Bloomberg Línea — A imposição de tarifas norte-americanas a produtos brasileiros, sem contar os cerca de 700 da lista de exceções de Donald Trump, desde o dia 6 de agosto, impacta as perspectivas de negócios de empresas afetadas e também decisões de investimentos neste segundo semestre.
No cenário macro global, a expectativa por um corte de juros nos Estados Unidos, um cenário esperado por muitos analistas para o mês de setembro, também deve guiar investidores nas próximas semanas, com potencial de afetar o fluxo de capital para países emergentes como o Brasil e, por tabela, o câmbio.
A trajetória do câmbio nos próximos meses, por sua vez, é vista como parte relevante na formação do quadro que definirá o momento em que o Banco Central voltará a reduzir a taxa Selic, hoje fixada em 15% ao ano.
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Nas últimas semanas, a Bloomberg Línea conversou com investidores e executivos e analisou relatórios de bancos, corretoras e gestoras, a fim de elaborar uma lista de 10 empresas que devem estar no radar na segunda metade do ano.
Os nomes escolhidos não formam um ranking com critérios quantitativos, como projeções de faturamento, geração de caixa, alavancagem ou outros indicadores financeiros. A seleção indica apenas o potencial de destaque — positivo ou negativo — em suas respectivas áreas de atuação nos próximos trimestres.
1. Embraer
A terceira maior fabricante de jatos comerciais do mundo deixou de ser prejudicada pela ordem executiva de Donald Trump que fixou tarifas de até 50% sobre as exportações do Brasil. Analistas esperam que a companhia (EMBR3) prossiga com seu momentum na bolsa - com alta de 70% em 12 meses. Em outra frente, a Eve, sua empresa de “carros voadores” (eVTOLs), deve continuar a acumular pedidos à medida que desenvolve seu modelo para certificação e reforça os investimentos de olho no ano indicado de 2027 para o início da operação comercial.
2. Gerdau
Em um ambiente global adverso para siderúrgicas de países como o Brasil, a Gerdau deve se sair melhor entre seus pares, dado que metade da receita do grupo vem das operações dos EUA. Em relatório, analistas do JPMorgan apontaram a Gerdau como top pick do setor, reforçando a exposição relevante à América do Norte. Por outro lado, no início do mês, a empresa (GGBR4) alertou para o risco de reavaliação de investimentos devido à piora do cenário macro no Brasil. Já a expansão da mina de minério de ferro em Ouro Preto (Projeto Miguel Burnier) deve começar no quarto trimestre e entrar em ramp-up ao longo de 2026, segundo o Itaú BBA.
3. GPA
Uma das redes de supermercados mais tradicionais do país vive um momento de incertezas quanto ao seu controle e a sua governança - o que se traduz em incertezas sobre a manutenção da atual estratégia de negócios. A família mineira Coelho Diniz, dona de uma rede de supermercados homônima, tem ampliado sua participação acionária no Grupo Pão de Açúcar e já detém 17,7% — soma das fatias de cinco parentes. Caso a posição dos Coelho Diniz atinja 25% do capital, o estatuto do GPA (PCAR3) exige a realização de OPA (oferta pública de aquisição de ações). Nesse cenário, os mineiros conquistariam o controle do grupo, que avança no processo de reestruturação, com melhora nas margens de lucro.
4. Cyrela
Mesmo em um ciclo de juros elevados que afeta o mercado de incorporação imobiliária, a companhia (CYRE3) mantém os lançamentos de imóveis de alto padrão, com analistas projetando R$ 11 bilhões em 2025, depois de reportar R$ 6,2 bilhões no primeiro semestre. A construtora e incorporadora pode se beneficiar se o mercado antecipar o timing do cenário de corte de juros no país. A aposta da Cyrela em projetos icônicos de arranha-céus, acima dos 200 metros de altura, é um diferencial do seu pipeline. O acesso mais amplo da Cyrela a financiamento pode levar a mais ganhos de participação de mercado, apontaram analistas do Santander.
