Grupo de Goiás quer liderar multipropriedade no país e lançar R$ 1 bi em VGV por ano

GAV Resorts chega a R$ 7,5 bilhões em valor geral de vendas acumulado e prevê novos empreendimentos, em estados do Nordeste ao Sul, contou o CEO Manoel Pereira Neto a jornalistas; ‘esse mercado está só começando’

Porto Alto Resort, da GAV Resorts
11 de Agosto, 2025 | 09:04 AM

Bloomberg Línea — Com cinco hotéis em operação e outros oito em fase de lançamento ou construção, a GAV Resorts quer se posicionar como líder do mercado de multipropriedade no Brasil.

O modelo envolve a venda de cotas do imóvel – nesse caso o quarto de hotel –, em que cada dono tem direito de uso por um período específico.

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“É um negócio que está só começando no Brasil. Temos R$ 7,5 bilhões em valor geral de vendas (VGV) acumulado e pretendemos lançar, no mínimo, R$ 1 bilhão em VGV anualmente pelos próximos três a quatro anos”, afirmou Manoel Pereira Neto, CEO da GAV Resorts, em entrevista a jornalistas.

A companhia que tem sede em Goiânia começou a operar em 2014, no Pará, estado em que os cinco sócios já tocavam outros negócios.

A cidade escolhida para iniciar as operações foi Salinópolis, conhecida como Salinas – município praiano a quatro horas de carro da capital Belém. Até 2020, a GAV operava apenas um resort e tinha outros dois em construção, todos em Salinas.

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No período pós-pandemia, a busca pelo turismo impulsionou os negócios da companhia, que acelerou e lançou dez empreendimentos nos últimos cinco anos.

O primeiro lançado fora do Pará foi em Porto de Galinhas, tradicional destino de férias em Pernambuco.

Foi o ponto de virada na trajetória da GAV: a demanda foi tão grande que a incorporadora decidiu construir um resort no terreno vizinho ao primeiro com mais que o dobro da capacidade: 990 quartos, versus 395.

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“Chegamos no lugar certo, na hora certa. Cerca de 85% do crescimento da GAV veio depois desse empreendimento”, contou.

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Além do fato de o Nordeste ser um dos principais destinos do turismo brasileiro, outro ponto que chama a atenção dos possíveis clientes, segundo ele, é a possibilidade de visitar a operação de um resort já em funcionamento.

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O primeiro empreendimento de Porto de Galinhas tem uma área de vendas dentro do resort, com vista para o mar.

O pipeline inclui ainda outros três resorts no Nordeste, em Jericoacoara (Ceará), Maragogi (Alagoas) e Barra de São Miguel (Alagoas). Além deles, mais um empreendimento está em construção em Salinas, no Pará.

O Centro-Oeste ganhou um hotel recém-inaugurado em Pirenópolis (Goiás), o primeiro no estado natal da GAV. No Sul, o foco é a cidade de Gramado (Rio Grande do Sul) que deve receber dois resorts da GAV entre 2026 e 2027.

“Queremos estar em todas as regiões do Brasil, inclusive no Sudeste no futuro”, disse o CEO.

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‘Nova fase’ da multipropriedade

A fase de expansão da GAV contrasta com o momento do setor, que ainda não se recuperou das baixas causadas pelo isolamento social na pandemia.

Um dos casos mais emblemáticos é o do Grupo Gramado Parks, que entrou em recuperação judicial em 2023 citando efeitos negativos da covid.

O WAM Group, um dos pioneiros do segmento com grande atuação em Caldas Novas (Goiás), também foi afetado e enfrentou uma reestruturação em 2023, com os sócios-fundadores deixando o comando da empresa.

Sem citar nenhum concorrente diretamente, Pereira Neto disse avaliar que houve um erro de produto entre os primeiros empreendimentos do segmento, em que muitos eram “de baixo padrão, ainda que vendidos como resort”.

“Todo novo mercado passa por adaptações. Tivemos uma crise entre 2014 e 2015 que ‘peneirou’ boa parte das empresas do mercado de loteamento, por exemplo. Acredito que a multipropriedade passa pelo mesmo processo”.

O objetivo, segundo o CEO, é se tornar a empresa líder em uma nova fase da multipropriedade no Brasil, subindo a barra para a concorrência.

“Hoje, com essa expansão da GAV, uma nova empresa não entra nesse mercado se não for para entregar um produto de qualidade.”

Os resorts da GAV tem quartos que acomodam de quatro a seis pessoas, com cotas que possibilitam o uso de uma a duas semanas por ano.

Ao dividir o uso e os custos do imóvel entre vários donos, a expectativa é que o formato reduza o custo de acesso ao turismo de segunda residência e também as preocupações de gestão e manutenção do patrimônio.

O perfil médio de cliente da empresa é o da classe média alta, com renda em torno de R$ 15.000, e focado em quem compra para lazer – a mentalidade de investimento fica em segundo plano.

A valor médio de uma cota no novo empreendimento de Porto de Galinhas é de R$ 75.237.

A proposta é oferecer uma experiência de alto padrão em hotelaria, com amenidades que variam a cada unidade, mas podem incluir piscina aquecida, spa, sauna, quadras de tênis e restaurantes temáticos.

“Queremos oferecer um produto de padrão cada vez mais alto para o mesmo cliente [de classe média alta]. É um jeito de organizar o mercado: todo mundo sobe a régua para competir com você. É o que faz o sucesso do negócio.”

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Embora a hotelaria seja um pilar fundamental da operação, o CEO reforçou que o foco do negócio é o ramo imobiliário.

“Se for necessário operar com prejuízo em alimentos e bebidas para garantir a melhor experiência, tudo bem. Não visamos lucro fora do imobiliário: o resto é sustentação para o negócio crescer”, afirmou o executivo.

Pereira Neto defendeu ainda a sua visão de que a multipropriedade será uma alternativa para a indústria de hotéis.

“O custo Brasil é muito caro, e, com a multipropriedade, nós realizamos a expansão com o dinheiro da compra do cliente. Acaba sendo vantajoso para as redes hoteleiras”, afirmou.

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Beatriz Quesada

Jornalista especializada na cobertura econômica. Formada pela USP, escreve sobre mercados, negócios e setor imobiliário. Tem passagens por Exame, Capital Aberto e BandNews FM.