Ambipar: títulos em dólar caem à mínima histórica após saída de diretor financeiro

As perdas se aceleraram depois que a empresa de gestão de resíduos anunciou a saída do diretor financeiro, João Arruda, em meio à crescente preocupação de que ela esteja se movimentando para reestruturar seus negócios

Máquinas da Ambipar
Por Giovanna Bellotti Azevedo - Vinícius Andrade - Rachel Gamarski
23 de Setembro, 2025 | 06:01 PM

Bloomberg — Os títulos em dólar da Ambipar caíram à mínima histórica, em uma piora de um desempenho que já era o pior entre os bonds corporativos de mercados emergentes em meio à crescente preocupação de que a empresa esteja reestruturando seus negócios e, potencialmente, sua dívida.

As perdas se aceleraram na terça-feira (23), com as notas com vencimento em 2031, as mais líquidas, caindo mais de 19 centavos de dólar, depois que a empresa de gestão de resíduos anunciou a saída do seu diretor financeiro, João Arruda.

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A saída de Arruda — após apenas um ano no cargo — é a terceira grande mudança executiva que a Ambipar (AMBP3) viu em dias.

O diretor de relações com investidores, Pedro Borges Petersen, deixou a empresa na semana passada, e o diretor jurídico global, Mauro Nakamura, saiu no fim de semana, de acordo com uma publicação no LinkedIn.

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Reuniões virtuais com investidores organizadas pelo Bank of America foram adiadas desta semana para o início de outubro após a mudança de CFO, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto ouvidas pela Bloomberg News.

As reuniões, cujas vagas foram preenchidas quase imediatamente, serão remarcadas com a chegada do novo diretor, Ricardo Rosanova Garcia, que retornou à companhia, disseram as pessoas.

A Ambipar tem se reunido com investidores individualmente, disse uma das pessoas, que acrescentou que os executivos da companhia planejam uma viagem à Nova York para encontrar com bondholders e esclarecer as estratégias da companhia, inclusive questionamentos sobre eventuais recompras de dívida.

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A Ambipar e o Bank of America não comentam.

  O rendimento extra que os investidores exigem para manter os títulos da Ambipar em relação a títulos do Tesouro americano similares saltou para mais de 3.000 pontos-base, quase o triplo da marca de 1.000 pontos-base considerada “distressed”

Os bonds da Ambipar haviam caído em meio a investigações regulatórias e alertas de empresas de rating.

Na semana passada, a Ambipar agiu para agradar os investidores e apresentou uma reformulação de governança. Mas o resultado saiu pela culatra após a empresa anunciar a contratação de um assessor para analisar um possível exercício de gestão de passivos, que levaria em conta os preços atuais da dívida nos mercados secundários.

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Os bonds perderam mais de um quarto de seu valor neste mês, em um momento em que os investidores apostam em renda fixa de mercados emergentes, e um indicador para empresas de mercados em desenvolvimento subiu 0,9%.

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As notas de dólar com vencimento em 2031 estão sendo negociadas a 49,95 centavos por dólar, caindo 14 centavos de dolar, segundo dados da Trace.

O rendimento extra que os investidores exigem para manter os títulos da Ambipar em relação a títulos do Tesouro americano similares saltou para mais de 3.000 pontos-base, quase o triplo da marca de 1.000 pontos-base considerada “distressed”, segundo dados compilados pela Bloomberg.

A empresa também se mobilizou para fortalecer suas finanças diante do aumento dos custos de empréstimos — a Selic, a taxa básica de juros do Brasil, está em 15%. A empresa cortou cerca de 1.000 empregos em todo o mundo este ano, e seu conselho aprovou a emissão de R$ 3 bilhões em dívida local, cujos recursos serão usados ​​para resgatar outras notas locais.

“Os recentes anúncios de demissões da Ambipar, a nomeação de um consultor para interagir com os credores e as mudanças no conselho reconhecem efetivamente que a empresa entrou em algum estágio de reestruturação operacional/comercial”, disse Luiz Felipe Scalercio, chefe de empresas do Brasil na BCP Securities.

Conseguir levantar R$ 3 bilhões com debêntures em termos razoáveis ​​seria “muito desafiador” e deixaria os detentores de títulos inquietos quanto à “governança e alinhamento”, acrescentou.

Problemas de governança

A Fitch Ratings revisou a perspectiva da Ambipar para negativa em 12 de setembro, e citou problemas de governança, incluindo atrasos com formulários, um processo administrativo movido pela CVM e pouca transparência contábil — alertando que esses fatores poderiam aumentar o escrutínio e os custos de captação.

Seis dias depois, a S&P Global Ratings ecoou as preocupações, e afirmou que a crescente incerteza em torno das práticas de governança e a menor confiança do mercado podem aumentar os riscos de refinanciamento e execução.

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“Nossa decisão foi em grande parte respaldada por eventos relacionados à governança que vêm ocorrendo desde o ano passado”, disse Gustavo Mueller, analista da Fitch Ratings, em entrevista. Ele reconheceu os esforços da empresa para reformular sua governança, mas afirmou que a empresa de rating precisa observar um período sem novos incidentes.

No início deste mês, os investidores ficaram ressabiados quando a Ambipar anunciou que a CVM estava investigando potenciais problemas de conformidade com seu programa de recompra de ações. O regulador já havia examinado alegações de compras coordenadas em julho, que foram rejeitadas.

A empresa também foi alvo de questionamentos da B3, que solicitou esclarecimentos sobre “flutuações atípicas” nas ações da empresa, ocorridas entre 11 e 13 de dezembro. Naqueles dias, as ações subiram cerca de 94%.

Outra fonte de preocupação são os investimentos em um fundo de recebíveis (FIDC) — divulgado nos resultados como um valor de R$ 2,1 bilhões —, um veículo securitizado, que representa uma parcela significativa do caixa da empresa.

O CEO Tércio Borlenghi Junior disse anteriormente à Bloomberg News que esse valor reflete procedimentos contábeis internos, mas que apenas R$ 600 milhões estão efetivamente no FIDC, enquanto o restante está vinculado a instrumentos de financiamento padrão.

Para lidar com as preocupações, a Ambipar expandiu seu conselho, reformulou comitês e intensificou o diálogo com investidores.

A empresa aumentou seu conselho de cinco para nove membros, após a contratação da ex-chefe do UBS Brasil e América Latina, Sylvia Coutinho, como consultora de governança. A empresa também planeja expandir para 11 diretores no curto prazo, metade deles independentes.

“As mudanças de governança são obviamente bem-vindas”, disse Roger Horn, estrategista da Mariva Capital Markets. “Mas pode levar algum tempo para que as manchetes se acalmem e as preocupações com a liquidez passem para atrair novos investidores.”

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