Bloomberg Línea — Um novo estudo regional revela que abrir e manter uma empresa na América Latina e no Caribe pode levar milhares de horas por ano apenas em procedimentos específicos.
Os dados são da quinta edição do Índice de Burocracia 2025, conduzido pelo Adam Smith Center for Economic Freedom da Florida International University, um estudo recente que mediu o tempo que as empresas precisam gastar com procedimentos operacionais e de abertura em 21 países, incluindo 16 países da América Latina, dois do Caribe e três da Europa.
De acordo com a pesquisa, um empresário que deseja abrir uma empresa de médio porte na América Latina precisa de uma média de 1.850 horas de trabalho administrativo. Isso equivale a 231 dias úteis, ou cerca de oito meses de trabalho dedicados exclusivamente ao cumprimento de procedimentos burocráticos.
Em alguns países, o ônus é enorme.

Enquanto no Brasil o processo pode ser resolvido em 35 dias úteis, no Chile pode levar mais de dois anos inteiros de trabalho administrativo.
Uma vez em funcionamento, o ônus não é reduzido, pois as empresas precisam gastar, em média, as 1.577 horas por ano necessárias para a conformidade burocrática obrigatória para operar dentro da estrutura legal e formal em seus respectivos países.
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Isso equivale a 190 dias de trabalho de oito horas por ano, o que significa que 76% do tempo de trabalho anual de um funcionário é gasto nessas tarefas.
Essa média mostra uma alta dispersão; enquanto o valor mínimo registrado é de 31 dias de trabalho por ano (Panamá), o máximo (Chile) é de 732 dias de trabalho, o que representa a necessidade de pelo menos três funcionários para cumprir as exigências burocráticas.
Além do Panamá, Equador, Espanha, El Salvador e Uruguai também apresentam bom desempenho no Índice de Desempenho 2025, com procedimentos mais ágeis e menos exigentes.
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Custo da burocracia
Em termos econômicos, o custo financeiro direto da burocracia é significativo.
Estima-se que, para cada empresa, US$ 4.000 seja o custo associado à abertura de um negócio e US$ 5.800 por ano para sua operação, apenas em horas de trabalho com a papelada.
Por essa lógica, o tempo médio gasto com a burocracia para abrir uma empresa representa uma perda potencial equivalente a US$ 61.605 em produção nacional por empresa, enquanto a burocracia operacional anual representa um adicional de US$ 52.514 por empresa.
Quando esse custo é projetado em nível nacional, considerando uma média de 1,8 milhão de empresas ativas e 262.000 novas empresas criadas a cada ano, o custo de oportunidade da burocracia chega a US$ 110,5 bilhões por ano, ou 13% do Produto Interno Bruto (PIB) agregado dos países incluídos no estudo.
O estudo também identifica um grupo de países que se destacam por seu melhor desempenho tanto em abertura quanto em funcionamento.
Brasil, Costa Rica, República Dominicana, Equador, El Salvador, Espanha, México, Paraguai, Portugal e Uruguai formam o grupo com as burocracias mais eficientes em 2025, mostrando que é possível reduzir a carga sem comprometer a legalidade e o controle do Estado.
Além dos valores desperdiçados, a burocracia é um obstáculo direto ao desenvolvimento dos negócios, principalmente para as pequenas e médias empresas em estágio inicial, diz o relatório.
“Seu efeito pode ser desproporcionalmente negativo, retardando sua capacidade de competir, crescer e inovar e, em última análise, limitando o potencial de desenvolvimento da economia como um todo.
Durante o lançamento do relatório, organizado pelo Adam Smith Center for Economic Freedom da FIU, seu diretor fundador, Carlos Díaz-Rosillo, enfatizou que o estudo não busca atacar a existência da regulamentação, mas sim focar em seus excessos.
“Nosso objetivo não é dizer que as burocracias não devem existir. A regulamentação é necessária, assim como os processos que permitem que a economia funcione de forma eficiente”, disse ele.
“Mas estamos preocupados com as regulamentações excessivas que acabam sendo um fardo para as empresas. Com esse índice, queremos fornecer uma análise objetiva que ajude as empresas a serem mais eficazes e as políticas públicas a serem mais eficientes.