Disney suspende ‘Kimmel Live’ após pressão do governo em fala sobre morte de Kirk

ABC decidiu tirar o programa Jimmy Kimmel Live! do ar por tempo indeterminado ante reação negativa a comentários que o apresentador fez sobre o assassinato do ativista republicano Charlie Kirk; agência federal ameaçou retirar licenças para operar

'Jimmy Kimmel Live!' é um dos talk-shows mais longevos da TV americana, transmitido desde 2003 (Foto: Randy Holmes/ABC via Getty Images)
Por Lucas Shaw
18 de Setembro, 2025 | 09:19 AM

Bloomberg — A rede ABC, da Disney, decidiu tirar o programa Jimmy Kimmel Live! do ar por tempo indeterminado diante da reação negativa aos comentários que o apresentador fez sobre o assassinato do ativista republicano Charlie Kirk.

A suspensão começou com a transmissão de quarta-feira, disse a Disney em um comunicado. A empresa anunciou a decisão minutos depois que a Nexstar Media, proprietária de dezenas de afiliadas da ABC TV, disse que retiraria o programa indefinidamente de suas estações devido a comentários “ofensivos e insensíveis”.

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A decisão da Disney de suspender uma de suas maiores estrelas ressalta o clima político delicado para as grandes empresas de mídia e é o exemplo mais recente da pressão do governo Trump para que elas se preocupem com os comentários de seus talentos no ar.

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No ano passado, a Disney pagou US$ 15 milhões para resolver um processo de difamação movido pelo presidente Donald Trump por causa de comentários feitos pelo apresentador George Stephanopoulos.

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Nesta semana, o presidente processou a New York Times em US$ 15 bilhões, alegando que a empresa tem uma agenda contra ele.

Kimmel, que tem sido um crítico veemente de Trump, acusou os republicanos de usarem a morte de Kirk para criticar seus oponentes.

“No fim de semana, atingimos um novo patamar com a gangue MAGA tentando caracterizar o garoto que matou Charlie Kirk como algo diferente de um deles”, disse Kimmel em seu monólogo de 15 de setembro.

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Os comentários inflamaram muitos comentaristas conservadores e trouxeram uma repreensão de membros do governo Trump.

Brendan Carr, presidente da Comissão Federal de Comunicações (FCC), disse ao apresentador de podcast Benny Johnson que ele tinha um caso forte para punir Kimmel, a ABC e a Disney. A FCC concede licenças a emissoras como a ABC e suas afiliadas.

“Esse é um problema muito, muito sério agora para a Disney”, disse Carr. “Eles têm uma licença concedida por nós da FCC, e isso traz consigo a obrigação de operar no interesse público.”

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Kimmel havia planejado abordar a reação negativa em seu programa na quarta-feira e ensaiou o programa naquela manhã, de acordo com uma pessoa com conhecimento do assunto.

Os comentários de Carr fizeram com que a Nexstar, a maior proprietária de emissoras de TV locais dos EUA, informasse à Disney que retiraria o programa do ar, de acordo com duas pessoas.

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Elas pediram para não serem identificadas para falar sobre deliberações privadas. A Disney então emitiu seu próprio comunicado dizendo que Kimmel sairia do ar.

A Nexstar tem negócios pendentes perante a FCC. O grupo busca aprovação para um acordo de US$ 6,2 bilhões para adquirir a Tegna, outra proprietária de emissoras locais, e precisa do apoio de Carr para concluir a transação.

Separadamente, a Sinclair, a maior proprietária de afiliadas da ABC, disse em um comunicado que manterá o programa de Kimmel fora do ar enquanto aguarda discussões com a rede sobre seu “compromisso com o profissionalismo e a responsabilidade”.

A emissora pediu a Kimmel que pedisse desculpas à família Kirk e fizesse uma doação à sua organização política.

A Sinclair planeja levar ao ar uma lembrança especial de Kirk durante o horário do programa de Kimmel na sexta-feira (19). A Sinclair é proprietária de 40 estações da ABC.

A Disney não deu nenhuma indicação de quando ou se o programa de Kimmel poderia retornar. A ABC planejava levar ao ar uma reprise do programa em seu lugar na noite de quarta-feira.

Kimmel apresenta seu programa desde 2003, o que o torna uma das personalidades de talk shows noturnos mais longevas da TV americana.

Ele começou sua carreira como apresentador de rádio em Seattle, depois se mudou para Tampa, Tucson e, por fim, Los Angeles. Ele reduziu sua carga de trabalho nos últimos anos, tirando o programa durante o verão. Seu contrato atual deve expirar em menos de um ano.

Em julho, a CBS anunciou que encerraria seu programa noturno apresentado por Stephen Colbert, que também é um crítico de Trump.

A rede citou os custos associados ao programa, embora sua controladora Paramount Global estivesse em busca da aprovação da FCC para sua aquisição pela Skydance Media. A aprovação foi concedida posteriormente.

A decisão da Disney aumentará a preocupação com o esforço do governo Trump para reprimir a oposição à sua agenda.

O presidente entrou em uma discussão nesta semana com o repórter da ABC Jonathan Karl, que questionou o presidente sobre os planos da procuradora-geral Pam Bondi de “perseguir o discurso de ódio”. Mais tarde, ela voltou atrás em suas observações.

“O Congresso não pode fazer nenhuma lei que demita Jimmy Kimmel por causa de uma piada, mas a ABC pode”, disse Robert Thompson, diretor do Centro Bleier de Televisão e Cultura Popular da Universidade de Syracuse, em um e-mail.

“Tenho certeza de que os comediantes que estão gravando seus programas hoje à noite não podem deixar de se sentir nervosos, dada a velocidade com que esse épico noturno está se desenrolando.”

As organizações de mídia têm lutado para encontrar a melhor forma de cobrir o assassinato de Kirk, um ativista conservador que ofendeu a muitos com seus comentários. A MSNBC demitiu o analista Matthew Dowd depois que ele sugeriu que a linguagem de Kirk provocou seu assassinato.

Americanos comuns, de professores a funcionários de restaurantes, perderam seus empregos ou foram punidos por comentários sobre o incidente.

Em uma postagem no Truth Social, Trump aplaudiu a decisão da ABC e pediu à NBC que demitisse seus apresentadores Jimmy Fallon e Seth Meyers.

-- Com a colaboração de Thomas Buckley.

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