Bloomberg Línea — Quando o empresário Gilson Schilis trabalhava em uma indústria de garrafas PET que havia fundado no início da década de 1990, ele já buscava fornecedores que atendessem à demanda de armazenamento industrial com qualidade.
Em 1994, ele buscou resolver dois problemas de uma vez: fundou uma empresa de galpões logístico-industriais, para atender à sua própria necessidade e garantir um negócio para que seus filhos pudessem tocar no futuro.
O “plano B” se tornou “plano A” quando, em meados dos anos 2000, Schilis recebeu uma proposta “irrecusável” de um grupo canadense para vender sua indústria de garrafas PET.
Com a transação concluída, o empreendedor se viu diante da dúvida entre criar um novo negócio ou transformar e acelerar a empresa de galpões.
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A decisão tomada por Schilis levou a Fulwood a acumular, hoje, 20 empreendimentos de alto padrão (“triple A”) e 880 mil metros quadrados administrados, o que a coloca entre as cinco maiores do setor no país.
Atualmente, a companhia possui 550 mil metros quadrados de terrenos prontos para construir e se prepara para criar uma gestora de fundos imobiliários.
“Meu plano era ficar na indústria. A Fulwood nasceu para ser um negócio familiar. Quando começamos, o mercado de galpões era muito informal”, disse o executivo em entrevista à Bloomberg Línea.
A Fulwood começou a despontar quando Schilis identificou uma oportunidade de construir o primeiro condomínio de galpões em Jundiaí, a cerca de 60 quilômetros da cidade de São Paulo, com um amigo que embarcou na empreitada.
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“Um executivo de Taiwan me procurou querendo alugar os galpões. A empresa era simplesmente a Foxconn”, contou sobre a principal fornecedora da Apple e da Samsung, que ocupou todo o empreendimento em Jundiaí.
Até hoje, a Foxconn é cliente da Fulwood.
O foco da empresa está principalmente no conceito de “big box”: galpões de grandes dimensões, projetados para abrigar operações logísticas de larga escala.

O executivo afirmou que, com o aumento dos custos de construção e dos terrenos desde a pandemia, diante do crescimento acelerado do e-commerce, aqueles que estavam preparado no setor acabaram ganhando market share. A Fulwood mais do que dobrou de tamanho nos últimos dez anos.
“Os aluguéis estão se corrigindo [de preços], pois estavam muito defasados. Hoje, os galpões estão sendo alugados durante a construção”, disse.
Crescimento e alavancagem
Apesar do cenário de juros e custos elevados, a Fulwood tem estoques de terrenos prontos para construção em diversas localidades consideradas estratégicas e mapeadas por um estudo interno.
As áreas de destaque ficam principalmente nos estados de São Paulo e Minas Gerais. Segundo Schilis, a empresa tem condições de atender a novas demandas em seis a sete meses.
Hoje, a companhia não tem um endividamento tão elevado, segundo o executivo, sem abrir os dados financeiros. “Nossos custos são um dos mais baixos do mercado. Olhamos com muito cuidado para os nossos números.”
A empresa planeja continua a crescer de forma acelerada, em um setor que demanda volumes de recursos elevados para executar novos projetos.
Com essa questão em mente, a Fulwood tem se preparado para criar uma gestora para estruturar seus próprios Fundos de Investimento Imobiliário (FII). “O caminho para financiar empreendimentos vai ser pelos FIIs”, contou Schilis.
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A filha do executivo, a engenheira química Mariana Schilis Viotti, tem trabalhado, entre outras frentes, na certificação necessária para atuação nesse mercado.
“Com a certificação, podemos começar a atuar no início de 2026”, disse a executiva, que trabalha na controladoria da Fulwood, na mesma entrevista.
Ao mesmo tempo, a empresa considera que fusões e aquisições podem ser um atalho. Schilis disse que a Fulwood estuda comprar duas gestoras, para que inclusive uma delas, devidamente habilitada, faça a distribuição dos papéis.
A estratégia prevê, inicialmente, um ou dois fundos, com patrimônio máximo de R$ 350 milhões. “Queremos nos tornar cobiçados com um negócio boutique, rentabilidade boa e perpetuidade”, disse Schilis.
Ele acrescentou que o objetivo é remunerar o FII independentemente do cenário. “Estamos tentando criar um caminho para dialogar com as gestoras, dentro de algo estruturado. Resolvemos assim problemas de captação e liquidez.”
Em 2021, a Fulwood pediu registro de companhia aberta na categoria A, que permite emitir e lançar ações na B3. E requisitou registro de oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês).
Mariana Schilis disse que um eventual IPO depende de uma “janela” que ainda não se abriu no país. Nesse cenário, a gestora ganha força dentro dos planos.
Processo de sucessão
Gilson Schilis disse que, se ele resolvesse deixar a Fulwood hoje, seus filhos conseguiriam tocar normalmente as operações.
Além de Mariana, Fernando Pasmanik Schilis está à frente de toda a parte comercial do negócio.
“Mas isso não vai acontecer”, afirmou o fundador.
A companhia tem assinado um “protocolo familiar”, documento que estabelece regras e diretrizes para o processo sucessório. Pelo acordo, apenas descendentes diretos – como filhos e netos – podem trabalhar na Fulwood.
No caso dos mais jovens, o membro da família precisa necessariamente assistir às reuniões de conselho periodicamente a partir dos 15 anos de idade.
“É uma empresa familiar, mas com gestão profissional”, disse o patriarca.
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