Goldman corta preço-alvo da Hapvida. Razão? Alta de doenças respiratórias

Operadora de saúde deve reportar aumento de 2,7 pontos percentuais em indicador de sinistralidade no segundo trimestre devido à maior frequência de beneficiários em procedimentos médicos, segundo relatório enviado a clientes

Operadora de saúde com modelo verticalizado deve registrar piora na sinistralidade no segundo trimestre, segundo analistas do Goldman
17 de Julho, 2025 | 04:16 PM

Bloomberg Línea — Uma nova onda de doenças respiratórias no Brasil nestes meses de inverno tem ampliado a frequência do uso de serviços de saúde por clientes de operadoras, o que tende a pressionar as despesas com atendimentos.

A alta do índice de sinistralidade deve, por sua vez, conter os resultados das operadoras de saúde no segundo semestre, alertaram analistas.

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É o caso da equipe de equity research do Goldman Sachs que cortou o preço-alvo da ação da Hapvida (HAPV3), citando a observação de maior incidência de doenças sazonais no inverno, como problemas respiratórios, que elevam a demanda por atendimentos médicos.

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Em cidades populosas, como o Rio de Janeiro, há relatos de aumento no número de casos de covid e de infecções respiratórias.

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Autoridades de saúde já confirmaram que uma nova variante (XFG) do vírus causador da covid circula na capital do Rio, mas sem sinais de gravidade nem impacto na eficácia de vacinas e antigripais, segundo notícia na Agência Brasil na última quarta-feira (16), citando o Instituto Oswaldo Cruz como fonte.

Embora tenha mantido a recomendação de compra para o papel, os analistas do Goldman Sachs reduziram o preço-alvo em 6% - para R$ 59 - em 12 meses, segundo relatório assinado por Gustavo Miele, divulgado nesta quarta-feira (17).

O papel fechou negociado a R$ 33,50 na quarta-feira (16), o que indica ainda um upside relevante.

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“Nossas verificações indicam alto volume de frequência sazonal relacionada ao inverno em junho — que traz procedimentos de maior complexidade do que os casos de dengue observados no ano passado, por exemplo", escreveu o analista do Goldman Sachs.

Miele projetou a continuidade na elevação do indicador MLR (Medical Loss Ratio, Taxa de Sinistralidade), que mede o percentual dos custos assistenciais de um plano de saúde em relação às receitas geradas por ele.

A métrica é importante porque mostra o quanto do dinheiro arrecadado é efetivamente utilizado para cobrir despesas médicas.

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“Projetamos um aumento de 270 pontos-base na MLR [sinistralidade caixa] no segundo trimestre de 2025 (atingindo 71,4%), refletindo uma sazonalidade mais branda devido à maior frequência de procedimentos nesse período”, escreveu o analista.

No primeiro trimestre, a sinistralidade caixa, que reflete o custo assistencial efetivo, já havia registrado 68,6%, um aumento de 0,7 ponto percentual, tanto na comparação anual quanto em relação ao trimestre anterior.

Caso confirmada a MLR no patamar de 71,4% no segundo trimestre, isso significa que a deterioração trimestral será apenas um pouco acima da média pré-pandemia (2017–2019), destacou o analista.

A base de comparação entre a sinistralidade no primeiro e o segundo trimestre também influenciou a projeção do Goldman Sachs para o resultado da Hapvida. Entre janeiro e março, a frequência dos procedimentos médicos ficou abaixo da média para o período.

“Consideramos que a base comparativa do primeiro trimestre foi anormalmente favorável para os pagadores em geral, sustentada por baixa frequência, o que implica uma margem ligeiramente maior para deterioração da MLR no segundo trimestre”, escreveu Miele.

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Mesmo com a piora esperada para o índice de sinistralidade, o Goldman Sachs ressaltou que a Hapvida apresenta uma dinâmica de tíquete relativamente saudável, com estimativa de crescimento de 8% na comparação anual.

O banco projeta um lucro líquido ajustado de R$ 1,827 bilhão para o Hapvida em 2025.

O analista chamou atenção, no entanto, para as provisões provenientes de ações judiciais e redução de beneficiários diante de um cenário competitivo desafiador.

O relatório apontou expectativa de redução de 31.000 beneficiários no segundo trimestre, depois da perda de 54,8 mil no primeiro trimestre.

“Como tem ocorrido nos últimos trimestres, ainda acreditamos que os investidores irão priorizar evidências de uma moderação dos impactos sobre a companhia decorrentes da alta judicialização do setor”, observou Miele.

A Hapvida possui 87 hospitais, 77 prontos atendimentos, 341 clínicas médicas e 291 centros de diagnóstico por imagem e coleta laboratorial.

As ações da Hapvida acumulavam desvalorização de 45% em 12 meses, mas ensaiam uma recuperação com uma alta acumulada de 3% em 2025.

O resultado do segundo trimestre da Hapvida tem divulgação prevista para o próximo dia 3 de agosto após o fechamento do mercado.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.