De Hisense a Midea: marcas chinesas avançam no Brasil e provocam mudanças no varejo

Fabricantes chineses de eletrodomésticos e eletrônicos ampliam portfólio e desafiam marcas tradicionais no Brasil com foco em custo-benefício e presença em lojas físicas

Consumidores olham eletrodomésticos no estande da Midea nas Casas Bahia em São Paulo
Por Rachel Gamarski - Barbara Nascimento - Fernando Travaglini
13 de Maio, 2025 | 09:42 AM

Bloomberg — Quando Lucas Silva Ferreira precisou de um novo ar-condicionado para sua casa no calor escaldante do Rio de Janeiro em fevereiro, ele decidiu comprar um modelo chinês em vez de uma marca mais conhecida.

Ferreira pagou R$ 2,3 mil pelo novo aparelho da Hisense, em comparação com cerca de R$ 4,1 mil por um ar-condicionado similar fabricado pela sul-coreana LG.

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O modelo que ele escolheu ofereceu boa eficiência energética e mais recursos tecnológicos do que outros na mesma faixa de preço.

“Considerando o produto que eu procurava, era o melhor custo-benefício e está funcionando bem”, disse Ferreira, que tem 30 anos. “As marcas tradicionais eram muito mais caras.”

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No Brasil, os consumidores têm se interessado por produtos chineses, que por sua vez estão cada vez mais presentes nas lojas de varejo em todo o país.

Nas semanas após a eleição de Donald Trump, empresas chinesas lotaram as lojas brasileiras com eletrodomésticos e equipamentos eletrônicos. Marcas que só vendiam TVs e celulares ampliaram o leque.

Agora, Hisense, TCL e Midea expandiram sua linha de produtos para incluir itens como lava-louças, máquinas de lavar roupa e geladeiras.

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A mudança é mais uma mostra de como a guerra comercial de Trump está remodelando o cenário global do varejo.

As empresas chinesas buscam ganhar participação de mercado na América Latina, já que as tarifas elevadas nos EUA e as políticas de Trump dificultam a venda de produtos no país.

Os Estados Unidos e a China concordaram na segunda-feira (12) em reduzir temporariamente as tarifas sobre os produtos um do outro por 90 dias para ganhar tempo e chegar a um acordo mais amplo.

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A TCL, a Midea e a Hisense não responderam aos pedidos de comentário.

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Os varejistas no Brasil apostam em produtos chineses para revitalizar a demanda, afetada pelas altas taxas de juros e pela desaceleração da economia.

Preços mais baixos e maior concorrência devem ser positivos para a indústria local.

As marcas chinesas agora representam 20% dos eletrônicos e eletrodomésticos vendidos no Brasil, ante 16,5% em 2019, segundo a empresa de pesquisa NIQ. Elas competem com produtos de empresas como LG, Samsung, Electrolux, Panasonic e Brastemp.

“As empresas chinesas estão aumentando sua participação de mercado e diversificando seus portfólios de produtos ao mesmo tempo”, disse Henrique Mascarenhas, diretor de Tecnologia e Duráveis ​​da NIQ para a América Latina, em entrevista à Bloomberg News.

“Estamos entrando em um ciclo em que o Brasil é cada vez mais um player-chave.”

Chinese Electronic Brands Gain Share in Latin America

O Brasil é um alvo natural para expansão, visto que as TVs historicamente têm sido um forte mercado para as marcas chinesas.

O Brasil vende cerca de 12 milhões de televisores anualmente, tornando-se o maior mercado de eletrônicos de consumo da região, de acordo com a NIQ.

A estratégia para impulsionar as vendas no Brasil está focada em lojas físicas, em vez de vendas online, para superar a desconfiança de alguns consumidores em relação aos produtos chineses.

As marcas têm investido pesadamente em displays elaborados nas lojas para apresentar seus novos produtos. Enquanto a maioria das TVs é exibida lado a lado, em grandes prateleiras sob luz fluorescente, algumas marcas chinesas criam uma verdadeira sala de estar dentro das lojas, com sofás e iluminação confortáveis.

Para os lojistas, há um estímulo no fato de que as empresas chinesas pagam mais pelos displays e pela publicidade para que seus produtos cheguem a mais consumidores. Eles também oferecem às lojas condições mais favoráveis ​​em prazos e preços.

TVs TCL em loja da Casas Bahia

A Casas Bahia, uma das maiores redes varejistas do Brasil, afirmou à Bloomberg News que, desde 2020, a participação dos fabricantes chineses em seus negócios cresceu de 10% para 18%.

Com a chegada de novos fornecedores e produtos, a varejista espera que esse número ultrapasse 20% até o final do ano.

“Elas chegam mais agressivas em prazo e preço”, disse Gustavo Senday, analista de varejo da XP. “A implicação disso no fim do dia é potencialmente margem melhor” para os varejistas brasileiros, acrescentou.

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