Cade abrirá inquérito sobre supostas práticas anticompetitivas no setor de benefícios

Investigação administrativa terá como alvo suspeitas de práticas de rebate proibidas por lei das três maiores empresas do setor, Alelo, Pluxee e Ticket, segundo documento da autarquia federal; Pluxee e Ticket dizem que etapa é preliminar, e Alelo não respondeu

Restaurante no Rio de Janeiro: mercado de vale refeições movimenta estimados R$ 150 bilhões por ano no Brasil (Foto: Andre Coelho/Bloomberg)
31 de Julho, 2025 | 11:24 AM

Bloomberg Línea — O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) vai abrir um inquérito administrativo para investigar supostas práticas anticompetitivas no mercado de benefícios ao trabalhador, o que inclui os segmentos de vale-refeição (VR) e vale-alimentação (VA).

A decisão, recomendada Superintendência-Geral publicado no site da autarquia, busca aprofundar a apuração de indícios de infração à ordem econômica com a prática de rebate.

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A investigação envolve três das maiores empresas de benefícios do país: a Alelo, a Pluxee (ex-Sodexo) e a Ticket, que detêm, juntas, de 70% a 80% de participação no mercado, segundo dados apresentados pelo órgão antitruste.

Em nota, tanto a Pluxee (Sodexo) quanto a Ticket confirmaram à Bloomberg Línea a notificação sobre a abertura do inquérito, mas reforçaram que se trata de uma “etapa preliminar do processo”, sem conclusão ou eventual condenação.

A Alelo não se manifestou até a publicação da reportagem. As informações serão atualizadas caso a empresa se posicione sobre a investigação. Veja os posicionamentos abaixo.

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A denúncia contra as líderes do setor foi apresentada em abril do ano passado pela Flash e pela Swile, representantes da nova geração de empresas que oferecem benefícios com a bandeira de maior flexibilidade e digitalização.

Segundo a nota técnica do Cade que fundamenta a decisão, a primeira etapa do inquérito deve avaliar a existência de requisitos da prática de rebate — a concessão de descontos ou vantagens financeiras a empresas contratantes — como mecanismo de fechamento de mercado, aumento de custos para concorrentes e exclusão de rivais.

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Em um segundo momento, a investigação deve analisar os efeitos práticos da conduta sobre a concorrência.

Na denúncia protocolada, as duas startups apontam o risco de “dano concorrencial” e afirmam que a “manutenção da prática ensejará o arrefecimento da competição”, diante da posição dominante que detêm em participação de mercado.

A denúncia sustenta ainda que a “prática desses benefícios ou descontos são contrários ao cumprimento da legislação setorial”.

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A prática de rebate - ou descontos - às empresas contratantes dos serviços das operadoras é proibida no setor, conforme estabelecido pelo decreto nº 10.854/21 e reforçado pela Lei nº 14.442/22, que alterou a legislação do Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT).

O mercado de vale-refeição e vale-alimentação no Brasil movimenta em torno de R$ 150 bilhões anualmente, de acordo com dados da nota técnica do Cade.

As mudanças regulatórias abriram caminho, no entanto, para que as operadoras de benefícios criassem programas de promoção e monitoramento da saúde e segurança alimentar, sob o nome de “serviços agregados” - ou SVAs -, em formatos diversos.

Segundo a denúncia, isso permitiu uma espécie de substituição dos descontos financeiros por outros tipos de concessão.

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“O objetivo do inquérito no âmbito desta SG/Cade, uma vez instaurado, é analisar o caráter anticoncorrencial da conduta, bem como seus efeitos sobre à concorrência de mercado. Para tanto, faz-se necessário o desenvolvimento da instrução em cognição exauriente com o viso de caracterizar a conduta denunciada como anticoncorrencial a partir dos parâmetros previamente definidos”, diz a nota técnica do Cade.

A VR Benefícios, também denunciada no pedido de apuração, foi excluída do processo. A empresa “é a única cujo share está distante daquele requerido pela legislação para configurar posição dominante”, segundo a nota do Cade. A participação da empresa, que retornou ao negócio em 2014, é inferior a 10% atualmente, diz o documento.

O órgão antitruste também indeferiu o pedido de concessão de medida preventiva para que as empresas denunciadas parassem de conceder rebates ou benefícios aos clientes.

Segundo o Cade, a decisão foi tomada devido à carência das informações apresentadas, mas pode ser revista ao longo da investigação.

O que dizem as empresas:

Pluxee

“A Pluxee confirma que foi notificada sobre a instauração de inquérito administrativo pelo CADE e reforça seu compromisso com a conformidade legal e a livre concorrência. Trata-se de uma etapa preliminar e prevista em lei, que não representa qualquer conclusão sobre a existência de infração. A empresa está colaborando plenamente com as autoridades, comunicando com transparência e responsabilidade. Seguimos operando com ética e confiança na integridade do processo.”

Ticket

“A Ticket Serviços confirma que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) abriu um Inquérito Administrativo para apurar supostas práticas no mercado de benefícios de alimentação, a partir de denúncia feita por terceiros. Essa é uma etapa preliminar, que não representa uma acusação formal contra a empresa ou qualquer outro agente do setor.

O CADE já indeferiu o pedido de adoção de medidas cautelares, o que reforça a inexistência de indícios concretos de irregularidade.A Ticket Serviços conduz suas operações com total conformidade às leis brasileiras e segue padrões éticos e concorrenciais reconhecidos globalmente.

A empresa atua há mais de 40 anos no Brasil, sendo referência em inovação e compromisso com a segurança alimentar dos trabalhadores formais. Seguimos colaborando com o CADE e confiantes de que o processo confirmará a integridade das nossas práticas e a solidez do setor de benefícios."

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Marcos Bonfim

Jornalista brasileiro especializado na cobertura de startups, inovação e tecnologia. Formado em jornalismo pela PUC-SP e com pós em Política e Relações Internacionais pela FESPSP, acumula passagens por veículos como Exame, UOL, Meio & Mensagem e Propmark