Bradesco diz que empresas inadimplentes são casos pontuais e que agro é oportunidade

CEO Marcelo Noronha diz que inadimplência está sob controle no país e classificou piora no segmento do agronegócio com carteira da John Deere como ‘soluço’; banco, um dos principais credores da Ambipar, teve aumento da provisão no trimestre

Bradesco
30 de Outubro, 2025 | 10:56 AM

Bloomberg Línea — O CEO do Bradesco (BBDC4), Marcelo Noronha, classificou o agronegócio como oportunidade para o banco e descartou um risco de crise de crédito no país em call com jornalistas sobre os resultados do terceiro trimestre.

As declarações se deram em resposta a questionamentos sobre provisões no segmento de atacado e dificuldades enfrentadas por grandes empresas no mercado, como Ambipar (AMBP3).

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O Bradesco é um dos principais credores da empresa de gestão de resíduos, que pediu recuperação judicial na semana passada com cerca de R$ 11 bilhões em dívidas.

“No curto prazo, pode haver um ‘soluço’ um pouco maior com esse negócio do financiamento de equipamentos do Banco John Deere, mas isso não tira o sono”, afirmou Noronha sobre o quadro de crédito no agronegócio.

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O executivo destacou que o setor segue como um dos mais dinâmicos da economia brasileira. “A tendência dele é de crescimento”, disse, ressaltando que o banco opera predominantemente com garantias no segmento.

O agronegócio pressionou a inadimplência do segundo maior banco privado do país no trimestre, particularmente por causa da carteira recém-adquirida do Banco John Deere, com R$ 17 bilhões em operações de financiamento rural e de equipamentos.

Sobre eventual risco de crise de crédito no país, Noronha foi enfático. “De jeito maneira [há crise]. São casos pontuais. Eu não vejo novos casos”, afirmou.

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O executivo explicou que o grau de alavancagem médio das empresas brasileiras de capital aberto está controlado.

“Há casos ali pontuais, setores que têm um pouco mais de risco, e o mercado consegue enxergar isso aqui. Mas não tem crise”, completou.

Questionado sobre a Ambipar, o executivo evitou comentar casos específicos.

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“Temos um caso conhecido no mercado, outros bancos estão aí, outros credores, mas o fato é que não podemos comentar abertamente certos casos.”

A Provisão para Devedores Duvidosos (PDD) de R$ 9,4 bilhões no terceiro trimestre ficou 4% acima das estimativas do mercado, pressionada por esse caso específico no atacado e pelo crescimento da carteira no segmento de pequenas e médias empresas, além do aumento de provisões no Banco John Deere.

O executivo informou que a despesa recorrente de atacado deve ficar entre R$ 200 milhões e R$ 300 milhões por trimestre.

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Impacto da política monetária

Noronha afirmou que a taxa Selic em 15% ao ano exerce efeitos sobre empresas de determinados segmentos.

“[A taxa] pressiona alguns setores e empresas que têm uma margem Ebitda mais comprimida e até um grau de endividamento adequado, mas que, com essa taxa de juros, começa a enfrentar dificuldade para pagar o serviço da dívida”, afirmou.

Segundo o executivo, o banco mantém apetite moderado ao risco e avaliação rigorosa de crédito, com quase 60% da carteira colateralizada (com exigência de garantias).

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Os ADRs do banco negociados em Nova York caíram cerca de 4% após a divulgação dos resultados na noite de quarta-feira (29), o que foi atribuído por Noronha a uma correção de mercado.

Nesta manhã de quinta-feira, as ações recuavam perto de 3,70% por volta das 10h30 na B3.

“A ação subiu neste ano 78%. Subiu da divulgação do trimestre passado para cá 22%, 23%”, afirmou. Segundo ele, além disso, investidores teriam criado expectativas elevadas nas últimas semanas.

O executivo também abordou a estratégia no consignado privado.

“O resultado caiu. Ficou negativo. O mercado começou a crescer e o banco ficou”, disse, explicando que o banco priorizou empresas com relacionamento prévio.

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A inadimplência do Bradesco para novas operações está em 3%, contra média de mercado de 11%. “É uma grande oportunidade para o Bradesco”, afirmou.

Noronha disse não esperar um aumento da inadimplência da carteira de crédito consolidada ao longo do ano. “Estamos muito tranquilos em relação à nossa carteira”, afirmou.

O banco manteve a projeção de crescimento da carteira de crédito expandida entre 7% e 8% para o ano, mais próximo de 7%.

Noronha encerrou a entrevista coletiva reforçando o plano de transformação do banco, em fase de implementação. “Estamos no sétimo trimestre do nosso plano de transformação, de step-by-step. Ttenho um olhar otimista para o quarto trimestre e também para o ano que vem”, afirmou.

A margem financeira com o mercado caiu 66% no terceiro trimestre, para R$ 100 milhões, mas o CFO Cassiano Scarpelli disse esteve dentro do esperado. “O banco projeta R$ 1 bilhão na margem de mercado para o ano”, disse.

O CEO da Bradesco Seguros, Ivan Gontijo Júnior, destacou o crescimento do lucro recorrente do segmento para R$ 2,5 bilhões, alta de 10% no trimestre.

“O nosso conforto é muito grande e é demonstrado nos últimos trimestres com o crescimento do resultado industrial acima do resultado financeiro”, afirmou.

Análise do sell side

Analistas do BTG Pactual mantiveram recomendação neutra para o Bradesco e afirmaram que as expectativas do mercado estavam elevadas.

“Acreditamos que os números do 3T vieram um pouco mais fracos do que o esperado, e esperaríamos que a ação tenha desempenho inferior”, afirmaram os analistas Eduardo Rosman, Ricardo Buchpiguel e Thiago Paura, em relatório.

Os analistas destacaram o que apontaram como preocupações estruturais de médio e longo prazo.

“O banco tem focado cada vez mais em clientes de alta renda, afastando-se do segmento de baixa renda, em que historicamente se destacou”, apontaram.

E também questionaram a estratégia em pequenas e médias empresas.

“Em PMEs, o interesse tem se concentrado em empréstimos garantidos pelo governo, em que temos dificuldade em enxergar retornos excedentes de forma sustentável”, disseram, acrescentando que “continuamos vendo o Itaú se distanciando ainda mais dos pares entre os incumbentes brasileiros”.

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