Efeitos do home office: solidão impacta Geração Z no trabalho, aponta pesquisa

Segundo levantamento, pessoas com mais de 51 anos têm duas vezes mais chances de fazer amigos no trabalho quando comparados com quem tem menos de 30 anos

Foto de ângulo superior mostrando uma escrivaninha iluminada por uma luminária de luz amarela. Tem uma pessoa trabalhando em um computador e rodeada por um laptop, um celular e outros itens de trabalho
30 de Março, 2024 | 11:43 AM

Bloomberg Línea — Muitos membros da Geração Z estão acostumados com a solidão no dia-a-dia da vida corporativa, dado que grande parte deles trabalha de casa na maioria dos dias. Alguns, inclusive, podem passar semanas sem conversar pessoalmente com outra pessoa.

Segundo uma nova pesquisa do Wall Street Journal conduzida nos Estados Unidos, pessoas com mais de 51 anos têm duas vezes mais chances de fazer amigos no trabalho quando comparadas com quem tem menos de 30 anos.

Os zoomers, como também são chamados os nascidos entre 1997 e 2010 (ou seja, no caso do mercado de trabalho, aqueles que estão na faixa hoje entre 18 e 27 anos de idade), têm amigos que foram feitos durante a faculdade ou a escola, mas, uma vez que entram na vida adulta, fazer novas amizades se torna algo mais complicado.

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Esse isolamento, segundo a McKinsey, é prejudicial também para as empresas, não apenas para a saúde mental dos funcionários - que muitas vezes são os que mais defendem a flexibilidade do home office.

Uma nova pesquisa do Health Institute da consultoria identificou seis “impulsionadores modificáveis de saúde” no local de trabalho: interação social, mentalidade e crenças, atividade produtiva, estresse, segurança econômica e sono.

“Ao melhorar a saúde dos funcionários, os empregadores poderiam adicionar trilhões de dólares à economia global e ter um impacto positivo na sociedade. Quando empregadores e funcionários trabalham juntos para melhorar os impulsionadores modificáveis da saúde, todos se beneficiam”, explicam os pesquisadores.

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Uma pessoa passa, em média, cerca de um terço da vida no trabalho (mais de 90 mil horas em uma vida) e, segundo a McKinsey, isso é um fator importante a ser levado em conta na momento de buscar ações que possam levar a melhorar a saúde mental das pessoas.

A pesquisa, realizada com base na análise de 26 aspectos relacionados à saúde mental no local de trabalho e em 30 países, mostrou que existem diferenças importantes entre os fatores no local de trabalho que levam a uma saúde considerada ruim e aqueles que levam a uma saúde tida como de qualidade.

Segundo a McKinsey, a auto eficiência do funcionário, a adaptabilidade e os sentimentos de pertencimento no trabalho foram os principais indicadores de uma boa saúde, enquanto comportamentos considerados tóxicos no local de trabalho, falta de clareza na descrição da função e conflito de papéis no trabalho foram os principais indicadores de uma saúde ruim.

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Outro estudo, feito pela Cigna em 2023, por sua vez, apontou que que 61% dos trabalhadores dos EUA se sentem solitários às vezes ou sempre. Entre os membros da Geração Z, o número sobe para 73%, com uma alta de quatro pontos percentuais em relação a 2022.

Portanto, segundo especialistas, se isolar totalmente dos colegas de trabalho, como a Geração Z tem feito, pode ter efeitos negativos a longo prazo.

Segundo a pesquisa da McKinsey, as interações sociais no trabalho influenciam fortemente a saúde e os resultados entregues. “Sentir-se conectado no trabalho está associado a uma maior inovação, ao envolvimento e à qualidade do trabalho — e isso pode ser especialmente impactante para aqueles com redes de amigos menores fora de seus empregos”, explicam os pesquisadores.

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Como melhorar a situação

Melhorar a saúde mental dos funcionários — sendo eles da Gen Z ou não — pode oferecer uma oportunidade de acréscimo de US$ 3,7 trilhões a US$ 11,7 trilhões, o que equivale a aumentar o Produto Interno Bruto (PIB) global em 4% a 12%, segundo estudos.

Para melhorar a situação, além de as empresas apoiarem seus funcionários, atitudes precisam ser tomadas pelo governo e pelos próprios empregados, segundo a McKinsey. Os trabalhadores podem, por sua vez, aproveitar os programas que a empresa oferecem e criar uma comunidade e cultura de práticas saudáveis entre os colegas.

Outro ponto citado pela McKinsey é tornar os desejos públicos para os empregadores, “como forma de responsabilizar os líderes por responder às necessidades de saúde e aspirações das forças de trabalho”. “Estes podem incluir benefícios como licença parental remunerada e apoio para familiares, que visam ajudar os funcionários a equilibrar as responsabilidades de trabalho e família enquanto cuidam de sua saúde e bem-estar geral”, apontou a pesquisa.

Nos governos, a sugestão é a criação de programas que ofereçam terapia e outros recursos psicológicos para os funcionários. Isso, segundo a McKinsey, pode “aprimorar os padrões, e a transparência poderia permitir que os funcionários fizessem escolhas informadas sobre seu emprego, ao mesmo tempo que permitiriam que os formuladores de políticas avaliassem o progresso em uma escala mais ampla”.

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Para os membros da Geração Z, por sua vez, a McKinsey afirma que eles podem “se manifestar mais ativamente sobre a vontade de ter mais interações sociais no trabalho”.

“Tornar-se uma espécie de coordenador social da equipe pode não fazer parte da descrição de trabalho de alguém, mas ainda pode ser algo que vale a pena destacar durante a temporada de avaliação de desempenho”, diz a McKinsey.

Tamires Vitorio

Jornalista formada pela FAPCOM, com experiência em mercados, economia, negócios e tecnologia. Foi repórter da EXAME e CNN e editora no Money Times.