Bloomberg Línea — As empresas de tecnologia CF Inovação, de Tony Volpon, e a Netspaces, de Andreas Blazoudakis, fecharam uma parceria para viabilizar o que apontam como a primeira bolsa do mercado imobiliário do mundo.
A joint venture, anunciada com exclusividade à Bloomberg Línea, irá resultar na criação de um ambiente de negociação semelhante a uma bolsa de valores, mas com tokens imobiliários em vez de ações ou títulos.
“Quando consolidada, a plataforma vai ser uma blockchain pública que será o maior mercado de imóveis tokenizados do mundo, em que corretores, incorporadoras e público podem acompanhar as ofertas”, afirmou o economista Tony Volpon, ex-diretor do Banco Central e sócio da CF Inovação, em entrevista à Bloomberg Línea.
A bolsa do mercado imobiliário será voltada inicialmente para imóveis na planta, que não exigem diligência prévia para tokenização.
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“São imóveis que, quando lançados, vão passar a ter uma opção extra no ambiente digital para aqueles clientes que desejarem fazer a compra tokenizada”, explicou Andreas Blazoudakis, CEO e fundador da Netspaces, em entrevista à Bloomberg Línea.
Empreendedor experiente na indústria de tecnologia do País, Blazoudakis participou da criação e da gestão de 18 startups, entre elas dois dos maiores unicórnios (como são chamadas aquelas com valuation igual ou superior a US$ 1 bilhão) do país, a Movile e o iFood.
A incorporação de ofertas das incorporadoras na plataforma deve começar a partir do próximo dia 6 de junho, durante o evento Blockchain Real Estate Summit, em que serão anunciados os primeiros 10.000 corretores e cem incorporadoras selecionadas. Na primeira fase, serão cem empreendimentos disponíveis, em um modelo sandbox.

Apesar do início controlado, a ambição é elevada. A expectativa é lançar a blockchain pública ainda neste ano e chegar a mil incorporadoras, 100 mil corretores e presença em 350 cidades brasileiras até 2026.
Além da simplificação e da redução de custos de processos, o CEO da Netspaces apontou o aumento da acessibilidade ao imóvel como um dos principais benefícios da tokenização.
“Hoje um cliente precisa, em média, de R$ 300 mil para entrar no mercado imobiliário. Via token é possível entrar com R$ 10.000, comprar um pedaço do imóvel e depois adquirir o restante”, explicou.
Segundo eles, o mercado tokenizado traz ainda nova opção de flexibilidade. É possível, por exemplo, negociar com o banco a retomada de parte do dinheiro já utilizado para a compra se o cliente estiver em busca de liquidez. Nesse caso, o imóvel é usado como garantia para o empréstimo.

Um marketplace de tokens também integra a negociação de imóveis de diferentes locais. Isso porque o imóvel tokenizado não ficaria restrito a uma imobiliária local e pode ser negociado em diferentes cidades, estados, ou internacionalmente.
Na visão dos empreendedores, é um ponto que pode beneficiar também os corretores, que poderão atuar em diversos locais para além de sua base.
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Joint venture une oferta e demanda
A ambição de criar uma bolsa para o mercado imobiliário surgiu quando a CF Inovação, na qual Volpon é sócio ao lado de José Carneiro, venceu o edital para construir uma plataforma de digitalização para o órgão que regula os mais de 650 mil corretores de imóveis e imobiliárias no país.
Batizado de Colibri, o SGR (Sistema de Governança e Registro de Contratos e Documentos) é uma iniciativa do sistema Cofeci-Creci (Conselho Federal de Corretores de Imóveis e Conselho Regional de Corretores de Imóveis).
O objetivo inicial era digitalizar o mercado imobiliário, mas a CF Inovação visualizou a oportunidade de usar o sistema como primeiro passo para o lançamento de um marketplace direcionado ao setor, unindo incorporadores, corretores, imobiliárias, clientes e investidores para negociar imóveis digitalmente.
Com o Colibri-SGR, a empreitada já tinha acesso a uma ponta do mercado, os corretores. Faltava encontrar um parceiro que disponibilizasse a oferta de imóveis para, então, construir o ambiente de negociação.
A Netspaces, primeira proptech do Brasil a utilizar a tecnologia proprietária de blockchain na digitalização de imóveis, era o parceiro ideal para o projeto. A companhia já tokenizou 76 imóveis, tem atuação em 136 cidades e parceria com 15 incorporadoras.
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No final de 2024, fechou contrato de exclusividade com a Housi, startup de moradia por assinatura fundada por Alexandre Frankel, de olho em sua rede de 600 incorporadoras parceiras.
A expectativa é conectar a base da Netspaces aos corretores do Colibri-SGR, unindo oferta e demanda em novo ambiente digital.
“Em um modelo web 3.0, o mundo é descentralizado e estimula a colaboração – do contrário seríamos concorrentes. A parceria foi muito natural”, definiu Blazoudakis.
Em quatro anos de atuação, a Netspaces desenvolveu um sistema operacional considerado pioneiro, em que o token é incluído na matrícula do imóvel – diferentemente do processo convencional, em que a matrícula é tokenizada.
“[No modelo tradicional] você tokeniza as ações da empresa, não o imóvel. E eu queria tokenizar o imóvel diretamente”, explicou Blazoudakis.
O sistema da Netspaces era único no mundo, até o lançamento recente de uma solução similar em Dubai pelo departamento de propriedades do emirado árabe.
A nova bolsa do mercado imobiliário irá implementar o arcabouço tecnológico das duas empresas inicialmente para o lançamento de imóveis, mas os empreendedores já estudam uma segunda fase com opção de financiamento de obra para as incorporadoras.
“O token adquirido pressupõe um pagamento mensal do comprador pelo imóvel. Esse pagamento pode servir de garantia e ser securitizado para o financiamento da obra. Portanto o token gera a possibilidade de outros tokens”, disse Volpon.
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