Bloomberg — Hedge funds e outros grandes investidores que contestam na Justiça a compra de US$ 9,4 bilhões da Skechers pelo 3G Capital, dos brasileiros Jorge Paulo Lemann, Marcel Herrmann Telles, Carlos Alberto Sicupira, não chegaram a um acordo antecipado com a fabricante de calçados.
Com isso, a disputa sobre o preço da transação segue adiante, segundo pessoas familiarizadas com o assunto que falaram com a Bloomberg News.
As gestoras buscam um valor maior do que os US$ 63 por ação pagos pelo 3G Capital no fechamento da aquisição, em setembro.
A empresa chegou a fazer uma oferta ligeiramente acima desse valor, mas ainda abaixo do que as gestoras esperavam ao tentar um acordo, disseram as pessoas, que pediram anonimato por discutirem conversas privadas.
A maioria dos investidores agora decide seguir com o processo na Justiça, afirmaram as fontes.
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A legislação de Delaware — onde muitas companhias abertas são registradas — permite que acionistas de empresas vendidas por pagamento em dinheiro contestem judicialmente o preço da operação. Cabe a um juiz determinar o valor justo de suas ações.
Porta-vozes da Skechers e do 3G preferiram não comentar.
A disputa envolvendo a Skechers é uma das maiores ações de avaliação — as chamadas “appraisal cases” — já vistas em Delaware.

Diversos investidores sofisticados contestam o que consideram ser uma venda subavaliada, conduzida pelo fundador da Skechers, Robert Greenberg, e por seu filho durante a turbulência provocada pelos anúncios tarifários do presidente Donald Trump em 2 de abril.
A família Greenberg, que detinha 60% do poder de voto, aprovou o negócio por meio de consentimento por escrito em maio, evitando uma votação dos acionistas minoritários, segundo documentos regulatórios e registros do processo movido pelos autores.
A empresa — que produz grande parte de seus calçados na China e no Vietnã — estava entre dezenas de fabricantes que alertaram que as tarifas representavam uma “ameaça existencial”. As ações da Skechers chegaram a cair 23% depois do anúncio das tarifas no início de abril.
Quando o acordo com o 3G Capital foi anunciado em maio, as ações da Skechers dispararam cerca de 30%. Desde então, os Estados Unidos reduziram a intensidade da guerra comercial global, melhorando as perspectivas de fabricantes como a Skechers.
Os hedge funds que contestam o negócio apostam que um juiz da Chancery Court de Delaware atribuirá um valor maior à operação.
Arbitragem de avaliação
No início dos anos 2000, mais hedge funds passaram a comprar ações de empresas logo após o anúncio de aquisições, para então contestar o preço na Justiça e tentar obter um pagamento maior.
Essa estratégia — conhecida como arbitragem de avaliação — perdeu força após decisões desfavoráveis que confirmaram o valor da transação ou até menos. Mas a prática voltou a ganhar tração com alguns negócios de grande porte.
Também em Delaware, dezenas de gestoras contestam a compra de US$ 25 bilhões da Endeavor Group Holdings pelo Silver Lake, que deve se tornar o maior caso da história do estado, com dissidentes detendo US$ 4,1 bilhões em ações.
No caso da Skechers, cerca de 60 veículos de investimento administrados por várias gestoras contestaram o preço de US$ 1,3 bilhão em ações quando a transação foi concluída em setembro, segundo documento regulatório.
O 3G Capital e a Skechers afirmaram, no anúncio do acordo em 5 de maio, que o preço pago representava um prêmio de 30% sobre a média ponderada pelo volume dos últimos 15 dias das ações da companhia.
As conversas de acordo ocorreram antes do prazo deste mês para que os investidores desistissem da ação de avaliação e aceitassem os US$ 63 por ação — ou se arriscassem a receber menos no futuro caso o juiz conclua que a avaliação era alta demais.
Em casos com muitos litigantes, um acordo antecipado pode ajudar a reduzir o risco para a empresa. Alguns acionistas que não conseguem manter um ativo ilíquido por longos períodos podem preferir encerrar a disputa cedo.
O juiz responsável por decidir se a compra foi avaliada de forma justa ainda não definiu a data do julgamento.
-- Com a colaboração de Phil Kuntz e Jeremy Hill.
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