Gigante de energia francesa avalia que demanda em alta sustentará o preço do petróleo

Em entrevista à Bloomberg TV, Patrick Pouyanne, CEO da TotalEnergies, disse esperar que o mercado se estabilize à medida que produtores dos EUA e da Opep atuem para evitar o agravamento do excesso de oferta

TotalEnergies: grupo francês de energia decidiu no início deste ano reduzir investimentos para se adaptar a preços mais baixos. (Foto: Benjamin Girette/Bloomberg)
Por Francois de Beaupuy - Nayla Razzouk - Francine Lacqua
17 de Dezembro, 2025 | 05:10 PM

Bloomberg — O CEO da TotalEnergies, Patrick Pouyanné, avalia que o aumento da demanda por petróleo ajudará a sustentar os preços, apesar da queda recente provocada por preocupações crescentes com um excedente global.

O petróleo caminha para registrar perda no ano, com a oferta projetada para superar a demanda tanto neste ano quanto no próximo, graças ao crescimento da produção da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e de diversos países não membros nas Américas, incluindo o Brasil.

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Na terça-feira (16), os preços de referência do petróleo em Londres e Nova York fecharam nos níveis mais baixos em quase meio século.

Ainda assim, Pouyanné espera que o mercado se estabilize à medida que produtores dos Estados Unidos e da Opep atuem para evitar o agravamento do excesso de oferta e conforme o consumo avance.

Os preços se recuperaram na quarta-feira (17) depois que o presidente Donald Trump ordenou um bloqueio a navios petroleiros sancionados ao largo da Venezuela, enquanto a Casa Branca prepara novas medidas contra o setor de energia da Rússia caso Moscou rejeite um acordo de paz com a Ucrânia.

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“A demanda continua a crescer”, disse Pouyanné em entrevista à Bloomberg TV, em Paris, na terça-feira. “Também confio que os países da Opep saberão administrar a situação” em relação à produção, afirmou, acrescentando que produtores de xisto nos EUA reduzirão o bombeamento se os preços “ficarem muito baixos”.

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A avaliação de Pouyanné contrasta com os sinais de fraqueza que se multiplicam no mercado de petróleo. Os preços do petróleo do Oriente Médio entraram em um padrão baixista conhecido como contango no início da terça-feira, quando os contratos de curto prazo passam a ser negociados abaixo dos de vencimentos mais longos, um indicativo de excesso de oferta.

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A mesma estrutura de preços já se formou para alguns barris vendidos na Costa do Golfo dos EUA.

Patrick Pouyanné

A demanda parece frágil, com a redução dos prêmios de combustíveis como gasolina e diesel indicando consumo mais lento.

Ainda assim, Pouyanné apontou para uma perspectiva mais longa para explicar por que o mercado deve voltar a ganhar força.

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O CEO do grupo francês de energia, que decidiu no início deste ano reduzir investimentos para se adaptar a preços mais baixos, demonstrou confiança de que o petróleo deve se recuperar, já que a indústria não está investindo o suficiente em novos projetos.

Visão sobre o GNL

Já em relação ao mercado de gás natural, Pouyanné adotou um tom mais negativo. Segundo ele, os preços provavelmente cairão em 2027, quando uma onda de novos projetos de gás natural liquefeito (GNL) no Catar e nos Estados Unidos entrar em operação.

Os preços do gás na Europa têm oscilado recentemente próximos aos níveis mais baixos desde a primavera de 2024, ajudados por temperaturas amenas, oferta abundante e esforços renovados dos EUA para mediar a paz na Ucrânia.

Isso ocorre mesmo com a União Europeia prestes a impor uma proibição total às importações de GNL russo a partir de janeiro de 2027. Há tanta oferta no mundo que a BloombergNEF projeta um excedente global de GNL quando a proibição europeia ao fornecimento russo entrar em vigor.

Pouyanné disse que sua empresa deve conseguir mitigar a queda dos preços do gás após reduzir a exposição ao mercado à vista e ampliar contratos de longo prazo com compradores asiáticos.

A TotalEnergies mobiliza funcionários e contratados em seu projeto de GNL em Moçambique após interromper a construção por quatro anos devido a ataques na região.

Segundo Pouyanné, a empresa pretende iniciar a produção no fim de 2028 ou no início de 2029. O grupo também segue interessado em adquirir ativos de produção de gás nos Estados Unidos para reforçar sua posição como maior exportador de GNL americano para a Europa.

A empresa francesa tem reforçado sua presença nos EUA nos últimos anos, ao mesmo tempo em que reduziu sua atuação na Rússia. Ainda mantém vínculos com o país por meio de participações na produtora de gás Novatek e em duas plantas de GNL em território russo. Em 2022, a companhia registrou US$ 14,8 bilhões em baixas contábeis e provisões relacionadas a esses ativos, após o início da guerra na Ucrânia.

A TotalEnergies também tem exposição à Rússia por meio de uma refinaria na Holanda, que controla em conjunto com a Lukoil PJSC. A petroleira russa enfrenta sanções dos EUA, e o Tesouro americano mantém conversas com aliados da Europa ao Oriente Médio enquanto conduz o complexo processo de encerramento das operações internacionais da Lukoil.

A TotalEnergies chegou a um acordo com a Lukoil que permite à empresa francesa operar integralmente a refinaria na Holanda, disse Pouyanné à Bloomberg TV.

Caso a Lukoil acabe vendendo todas as suas operações internacionais, a TotalEnergies avaliará se exercerá o direito de comprar a participação de 45% da empresa russa na refinaria holandesa.

Se a paz entre Rússia e Ucrânia for alcançada e as sanções forem eventualmente suspensas, levará tempo para avaliar se haverá estabilidade duradoura, o que significa que a empresa não voltaria a investir na região “de forma imediata”, afirmou Pouyanné.

A Total, que no mês passado concordou em comprar participações em usinas termelétricas a gás na Europa por € 5,1 bilhões (US$ 6 bilhões), pode desacelerar aquisições se precisar preservar caixa no próximo ano, disse Pouyanné.

Ainda assim, o grupo segue avançando na diversificação para o setor elétrico, após aprovar recentemente 3 gigawatts em projetos de armazenamento em baterias na Alemanha e um investimento de US$ 1 bilhão para construir uma usina solar de 1 gigawatt no Texas.

“O mundo é grande — hoje nos deslocamos da Rússia para os Estados Unidos, e isso será mantido”, afirmou.

-- Com a colaboração de Caroline Connan.

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