Com US$ 15 bi, Partners Group amplia foco e busca startups de growth no Brasil

Gestora suíça amplia a sua tese, concentrada na aquisição de participações majoritárias desde a sua fundação, em 1996. O investimento em empresas de crescimento é o próximo passo, contaram líderes da operação no país à Bloomberg Línea

Gestora europeia busca ampliar a abrangência de sua tese para investir no país (Foto: Victor Moriyama/Bloomberg)
30 de Maio, 2025 | 04:26 PM

Bloomberg Línea — A gestora global Partners Group está em fase de expansão de sua atuação no Brasil com uma nova frente estratégica: aportes em empresas de médio porte com alto potencial de crescimento — a chamada tese de growth equity.

A mudança marca um avanço relevante na forma como o grupo suíço opera no país, que se concentrava na aquisição de participação majoritária (buyout) dos ativos.

PUBLICIDADE

O histórico da gestora no Brasil inclui o controle das redes de produtos naturais Hortifruti e Natural da Terra, em 2017, integradas sob a marca Hortifruti Natural da Terra. O negócio foi vendido para a Americanas em 2021.

O grupo mantém hoje posições diretas e indiretas, via fundos de terceiros, em cerca de cinco companhias, mantidas sob sigilo.

As teses da Partners Group focam em verticais de negócio temáticas desde a fundação, em 1996. É um modelo similar a concorrentes como o fundo americano Warburg Pincus, com a procura por empresas em setores em ascensão que podem ser as “vencedoras” em suas áreas.

PUBLICIDADE

“Muitas vezes, ao fazer esse exercício, nós encontrávamos ativos que eram pequenos demais para essa estratégia. Ou emergentes, no sentido de que não havia controle para comprar”, disse Tiago Andrade, head em São Paulo do Partners Group e um dos primeiros funcionários do escritório brasileiro, inaugurado em 2012.

Leia mais: Mundo olha para o Brasil como laboratório do blockchain em escala, diz Passoni

“Expandimos o nosso escopo para poder incluir essas estratégias também”, disse em entrevista à Bloomberg Línea.

PUBLICIDADE

A gestora entrou no Brasil no início do século de forma indireta, com aportes em outros fundos, quadro que mudou a partir de 2008, com os primeiros investimentos diretos.

A nova abordagem busca a aquisição de participações minoritárias em empresas com receita mínima de US$ 20 milhões (cerca de R$ 120 milhões), crescimento orgânico superior a 30% ao ano e margem bruta acima de 70%.

O foco está em setores como os de software, infraestrutura financeira (BaaS) e healthtechs.

PUBLICIDADE

“O Brasil tem muitos setores que passam por transformações, principalmente digitalização, institucionalização e profissionalização de empresas pequenas, e são mercados nos quais as startups estão muito presentes”, afirmou Andrade.

A mudança acompanha o reposicionamento global do Partners Group ao longo dos últimos cinco anos. No Brasil, a procura pelos novos ativos começou em setembro de 2024.

”Estamos com algumas conversas em andamento”, afirmou o executivo.

“O pipeline é bom, tem muito ativo interessante e os fundos estão precisando de liquidez. Os valuations hoje em dia são mais razoáveis, o que nos permite manter as conversas.”

De acordo com Andrade, o time liderado por ele tem dedicado atualmente cerca de 70% do tempo na nova estratégia para encontrar ativos com potencial de expansão acelerada.

O fundo global tem disponível US$ 15 bilhões, valor previsto para ser aportado em 60 empresas, distribuídas entre 30 de buyout e 30 de growth.

“Se eu trouxer de duas a quatro empresas para o Brasil, já será uma boa alocação”, disse Andrade. Os cheques devem ficar entre US$ 50 milhões e US$ 150 milhões, em troca de participações que vão de 10% até 30%.

“É um movimento que pode dar saída para investidores em estágios iniciais, aqueles que, de fato, aportaram nas companhias nos últimos cinco ou sete anos e que precisam de liquidez. E que, com o mercado de IPO fechado, têm mais dificuldade de acessar”, disse.

Leia mais: Esqueça as tarifas. Foco deve estar nos negócios, diz investidor de Facebook e Nubank

Para os fundadores, os benefícios, segundo Andrade, estão associados a um cap table mais enxuto, acesso a ativos globais da gestora e ainda o auxílio em eventual processo de internacionalização.

“Nós temos visto empresas muito boas, parecidas com algumas que já controlamos fora do Brasil. Ou seja, já temos conhecimento do setor e do perfil da empresa”, afirmou Danilo Brito, investment professional do Partners Group na mesma entrevista, durante o evento Brazil at Silicon Valley, nos Estados Unidos.

A ambição da operação local é fechar, a cada ano, ao menos um investimento.

Os executivos explicaram que, no modelo do Partners Group, a gestão é integrada: o comitê de investimento global decide quais são os aportes e as regiões mais pertinentes de acordo com os cenários econômicos e setoriais.

Em geral, mercados como Estados Unidos e Europa ficam com os maiores volume, entre 40% e 45%, cada. Países emergentes como Brasil, Índia, China, e ainda Austrália e Japão, disputam os percentuais restantes.

Leia também

Ana Botín dobra a aposta do Santander nas Américas em busca de crescimento

Como este bilionário investidor quer evitar a eleição da esquerda na Bolívia

Marcos Bonfim

Jornalista brasileiro especializado na cobertura de startups, inovação e tecnologia. Formado em jornalismo pela PUC-SP e com pós em Política e Relações Internacionais pela FESPSP, acumula passagens por veículos como Exame, UOL, Meio & Mensagem e Propmark