Bloomberg — A Netflix (NFLX) obteve US$ 59 bilhões em financiamento com bancos para ajudar a viabilizar a compra planejada de US$ 72 bilhões da Warner Bros. Discovery (WBD), um valor que coloca o empréstimo entre os maiores já feitos nesse formato.
Wells Fargo, BNP Paribas e HSBC estão fornecendo o empréstimo-ponte sem garantias, segundo comunicado e documento divulgados nesta sexta-feira (5).
A fatia de US$ 29,5 bilhões do Wells Fargo representa o maior valor já comprometido por um único banco em uma linha de crédito-ponte para empresas com grau de investimento, num momento em que Wall Street tenta lucrar com as taxas associadas à tão aguardada retomada das fusões e aquisições.
Esse tipo de empréstimo costuma ser substituído por dívidas de longo prazo, como debêntures corporativas.
A expectativa é que o financiamento seja posteriormente trocado por até US$ 25 bilhões em títulos, vendidos a investidores institucionais, além de US$ 20 bilhões em empréstimos com liberação futura e uma linha de crédito rotativo de US$ 5 bilhões — instrumentos que geralmente permanecem nos balanços dos bancos.
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Os títulos provavelmente receberão classificação de grau de investimento, já que a Netflix possui rating A3 pela Moody’s Ratings e A pela S&P Global Ratings.
Durante anos, no início de suas operações, a empresa recorreu ao mercado de títulos de alto rendimento, mas ganhou status de blue chip em 2023, o que lhe garantiu acesso a financiamento mais barato e a uma base maior de investidores.
Um empréstimo de US$ 59 bilhões ficaria entre os maiores desse tipo. A Anheuser-Busch InBev (AB Inbev) obteve US$ 75 bilhões em empréstimos para financiar a aquisição da SABMiller em 2015, o maior crédito-ponte já registrado, segundo dados compilados pela Bloomberg.
Pelo acordo anunciado nesta sexta-feira, os acionistas da Warner Bros. receberão US$ 27,75 por ação em dinheiro e ações da Netflix, em uma operação que avalia a empresa em cerca de US$ 82,7 bilhões.
Onda de dívidas para M&A
Tanto bancos quanto investidores aguardavam com expectativa a volta das megafusões com ratings de grau de investimento ou de alto rendimento.
No segmento de dívidas especulativas, o JPMorgan Chase chamou atenção em setembro ao comprometer US$ 20 bilhões para financiar a oferta de fechamento de capital da Electronic Arts, o maior compromisso já feito por um único banco em uma aqusição alavancada.
Os empréstimos-ponte são um passo essencial para os bancos construírem relacionamento com empresas e, mais adiante, conquistarem mandatos mais lucrativos.
Um ou poucos bancos normalmente fornecem o empréstimo inicial e, depois que o negócio é anunciado, convidam outras instituições para compartilhar o risco.
Com o tempo, esses empréstimos são substituídos por títulos vendidos a investidores institucionais. A Netflix deixou de ser classificada como grau especulativo em março de 2023 e teve sua nota elevada novamente por ambas as agências. A inclusão de US$ 59 bilhões em sua dívida pode levar Moody’s e S&P a reavaliarem o rating.
“Após o fechamento, estamos comprometidos em manter um balanço robusto e nossos sólidos ratings de crédito de grau de investimento”, afirmou o diretor financeiro da Netflix, Spencer Neumann, em teleconferência realizada nesta sexta-feira.
“Esperamos que a alavancagem pro forma fique elevada no fechamento, mas temos um plano claro para reduzi-la aos níveis exigidos pelas agências dentro de dois anos após o fechamento. Embora a prioridade seja reduzir a dívida nesse período, também esperamos continuar recomprando ações.”
A Netflix espera obter entre US$ 2 bilhões e US$ 3 bilhões em economias anuais de custos até o terceiro ano após a conclusão da aquisição, disse ele.
A Warner Bros. se colocou à venda em outubro após receber interesse de vários potenciais compradores. Além da Netflix, a empresa foi cortejada por Paramount Skydance e Comcast. A Warner Bros. entrou em negociações exclusivas com a Netflix na quinta-feira (4), informou a Bloomberg News.
A disputa ficou tensa, com a Paramount acusando a Warner Bros. de conduzir um processo injusto que favoreceu a Netflix. A Netflix concordou em pagar uma multa de rescisão de US$ 5,8 bilhões caso o negócio desmorone ou não receba aprovação regulatória.
-- Com a colaboração de Ilya Banares, Janine Panzer e Rene Ismail.
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