Grupo Toky: bastidores da assembleia que rejeitou excluir a cláusula de poison pill

Maioria dos acionistas rejeita proposta da alemã Home24, enquanto juiz suspende deliberações de assembleia. Mobly considera placar uma vitória na disputa de controle com família fundadora da Tok&Stok, disse fonte à Bloomberg Línea

Mobly e Tok&Stok estão entre as maiores empresas de móveis e decoração do Brasil, com atuação mais destacada em canais digitais e em lojas físicas, respectivamente (Foto: Montagem/Divulgação)
30 de Abril, 2025 | 06:35 PM

Bloomberg Línea — A disputa pelo controle do Grupo Toky, empresa resultante da fusão da Mobly (MBLY3) com a Tok&Stok, ganhou um novo capítulo nesta quarta-feira (30) com a realização da Assembleia Geral Ordinária e Extraordinária (AGOE).

A maioria dos acionistas rejeitou a proposta da alemã Home24, dona de 44,38% do capital, de retirada da cláusula de proteção aos minoritários (poison pill) em uma potencial OPA (oferta pública de aquisição de ações) anunciada no dia 28 de março.

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A família francesa Dubrule, fundadora da Tok&Stok, condicionava a realização da oferta à exclusão dessa cláusula, mas o preço indicado (R$ 0,68 por papel) no edital da OPA foi avaliado como desfavorável pela maioria dos acionistas.

O valor estava aquém da cotação (R$ 1,09) de fechamento da última terça-feira (29) e, principalmente, do que é previsto em outras cláusulas do estatuto da companhia para casos de tentativas de aquisição. Segundo um dos critérios, o valor proposta embutia um desconto de cerca de 85%.

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Incluindo a cláusula de poison pill, o valor justo da OPA seria de R$ 5 por ação.

Por maioria dos votos (52,32%), os acionistas rejeitaram a proposta da companhia alemã, que é controlada pelo grupo austríaco XXXLutz.

Na prática, essencialmente o grupo alemão - que deveria, na verdade, ter se declarado impedido de votar por conflito de interesse, segundo assessores financeiros contratados pelo conselho do Toky - e uma fração dos minoritários votaram pela exclusão da poison pill.

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O placar da Assembleia Geral Ordinária e Extraordinária foi considerado uma “vitória” pelo grupo fundador da Mobly, segundo uma pessoa ouvida pela Bloomberg Línea, que pediu para não ser identificada ao tratar de assuntos privados.

Durante a votação, iniciada às 9h da manhã, os acionistas foram surpreendidos por uma decisão judicial que suspendeu os efeitos das deliberações.

“Levando-se em conta a complexidade do caso, o grande número de documentos juntados e a recente apresentação de contestação (sem prejuízo daquela que ainda será apresentada pela Home24), é necessário maior prazo para análise de tutela de urgência”, escreveu o juiz André Salomon Tudisco, em liminar da 1ª Vara Empresarial e Conflitos de arbitragem, do Tribunal de Justiça de São Paulo.

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O magistrado determinou, no entanto, a manutenção da assembleia “até a nova decisão a ser proferida nos próximos dias”.

As ações da Mobly subiram ao longo do dia e chegaram a alcançar uma máxima de R$ 1,14. Mas fecharam em queda de 2,75%, a R$ 1,06.

O quórum da assembleia, que alcançou o equivalente a 93% das ações da companhia, foi um sinal de que a proposta da Home24 mobilizou a atenção dos acionistas, que expressaram sua rejeição ao risco de “destruição de valor” proposta na OPA, avaliou uma pessoa ligada à administração da Mobly.

Leia mais: Disputa entre fundadores da Tok&Stok e Mobly amplia incerteza sobre controle do grupo

A família fundadora da Tok&Stok, com Régis e Ghislaine Dubrule, não se manifestou publicamente sobre a votação da assembleia e a decisão judicial.

Eles sempre se posicionaram contra a fusão com a Mobly e buscam retomar o controle acionário da Tok&Stok - agora por meio do Grupo Toky.

Nos últimos dias, a disputa chegou à esfera judicial e regulatória com a divulgação de e-mails entre a família Dubrule, advogados e executivos da Home24 e da XXXLutz sobre um alegado acordo prévio para a aquisição das ações.

Assessores financeiros da Mobly trataram as mensagens como um prova de “conluio” e de “manipulação de mercado” com finalidade de prejudicar os minoritários e assumir o comando do Grupo Toky.

Por outro lado, uma pessoa ligada à família disse, também sob anonimato, que a OPA não configura uma oferta hostil e que o teor dos emails divulgados teria sido alterado.

O caso foi informado à CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e ao Ministério Público e à Justiça. A Home24 não se pronunciou sobre esse caso.

Próximos passos

Na próxima segunda-feira (5), a “novela” deve evoluir na CVM, com o fim do prazo para a Home24 se manifestar sobre os questionamentos à OPA, como as justificativas para a proposta de retirada da cláusula de poison pill e o racional econômico da oferta e o due diligence, segundo a pessoa ouvida pela reportagem.

Essa fase faz parte da tentativa da Mobly de cancelar a OPA.

Em seguida, até o dia 15 de maio, a CVM deve se manifestar sobre o cancelamento ou não da OPA, de acordo com a pessoa.

O BTG Pactual (BPAC11) é o banco responsável pelas informações da OPA, contratado pela família Dubrule, segundo essa pessoa.

Na Mobly, a expectativa é que a família Dubrule desista da OPA, diante da avaliação de que o placar da assembleia contra a proposta da Home24 “sepulta” a oferta e que dificilmente, haveria “bala na agulha” ou mesmo disposição dos fundadores da Tok&Stok para elevar o preço da oferta a R$ 5, valor considerado justo pelos assessores financeiros da Mobly.

Com esse preço por ação e a cláusula da poison pill, uma oferta por 100% do capital poderia superar R$ 610 milhões.

Após a votação, a defesa da Mobly seguiu com o posicionamento de manter a queixa criminal no Ministério Público com base no que classificam de “indícios de manipulação do mercado”, citando como provas documentais as conversas dos e-mails corporativos.

A avaliação na Mobly é que houve “indícios de fraude contra os acionistas e tentativa de tirar vantagem em cima dos minoritários” e que a exposição do caso criou uma “ruptura relevante” nas relações entre a administração do grupo e a família Dubrule, além de um “dano reputacional” para a companhia.

Já uma pessoa ligada aos fundadores da Tok&Stok relatou que a Mobly estaria promovendo uma campanha de difamação contra a família Dubrule, distorcendo informações e interpretações sobre as regras de uma OPA com o intuito de inviabilizar a oferta dos Dubrule e futuramente adquirir a fatia da Home24.

A família fundadora ainda alimentaria esperança de que a Justiça decida anular definitivamente as deliberações da assembleia de hoje, segundo a pessoa.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.