5. 99
A empresa de aplicativo de transporte urbano, que pertence ao grupo chinês de mobilidade DiDi, relançou a divisão de 99Food para competir no mercado de delivery de alimentos no Brasil, em desafio à ampla liderança do iFood. O investimento soma R$ 1 bilhão para 2025 e já se traduz em descontos agressivos para consumidores e redução ou isenção de taxas para restaurantes e em campanhas ostensivas de marketing que incluem até a chef Paola Carosella, famosa pelo Masterchef, que foi escalada para comerciais em horário nobre na TV brasileira.
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6. Americanas
Em recuperação judicial desde janeiro de 2023, após a revelação de uma fraude contábil da ordem de R$ 25 bilhões, a empresa varejista (AMER3) retomou o processo de venda de ativos, com a prospecção de interessados nas redes Hortifruti Natural da Terra, Imaginarium e Puket. Além disso, a Americanas registrou no segundo trimestre o seu primeiro Ebitda positivo desde o início da crise e avança com iniciativas que podem fomentar as vendas e melhorar a rentabilidade, como na área de crédito. O CEO Leonardo Coelho já antevê o fim da recuperação judicial no primeiro semestre de 2026, segundo disse em entrevista para a Bloomberg Línea.
7. Cury
Depois de divulgar números operacionais do segundo trimestre avaliados como sólidos por analistas, a companhia (CURY3) “está no caminho certo para continuar apresentando resultados superiores”, segundo o time de equity research do BTG Pactual, que manteve recomendação de compra citando a perspectiva positiva com o programa habitacional MCMV (Minha Casa Minha Vida). A expectativa é a de manutenção do ritmo forte de vendas para seus novos projetos e aumento do tíquete médio acima da inflação (9% na base anual), segundo o analista Gustavo Cambauva. No acumulado do ano de 2025, as ações sobem cerca de 80%.
8. Régia Capital
O mercado de fundos de investimento no Brasil segue castigado pelos anos de juros acima de dois dígitos. Mas há casas que apostam no crescimento com teses alternativas. A joint venture entre BB Asset e a JGP, uma das mais tradicionais gestoras de recursos independentes, tem R$ 10,3 bilhões sob gestão e a meta de chegar a R$ 18 bilhões até o final do ano, com ambição de o patrimônio líquido encostar na marca de R$ 22 bilhões. O foco é alocar capital em fundos de investimento sustentável (IS) no mercado brasileiro. Em ano de COP 30, o contexto é favorável à Régia Capital diante do maior interesse de investidores estrangeiros e de multinacionais na descarbonização de operações e portfólios.
9. Solfácil
A empresa que atua no financiamento de projetos de energia solar no Brasil tem avançado no setor e captou R$ 6,5 bilhões nos últimos anos para financiar 25.000 projetos de instalações solares. A plataforma opera como uma fintech e como um marketplace para integradores, responsáveis pelo desenvolvimento dos projetos. Os créditos para financiamento de projetos solares residenciais e comerciais de pequeno porte, securitizados pela Solfácil, têm prazo médio de cinco anos, segundo a Fitch. Mas há pontos de atenção: o setor de energia renovável enfrenta a falta de linhas de transmissão suficientes para absorver toda a eletricidade produzida.
10. Cielo
Segunda maior empresa de adquirência do Brasil, com 20,5% de participação de mercado em dezembro de 2024, segundo a Fitch, a empresa se beneficia da rede de distribuição de seus acionistas — o Banco do Brasil e o Bradesco. O setor de pagamentos com cartões, por sua vez, enfrenta o desafio de adaptar seu modelo de negócios e aumentar a diversificação em outros produtos, como soluções financeiras e serviços de software. A Cielo, que fechou capital em 2024, busca recuperar rentabilidade e incorporar inovações tecnológicas e novos produtos.
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