Bloomberg Línea — O BTG Pactual (BPAC11) protocolou um pedido de licença bancária no Peru há cerca de duas semanas, em continuidade à estratégia de expansão regional que tem sido financiada pelos resultados recordes da instituição, segundo o CFO do banco, Renato Cohn.
A expansão peruana integra a presença já estabelecida em outros países latino-americanos, em uma aposta regional iniciada pelo BTG em 2012.
“Já temos presença física, em maior ou menor grau, no Chile, na Colômbia, no Peru, no México, e anunciamos a aquisição de um banco no Uruguai”, disse o executivo em entrevista a jornalistas nesta terça-feira (12), ao comentar o balanço do segundo trimestre.
Ele se referiu à aquisição do HSBC Uruguai, anunciada no mês passado.
No segundo trimestre de 2025, o banco liderado por Roberto Sallouti (CEO) e André Esteves (chairman) registrou retorno sobre patrimônio de 27,1%, com recordes de receita e lucro.
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As operações internacionais já representam parte substancial dos negócios do BTG. “No quarto trimestre de 2024, a carteira de crédito não exposta a empresas brasileiras nem a pessoas físicas do país chegou a 20%. De lá para cá, subiu um pouquinho”, disse o CFO.
As demais linhas de negócio também contribuem com cerca de 20% das receitas totais por meio de atividades internacionais.
Nos últimos anos, o BTG adquiriu ativos nos EUA, como a Greytown Advisors e o M.Y. Safra Bank em 2024, e na Europa, como o FIS Privatbank em Luxemburgo em 2023.
“Fizemos essa expansão na Europa e nos Estados Unidos muito mais para atender a comunidade latino-americana que já temos de hoje”, afirmou o CFO.
Processo de licenciamento no Peru
O pedido da licença bancária peruana seguirá os trâmites regulatórios padrão da região, o que significa que deve ser um processo “um pouco mais longo”, segundo o CFO. O BTG já possui presença no país andino, mas sem autorização para atividades bancárias completas.
Sobre a estratégia regional, Renato Cohn disse que o banco sempre busca oportunidades de consolidar a expansão. O BTG também mantém interesse em outros mercados regionais, mas sem movimentações imediatas.
“O México é um mercado muito grande da América Latina, sempre olhamos com bons olhos uma possível expansão ali”, disse o CFO, que acrescentou que o banco “nunca achou o melhor caminho para aumentar significativamente a presença”.
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Sobre a Argentina, ele expressou também interesse em uma expansão, em razão da proximidade e do relacionamento que o mercado do país tem com o Brasil.
Sustentabilidade dos resultados
Durante a teleconferência com o mercado, analistas questionaram se o ROAE (retorno sobre o patrimônio médio) de 27,1% seria sustentável ou continha elementos não recorrentes, o que o executivo negou.
“Não teve nada não recorrente. Tivemos bons resultados em todas as linhas de negócio, mas não teve nenhum evento significativo que trouxesse o que chamamos de resultado não recorrente”, disse o CFO.
Para os próximos trimestres, a perspectiva combina crescimento estrutural com cautela nas áreas voláteis.
O desempenho do segundo trimestre permitiu ao banco revisar o guidance anual para a rentabilidade. No início do ano, o CFO indicava uma projeção de um ROAE acima da taxa do ano passado (23,1%).
“Achamos agora, com os resultados já atingidos, que o banco consiga um patamar de 24% ou um pouco acima disso”, disse o executivo.
Questionado sobre alteração na política de dividendos diante dos recordes consecutivos, o CFO disse que a política de dividendos atual prevê a distribuição de um montante em torno de 25% a 30% do lucro.
Isso significa que o banco acumula entre 75% e 70% de capital. “Precisamos desse capital para continuar a crescer na mesma velocidade”, afirmou.
Possível OPA do Banco Pan
Sobre uma possível OPA (oferta pública de aquisição) do Banco Pan, do qual o BTG Pactual já possui 50% de participação, o CFO manteve cautela.
“Sempre dizemos que temos eventualmente interesse em uma aquisição de ações do banco, mas isso depende muito do preço a que isso é feito”, disse.
“Estudamos periodicamente já há bastante tempo, mas no momento não tomamos essa decisão de fazer ou não, de ter um preço mais preciso para isso”, disse. Ele acrescentou que “é sempre um estudo que vai acontecer recorrentemente.”
Banco Master: interesse seletivo em ativos
Sobre possíveis aquisições relacionadas ao Banco Master, o CFO foi claro sobre a estratégia.
“O que eu disse inicialmente é que não temos nenhum interesse em nenhuma área de negócio do Banco Master”, afirmou em referência a uma declaração feita em maio de que não teria interesse proativo no negócio.
Em março, o Banco BRB (BSLI4), controlado pelo governo do Distrito Federal, acertou a compra do Master, um anúncio que motivou uma série de investigações sobre o impacto da transação e a natureza da expansão do banco.
O acordo ainda depende de aprovações regulatórias.
“Falei também que, se houver ativos que achamos interessante comprar, a preços que achamos interessante comprar, sempre olhamos todo tipo de oportunidade, inclusive as oportunidades do Banco Master”, completou.
Em maio, o BTG anunciou a compra de R$ 1,5 bilhão em ativos do banqueiro Daniel Vorcaro, do Master.
“Fizemos uma aquisição de ativos, de novo, em coordenação com FGC [Fundo Garantidor de Créditos] e Banco Central. E se tiver oportunidade de comprar novos ativos, estamos abertos a fazer essas operações”, afirmou.
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