Ferrero expande império do doce com aquisição da WK Kellogg e avança em cereais

Compra por US$ 3,1 bilhões, antecipada pela Bloomberg News, amplia presença da Ferrero no mercado dos Estados Unidos e reforça estratégia de diversificação para além do chocolate

Ações da WK Kellogg disparam após anúncio de aquisição pela Ferrero por US$ 3,1 bilhões, com prêmio de 31% sobre o valor de mercado.
Por Crystal Tse - Liana Baker
11 de Julho, 2025 | 08:12 AM

Bloomberg — A Ferrero concordou em adquirir a WK Kellogg por um valor de US$ 3,1 bilhões, levando a empresa familiar italiana de doces a entrar ainda mais no lucrativo mercado americano. A iminência do negócio foi noticiada pela Bloomberg News na quarta-feira (9).

A empresa pagará US$ 23 por ação da Kellogg em dinheiro, de acordo com um comunicado no fim do dia na quinta-feira (10), o que representa um prêmio de cerca de 31% em relação ao preço de fechamento da Kellogg na quarta.

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O acordo combina o fabricante da pasta de chocolate Nutella com a empresa por trás dos cereais Froot Loops e Frosted Flakes, expandindo o império de alimentos reconfortantes da Ferrero e diversificando seu portfólio de chocolates em um momento de preços mais altos do cacau.

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As ações da WK Kellogg subiram 31%, para US$ 22,87, um pouco abaixo do preço da oferta da Ferrero.

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  (Fonte: Bloomberg)

Controlada pelo bilionário discreto Giovanni Ferrero, neto dos fundadores, a empresa de confeitaria vem realizando uma série de aquisições para se expandir ainda mais nos EUA, visando marcas que muitas vezes estão na mira dos órgãos reguladores de saúde e das mudanças nas tendências de consumo.

A Ferrero, que registrou um salto de 9% nas vendas para € 18,4 bilhões (US$ 21,6 bilhões) no ano passado, comprou recentemente a fabricante de sorvetes Bomb Pops em 2022.

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A união de forças com a Kellogg dará continuidade à estratégia da Ferrero de “reunir nossas marcas conhecidas de todo o mundo com joias locais nos EUA”, disse Giovanni Ferrero no comunicado.

A Ferrero investirá e ampliará as principais marcas da Kellogg, como Frosted Flakes e Rice Krispies, e “outras que são muito apreciadas pelos consumidores americanos”.

A aquisição pela Ferrero poderia impulsionar um negócio que vem lutando para crescer desde que a Kellogg foi dividida em duas, com o negócio de lanches rebatizado de Kellanova e as marcas de cereais sob a WK Kellogg.

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Posição nos EUA

A aquisição dará à Ferrero “escala e uma posição mais forte nos EUA”, de acordo com os analistas da Bloomberg Intelligence, liderados por Jennifer Bartashus.

Embora o potencial de crescimento da Kellogg seja limitado, ela oferece “fluxo de caixa e consolidação da marca”, escreveram em uma nota de pesquisa, acrescentando que a Kellogg “tem enfrentado dificuldades com o volume fraco em um mercado de cereais norte-americano em retração”.

A Kellogg se beneficia do alcance geográfico da Ferrero, e a fabricante italiana de doces provavelmente visou a Kellogg devido à sua capacidade de gerar caixa e proporcionar uma “base de receita estável”, disse Erin Lash, diretora de pesquisa de ações de consumo da Morningstar.

Os analistas também apontaram para as outras aquisições recentes da Ferrero nos EUA, incluindo os biscoitos Keebler e Famous Amos em 2019, bem como o negócio de doces da Nestlé nos EUA em 2018.

Em maio, a Kellogg cortou o seu guidance de vendas anuais, com o CEO Gary Pilnick chamando a atenção para um “ambiente operacional desafiador”, à medida que os consumidores se afastam dos alimentos açucarados e gravitam em torno de opções mais baratas de cereais de marca própria.

A empresa espera que as vendas caiam para entre US$ 610 milhões e US$ 615 milhões no segundo trimestre, de acordo com os números preliminares divulgados na quinta-feira, abaixo dos US$ 663 milhões do primeiro trimestre.

Pilnick disse que a união com a Ferrero proporcionará à Kellogg maiores recursos e mais flexibilidade para o crescimento de suas marcas.

Battle Creek, Michigan, continuará sendo um local central para a empresa, acrescentou ele, e será a sede da Ferrero para a divisão de cereais da América do Norte.

A consolidação entre as empresas de bens de consumo tem sido uma tendência há algum tempo, já que as empresas têm enfrentado a inflação e o aumento dos custos das commodities, com os preços do cacau quase triplicando desde 2023.

Mais recentemente, a guerra tarifária do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, criou mais dores de cabeça para as empresas que geralmente operam com margens reduzidas.

A Ferrero, que também fabrica os chocolates Kinder Bueno e as balas Tic Tac, remonta sua fortuna a uma confeitaria na Itália de propriedade dos avós de Giovanni, Piera e Pietro, que usavam avelãs para esticar os limitados suprimentos de cacau.

Foi sob o comando de Michele, pai de Giovanni, que o negócio se transformou em uma potência global a partir da década de 1950.

Espera-se que a transação seja concluída no segundo semestre de 2025. O acordo foi aprovado por unanimidade pelo conselho da Kellogg.

A WK Kellogg Foundation Trust e a Gund Family concordaram em vender sua participação de 21,7% na empresa, de acordo com o comunicado.

--Com a ajuda de Daniele Lepido, Kristina Peterson, Subrat Patnaik, Katerina Petroff e Lindsay Blakely.

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