Exxon: aquisição potencial de empresa de xisto de US$ 55 bi é recado para o setor

Compra da Pioneer Natural Resources pode representar um novo marco na gigante do petróleo conhecida por grandes M&A, como foi a fusão com a Mobil

ExxonMobil sinaliza a avaliação de que espera demanda consistente por petróleo por muitos anos mais (Foto: Luke MacGregor/Bloomberg)
Por Kevin Crowley
10 de Outubro, 2023 | 06:08 AM

Bloomberg — O CEO da Exxon Mobil (XOM), Darren Woods, está prestes a seguir os passos de seus dois antecessores com uma mega aquisição que definirá sua carreira e que, para o bem ou para o mal, provavelmente transformará a gigante do petróleo.

As negociações da Exxon para comprar a Pioneer Natural Resources, uma rival dos Estados Unidos com um valor de mercado de US$ 55 bilhões, representam uma aposta estratégica fundamentada na crença de Woods de que o petróleo e o gás serão centrais para a matriz energética mundial nas próximas décadas, independentemente do caminho que a transição para um futuro com menos carbono seguir.

Mas a aposta vem com riscos. O negócio formaria uma gigante de energia focada em xisto, produzindo quase 4,5 milhões de barris equivalentes de petróleo por dia — 50% a mais do que a próxima maior supermajor — em um momento em que o mundo ainda busca formas de reduzir as emissões de gases de efeito estufa. A fusão também pode levantar preocupações antitruste.

Grandes apostas estratégicas com potencial para moldar o futuro do sistema de energia mundial têm forte precedente na Exxon, que sobreviveu a guerras, nacionalizações e protestos públicos ao longo de seus 140 anos de história.

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A bem-sucedida fusão de US$ 80 bilhões do ex-CEO Lee Raymond com a Mobil Corp. em 1999 inaugurou a era da supermajor focada na redução de custos em meio aos baixos preços do petróleo, posicionando com sucesso a empresa para o superciclo das commodities da década de 2000.

Por outro lado, a aquisição mal planejada de US$ 31 bilhões do então CEO Rex Tillerson da XTO Energy em 2010 marcou o auge da revolução inicial do gás de xisto nos EUA e antecedeu uma década de baixos retornos na indústria.

O potencial acordo com a Pioneer também definirá o mandato de Woods, que agora está em seu sexto ano.

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Embora carros elétricos, baterias e energia renovável estejam crescendo rapidamente, a demanda global por petróleo está atualmente em um recorde histórico, e a Agência Internacional de Energia espera um crescimento contínuo para 105,7 milhões de barris por dia em 2028, em comparação com cerca de 100 milhões de barris atualmente. Analistas esperam que o pico do petróleo ocorra já no início da década de 2030, mas se ele se estabilizará ou diminuirá rapidamente é incerto.

De qualquer forma, a Pioneer provavelmente será valiosa para a Exxon à medida que ela navega na transição energética.

O xisto fornece uma produção muito mais flexível, com poços entrando em operação em questão de meses, em comparação com anos para desenvolvimentos offshore (em alto-mar). A proximidade da Bacia do Permiano às refinarias da Costa do Golfo da Exxon lhe confere uma vantagem incorporada em relação aos desenvolvimentos mais arriscados no exterior.

Woods pode até mesmo conseguir fazer um argumento de baixo carbono para a compra — a Exxon planeja atingir emissões líquidas zero no Permiano até 2030 para suas próprias operações (embora não para os clientes que queimam seu petróleo e gás).

A fusão de Raymond com a Mobil também se encaixou com a época. Ela adicionou refinarias e recursos internacionais em uma era de ansiedade em relação à produção fora da Opep, a associação que reúne os maiores exportadores de petróleo. Raymond cortou custos agressivamente, impulsionou eficiências e, até 2008 — menos de uma década após o acordo -, a Exxon produziu o maior lucro de qualquer corporação dos EUA na história.

A compra de Tillerson da XTO buscou posicionar a Exxon como a principal player na revolução do gás de xisto, à medida que os EUA passaram de uma escassez de gás para uma abundância.

O problema para Tillerson foi que ele subestimou o tamanho e a velocidade da mudança na produção de gás, que rapidamente sobrecarregou a infraestrutura de dutos e a demanda interna. Isso fez com que os preços caíssem de mais de US$ 4 por milhão de unidades térmicas britânicas (BTU) na época do acordo para uma média de US$ 3 na década seguinte.

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Nos anos seguintes, ficou claro que o dinheiro real no xisto estava no petróleo - como o da Bacia do Permiano -, e não no gás.

A transação potencial com a Pioneer dificilmente sofrerá o mesmo destino, segundo Raoul LeBlanc, analista sênior da S&P Global. A produção de petróleo e gás da Pioneer está bem ligada aos mercados globais, e a Exxon já possui experiência significativa no Permiano. A empresa tinha pouca experiência em gás de xisto quando comprou a XTO e a manteve como uma divisão separada por vários anos após a aquisição.

“A XTO foi uma entrada no xisto em um momento em que as formações eram menos maduras e mais adequadas para empresas independentes dispostas a correr riscos”, disse LeBlanc em entrevista. “Este é um acordo muito diferente. É um recurso comprovado com baixo risco e muitas economias de escala.”

Como sempre, um fator-chave para o sucesso do acordo será o seu preço, que o Wall Street Journal informou que poderia ser de aproximadamente US$ 60 bilhões, citando pessoas familiarizadas com o assunto. “Isso nos parece ligeiramente baixo para uma empresa com a escala única e a qualidade de inventário detido pela Pioneer”, disse Andrew Dittmar, analista sênior da Enverus.

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A Exxon tem sido uma das ações de energia com melhor desempenho desde a pandemia, à medida que a demanda por petróleo e gás aumentou e recebeu um impulso adicional com a invasão da Rússia à Ucrânia no começo de 2022.

O valor das ações da empresa triplicou nos últimos três anos, superando a Pioneer em mais de 40 pontos percentuais, mesmo após os movimentos de sexta-feira (6). A empresa também acumulou uma posição de caixa de US$ 30 bilhões, quase 10 vezes o nível de dois anos atrás, alimentando especulações de que Woods estava formando um grande caixa.

“Quando perguntado sobre possíveis acordos em julho, Woods disse que a Exxon seria ‘exigente’, indicando que qualquer compra teria que se encaixar nas habilidades essenciais da empresa, ao contrário de uma nova jogada, como a XTO.”

“As oportunidades têm que ser maiores do que o que a Exxon Mobil ou qualquer aquisição potencial poderiam fazer independentemente uma da outra”, disse ele. “Um mais um tem que ser igual a três aqui.”

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