (PDD) saltaram 16,4% em 12 meses e 7,4% frente ao primeiro trimestre, para R$ 6,862 bilhões.
Um dos segmentos de maior ponto de atenção é o agronegócio, que representa cerca de 10% da carteira de crédito do banco.
Leão disse avaliar que o Santander atravessa o momento mais duro do ciclo de crédito no agro, que vem de uma série de recuperações judiciais após queda nos preços de commodities relevantes, como soja e milho, no ano passado.
Por outro lado, com a retomada dos preços e dos volumes nas novas safras, é uma questão de tempo até que o setor volte aos eixos, o que deve acontecer entre este ano e a metade de 2026, nas avaliações do Santander.
Segundo Leão, o patamar das provisões deve passar por uma “acomodação”, enquanto os setores mais críticos se recuperam.
“Não esperamos que as provisões continuem a se deteriorar em agro e corporate para sempre. Estamos antecipando o provisionamento, o que torna o que sobra do portfólio bem mais saudável.”
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Provisionamento do Grupo Santander
Em sua divulgação de resultados global, o Grupo Santander afirmou ter feito um provisionamento de € 467 milhões para fortalecer o balanço patrimonial em vista do que apontou como deterioração do cenário macroeconômico no Brasil. Esse dado ofuscou o lucro recorde da matriz.
Segundo o CEO da divisão brasileira, trata-se de um movimento contábil relacionado à convergência entre padrões internacionais (IFRS-9) e a Resolução 4966, emitida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e adotada no Brasil.
“Esse reforço não afeta a contabilidade local, porque aqui já havíamos adotado práticas mais conservadoras”, disse Leão.
O CEO reforçou que se tratou de um movimento pontual, que harmoniza o balanço do grupo com as provisões já adotadas no Brasil.
As units do Santander Brasil (SANB11) recuavam 0,30% nesta quarta por volta das 13h30. Já as ações do Santander global (SAN) caíam 1,12% na NYSE.
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