De São Paulo ao Rio Grande do Sul: os novos leilões no radar da Aegea, segundo o CEO

Em entrevista à Bloomberg Línea, Radamés Casseb comentou sobre as oportunidades de investimentos, mesmo em um cenário de incertezas, e reforçou a avaliação de que cidades pequenas e médias são economicamente viáveis

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Bloomberg Línea — Após conquistar projetos para atender 38 milhões de brasileiros em quase 900 municípios, a Aegea ainda tem fôlego para disputar novos ativos, incluindo blocos importantes em São Paulo e Minas Gerais, além de Rondônia, Pernambuco e Rio Grande do Sul, disse à Bloomberg Línea o CEO da companhia, Radamés Casseb.

Segundo o executivo, um “ecossistema” vem crescendo em torno da companhia em busca de parcerias para garantir que os leilões do setor não fiquem sem a competição adequada.

“A Aegea está interessada em projetos em que poderá fazer a diferença, seja com seus sócios, que têm capital disponível, ou por meio de esforço associativo, quando houver necessidade”, disse.

A companhia tem como principais acionistas a Equipav (53%), o GIC (fundo soberano de Singapura, com 34%) e a Itaúsa (13%).

Para 2025, ele disse não acreditar que haverá leilões que demandem parcerias para a companhia apresentar lances.

“Mas para projetos estratégicos como os de Minas Gerais e São Paulo, que parecem ter muita relevância e investimentos, talvez se faça necessário pensar em uma estrutura de capital específica para cada um”, explicou.

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No caso de Minas, por exemplo, espera-se que o leilão (ou leilões) seja no formato de parceria público-privada (PPP). O modelo deve ser definido assim que as prefeituras negociarem com o governo.

No caso de São Paulo, onde o modelo também não foi definido, o leilão provavelmente deve englobar as cidades que não estão sob o guarda-chuva da Sabesp (SBSP3).

No ano passado, a companhia foi privatizada por meio da redução da fatia do governo do estado e da entrada da Equatorial (EQTL3) como acionista de referência, em um leilão que deu à companhia elétrica 15% das ações. A Aegea desistiu de participar do leilão após estudar o projeto até a reta final.

Segundo Radamés, alguns projetos podem sair ainda neste ano, como nos estados de Pernambuco, Espírito Santo (duas PPPs) e Rondônia, além de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.

Na avaliação do executivo, todos os projetos têm algum nível de desafio. Porto Alegre faz sentido para a Aegea, já que a companhia conquistou em dezembro de 2022 o leilão de privatização da Corsan (companhia estadual gaúcha).

Para Radamés, na capital do Rio Grande do Sul há a possibilidade de grandes sinergias, com a ressalva de que o projeto nasce com um grande desafio: os efeitos da drenagem das enchentes que assolaram o estado em maio do ano passado.

No caso de Rondônia, onde a Aegea possui quatro concessões, a infraestrutura é precária, ainda que, por outro lado, a oferta de recursos naturais seja ampla. “Cada lugar tem o seu desafio, como levar água para a região do semi-árido, em Pernambuco”, pontuou.

Ele acrescentou que a especialidade da companhia são cidades pequenas e médias, embora o grupo opere grandes metrópoles, como o Rio de Janeiro. De 2019 a 2025, o número de funcionários diretos saltou de 4.000 para 23.000.

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“A experiência da Aegea mostra que cidades pequenas e médias são economicamente viáveis. Queremos prover soluções onde o ambiente é mais difícil. Aliás, não há como levar saneamento sem enfrentar problemas”, disse o CEO.

Balsa, barco e caminhão

Em 2020, antes da sanção do novo marco regulatório do saneamento, a Aegea contava com cerca de 13.000 fornecedores. Atualmente, são aproximadamente 30.000, dos quais cerca de 8.000 em municípios onde a companhia atua.

Radamés disse que, para cada projeto, a companhia cria uma cadeia de fornecimento específica.

Na concessão Águas de São Francisco, no município de Barcarena, no Pará, a logística inclui um pouco de tudo: balsa, barco e caminhão. “Estamos universalizando neste ano 100% da água e 100% do esgoto em Barcarena, antes da COP30”, disse.

Segundo o executivo, o modelo de negócio propõe formar uma equipe de gestão local, suportada por grupos de serviços compartilhados e treinada pela chamada “Academia Aegea”.

A academia visa fornecer capacitação técnica e de negócios, em um setor que ainda hoje tem um grande déficit de mão-de-obra especializada, segundo fontes ouvidas pela Bloomberg Línea.

Radamés reforçou que, embora a companhia esteja avaliando novos ativos no mercado, a prioridade é o amadurecimento do portfólio já existente. Em 2023 e 2024, a companhia investiu anualmente R$ 6 bilhões.

“Isso impõe uma rotina de entregas, regularização e reparo. Temos que mobilizar os estados do Piauí, do Pará, evoluir com mais força no Rio de Janeiro e na Corsan, que são os ativos mais jovens”, afirmou.

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Isso não significa, por outro lado, que a companhia vai parar de olhar o mercado.

“Não vamos deixar de estudar todas as oportunidades, mas, no momento de concorrer, a avaliação sobre a trilha de alavancagem, de compromissos de investimentos, de exequibilidade e até de aspectos de regulação será colocada à mesa”, ponderou.

“Às vezes, haverá projetos em que não há muito o que fazer e que provavelmente vai interessar pouco para a companhia”, acrescentou.

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