Bradesco tem lucro acima do esperado no 2º tri e sobe guidance para receita e seguro

Carteira de crédito, receitas e margem financeira avançam, o que estende o movimento de recuperação gradual dos principais indicadores do banco liderado pelo CEO Marcelo Noronha; rentabilidade passa de 11,4% para 14,6% na base anual

O Bradesco segue em trajetória de recuperação gradual de sua rentabilidade (Foto: Lucas Landau/Bloomberg)
30 de Julho, 2025 | 07:45 PM
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Bloomberg Línea — O Bradesco (BBDC4) apresentou um lucro no segundo trimestre acima das expectativas do mercado e elevou o guidance (projeção) para a receita de serviços e seguros em 2025, segundo balanço divulgado na noite desta quarta-feira (30), depois do fechamento do mercado.

O resultado reforçou a estratégia do banco liderado pelo CEO Marcelo Noronha de buscar rentabilidade gradual e segura, mantendo a combinação entre tração comercial e cautela na originação de crédito.

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O banco da Cidade de Deus, em Osasco (SP), reportou lucro líquido recorrente de R$ 6,1 bilhões, acima da média das estimativas dos analistas compiladas pela Bloomberg (R$ 5,97 bilhões).

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Essa cifra representou um aumento de 3,5% (trimestre vs trimestre) e de 28,6% (ano vs ano). Com isso, a rentabilidade medida pelo ROAE (retorno sobre o patrimônio líquido médio) chegou a 14,6%.

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Isso significou que o Bradesco aumentou sua rentabilidade em 0,2 ponto percentual em três meses e 3,2 ponto em 12 meses, como reflexo da eficiência operacional da instituição, mesmo em um cenário econômico desafiador - que afetou pares como o Santander, que divulgou seus números trimestrais no começo do dia.

As ações subiram 1,62% nesta quarta, antes da divulgação do balanço. No acumulado de 2025, a alta se aproxima dos 40%.

As receitas totais do banco alcançaram R$ 34 bilhões no período, com crescimento significativo de 15,1% na comparação anual.

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Esse desempenho foi impulsionado pelo forte crescimento em todas as principais linhas, incluindo margem financeira total, receitas com serviços e operações de seguros, confirmando o guidance antes apresentado.

A margem financeira, principal fonte de receitas do banco, chegou a R$ 18 bilhões no trimestre, com crescimento de 4,7% em relação ao trimestre anterior e 15,8% na comparação anual.

O destaque ficou por conta da margem com clientes, que atingiu R$ 17,8 bilhões, impulsionada pelo aumento da carteira de crédito e pela maior eficiência nas captações de recursos.

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Por outro lado, a margem com mercado (tesouraria) foi de R$ 288 milhões no segundo trimestre, redução de 11,4% em 12 meses e 37,7% em três meses.

“Entre os pontos de atenção está a redução da margem de mercado. Esse pode ser um sinal de alerta”, avaliou Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, em nota.

Novo guidance para receita e seguros

O banco revisou duas linhas de seu guidance para 2025, refletindo melhores perspectivas para receitas de serviços e desempenho de seguros.

No início do ano, o banco projetava intervalo de 4% a 8% para o crescimento da receita de prestação de serviços. Agora, espera entre 5% e 9%. No primeiro semestre, essa linha subiu 10,4% em 12 meses.

Já o resultado das operações de seguros, previdência e capitalização tem guidance de crescimento entre 9% e 13%, acima do intervalo anterior (6% a 10%).No primeiro semestre, houve aumento de 26,8%.

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As receitas de prestação de serviços apresentaram crescimento de 5,5% em relação ao trimestre anterior e 10,6% na comparação anual.

Os principais destaques foram as receitas provenientes de cartões, consórcios e operações no mercado de capitais, o que mostra diversificação das fontes do banco.

O segmento de seguros continuou com desempenho expressivo, gerando resultado de R$ 5,7 bilhões, com crescimento de 6,5% na base trimestral e 21,7% na anual.

O lucro líquido da seguradora atingiu R$ 2,3 bilhões, com ROAE de 21,4% no segundo trimestre.

Duplo dígito no crescimento de carteira

A taxa média de juros da carteira saiu de 8,6% no primeiro trimestre para 8,8% no segundo trimestre. Esse aumento reflete tanto a melhoria no mix de produtos quanto a estratégia de precificação adotada pelo banco, que contribuiu diretamente para o crescimento da margem financeira com clientes.

A carteira de crédito expandida registrou crescimento de 11,7% na comparação anual e de 1,3% em relação ao trimestre anterior.

Um aspecto relevante foi o aumento da participação das linhas com garantia, que saltou de 57,0% no primeiro trimestre para 58,5% no segundo trimestre, em linha com uma estratégia descrita como conservadora na originação de crédito.

No segmento de pessoas físicas, o banco focou seu crescimento em linhas consideradas mais seguras, como crédito imobiliário e crédito pessoal.

A produção de consignado do INSS foi reduzida em todo o mercado durante o trimestre, reflexo da adequação aos novos critérios regulatórios estabelecidos pelo governo federal.

Para micro, pequenas e médias empresas (MPME), o Bradesco manteve sua estratégia de também priorizar a originação de crédito com garantias, com foco em produtos como desconto de recebíveis e capital de giro.

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A instituição tem aproveitado principalmente os programas do governo federal que contam com garantia dos fundos FGI (para investimentos) e FGO (para operações).

Leve alta dos atrasos em grandes empresas

O controle de riscos permaneceu eficaz, com o índice de inadimplência mantendo-se estável em 4,1% em junho de 2025, mesmo patamar registrado em março.

Essa estabilidade foi observada nos principais componentes, o que evidenciou a efetividade da política de crédito adotada pela instituição financeira.

A inadimplência em pessoas físicas permaneceu estável em 5,1%, enquanto em grandes empresas houve um leve aumento de 0,3% para 0,4%, reflexo da contração na carteira do segmento. Já nas MPMEs, o indicador se manteve em 4,3%.

As despesas operacionais aumentaram 5,9% em relação ao trimestre anterior e 9,9% na comparação anual, um crescimento que foi considerado em linha com as expectativas e reflexo dos investimentos que o banco realiza em transformação digital. Excluindo os impactos de Cielo e Elopar, as despesas teriam crescido 5,8% anualmente.

Durante o trimestre, o banco destinou R$ 3,6 bilhões em juros sobre capital próprio aos acionistas.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.