Exportadores temem entrave no comércio com EUA e pedem retomada de negociações

Associação dos frigoríficos (Abiec) cita impacto ao setor produtivo e encarecimento da carne aos consumidores nos EUA e pede diálogo para resolver a disputa entre os países, assim como a indústria siderúrgica (Instituto Aço Brasil)

O encarecimento de carnes ao consumidor americano pode ser um dos efeitos das tarifas de 50% dos EUA ao Brasil (Foto: George Frey/Bloomberg)
09 de Julho, 2025 | 08:51 PM

Bloomberg Línea — O anúncio de uma sobretaxa de 50% aos embarques de produtos brasileiros para os Estados Unidos a partir de agosto, feito pelo presidente Donald Trump neste fim de tarde de quarta-feira (9), feriado no estado de São Paulo, foi seguido de manifestações de apreensão dentro do setor produtivo.

Representantes de alguns setores exportadores reagiram com alertas de que o comércio entre Brasil e EUA corre o risco de ser seriamente impactado caso a medida não seja revertida e pediram a retomada do diálogo entre os governos.

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Em 2024, cinco categorias de produtos (petróleo, semiacabados de ferro e aço, ferro-gusa, café e aeronaves) representaram 40% dos cerca de US$ 40 bilhões embarcados nos portos brasileiros rumo aos EUA, segundo relatório do Banco Central sobre o comércio entre os dois países publicado no mês passado.

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O agronegócio, em particular, é um dos setores que podem ser muito afetados pela sobretaxa anunciada para vigorar a partir de 1 de agosto.

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A Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes), que reúne os maiores frigoríficos nacionais, se manifestou em nota.

“Qualquer aumento de tarifa sobre produtos brasileiros representa um entrave ao comércio internacional e impacta negativamente o setor produtivo da carne bovina”, alertou a entidade, cujos associados representam 97% das exportações de carne bovina do país e é presidida por Roberto Perosa.

A Abiec advertiu na nota sobre as potenciais consequências da aplicação de uma tarifa de 50% para os consumidores nos EUA - leia-se mais inflação - e para o abastecimento global de carne bovina, ao mesmo tempo em que também expressou abertura para negociação com as autoridades envolvidas no caso.

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“A associação segue atenta e à disposição para contribuir com o diálogo, de modo que medidas dessa natureza não gerem impactos para os setores produtivos brasileiros nem para os consumidores americanos, que recebem nossos produtos com qualidade, regularidade e preços acessíveis”.

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A entidade que reúne os frigoríficos reforçou ainda “a importância de que questões geopolíticas não se transformem em barreiras ao abastecimento global e à garantia da segurança alimentar, especialmente em um cenário que exige cooperação e estabilidade entre os países”.

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A Abiec expressou ainda disposição de contribuir com o diálogo para evitar impactos nos setores produtivos brasileiros e nos consumidores americanos que compram produtos brasileiros.

O presidente do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, lembrou que as empresas do setor siderúrgico já estão expostas a uma tarifa de 50% anunciada anteriormente por Trump, segundo o Valor Econômico. E expressou preocupação de que as novas tarifas recém-anunciadas possam prejudicar negociações que já estavam em curso, citando a dependência dos EUA a produtos importados.

Para a AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), a tarifa americana de 50% inviabiliza o comércio de manufaturas do país com EUA, e a diplomacia brasileira deve entrar em campo na tentativa de reversão da medida.

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“A tarifa máxima deixa a impressão de que o Brasil cometeu algo gravíssimo e que, por isso, está sendo penalizado. É um cenário que ultrapassa todos os limites”, disse o presidente da entidade, José Augusto de Castro, citado por O Estado de S. Paulo.

Os EUA foram o segundo maior destino das exportações de bens brasileiros, atrás da China, responsável por mais do que o dobro desse valor (US$ 94 bilhões), segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.

Isso significa que os EUA responderam por 1,9% dos embarques do país no ano passado, enquanto a China, 4,3% do total.

Por outro lado, o Brasil importou cerca de US$ 41 bilhões dos EUA (também 1,9% do total) e US$ 64 bilhões da China (2,9% das importações).

Repercussão

“A partir de 1º de agosto de 2025 aplicaremos ao Brasil uma tarifa de 50 % sobre todos os produtos brasileiros enviados aos Estados Unidos, além de quaisquer tarifas setoriais”, citou a carta assinada por Trump e enviada a Lula.

Após a divulgação da tarifa em carta enviada por Trump ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os recibos de ações de empresas brasileiras negociados nos EUA e com exposição à economia americana acentuaram perdas.

Em Nova York, o ADR da fabricante de aeronaves Embraer (ERJ) caiu 4,08%, cotado a US$ 57,20, na NYSE. Nas negociações do after hours, a queda superou 7%. Já o recibo da Petrobras (PBR) recuou 1,90%, negociado a US$ 12,88.

“Já operamos com uma carga tributária elevada no cenário doméstico. Incluir mais uma camada de custos exige revisão de margens, redesenho logístico e, em alguns casos, reposicionamento geográfico da produção”, avaliou Volney Eyng, CEO da gestora Multiplike, em nota aos clientes.

Na visão do gestor, a combinação de insegurança jurídica no ambiente interno e incertezas externas, como novas barreiras tarifárias, elevam a aversão ao risco.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.