Bloomberg Línea — A onda de recuperações judiciais que atinge o agronegócio brasileiro acendeu o alerta nos últimos balanços de instituições financeiras como o Banco do Brasil (BBAS3).
No Bradesco (BBDC4), que também tem atuação relevante no setor, a inadimplência ainda está sob controle e não inibirá a expansão da carteira de crédito rural, segundo seus principais executivos.
Em junho, a carteira rural do Bradesco somava R$ 36,123 bilhões para pessoas físicas e R$ 43,298 bilhões para pessoas jurídicas. Na comparação anual, houve um crescimento de 89,1% (PF) e de 23,1% (PJ), sob impulso de um M&A.
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Os atrasos acima de 90 dias fecharam o semestre estáveis na base anual em 4,1%, mesmo patamar do começo de 2024.
A última aposta no setor foi a aquisição de 50% do Banco John Deere, no ano passado, em uma joint venture para ofertar crédito para produtores rurais e alavancar as vendas de máquinas agrícolas, como tratores.
“Somos o maior banco privado nesse mercado. Queremos crescer. A inadimplência do agro está absolutamente controlada. Operamos com crédito colateralizado [com garantias]”, afirmou Marcelo Noronha, CEO do Bradesco, em entrevista a jornalistas nesta quinta-feira (31).
O executivo defendeu que o agro brasileiro é “o mais competitivo e produtivo do mundo em praticamente todas as culturas”.
Questionado sobre a operação do Banco John Deere, Noronha se disse satisfeito com os resultados e previu crescimento no segmento.
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No segmento rural, todas as operações do banco são realizadas com garantia, o que demonstra uma política conservadora na concessão de crédito, segundo Noronha.
“Há uma ou outra cultura agrícola com dificuldade no setor”, apontou o CEO do Bradesco, que reforçou que o banco não empresta recursos a produtores de culturas que possam apresentar maior risco e sem exigência de garantias.
Outras linhas de crédito
Com a taxa básica de juros (Selic) em 15% ao ano, o CEO do Bradesco manteve uma postura cautelosa e seletiva. O executivo enfatizou que a instituição não está disposta a “entrar em aventura”, mantendo critérios rigorosos de análise de risco e foco em modalidades mais seguras e com garantias.
O crédito consignado continua sendo uma aposta importante, especialmente no setor público, em que o Bradesco afirma ter maior participação que no INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).
Para o crédito imobiliário, os números também mostram segurança, segundo o executivo, com LTV (Loan to Value, indicador usado para avaliar o risco de crédito em empréstimos com garantia, como imóveis) de 51% e produção de 56%, níveis considerados “super garantidos” pela direção. Esta modalidade representa uma das áreas com menor risco na carteira do banco.
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O plano empresarial também opera com 100% de colateralização por meio de recebíveis, seguindo a estratégia de priorizar modalidades mais seguras.
A abordagem tem permitido ao banco operar com maior tranquilidade em um cenário econômico desafiador, segundo Noronha.
Em relação ao custo de risco e crédito, o CEO demonstrou confiança de que os indicadores permanecerão dentro dos padrões esperados.
“Não tenho expectativa de nenhum desvio até o final do ano”, afirmou. Ele destacou o trabalho das equipes de machine learning e os mais de 200 profissionais contratados para incrementar os times.
O ROE (Return on Equity, retorno sobre o patrimônio líquido) tem apresentado crescimento gradual e se aproxima de superar o custo de capital, observou Noronha. O indicador chegou a 14,6% no segundo trimestre, versus 11,4% um ano antes.
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A direção do banco se mostrou otimista com a trajetória do indicador de rentabilidade, embora reconheça os desafios do cenário macroeconômico para o segundo semestre, com os juros que surtem mais efeito sobre a atividade.
O CEO do Bradesco se descreveu com “pé no chão e cautela”, reconhecendo que a taxa real de juros de 9% e os 15% nominais impactam setores específicos.
No entanto ele sustentou a expectativa de que haverá um horizonte melhor, com a atividade econômica ainda em nível razoável.
Ao comentar o cenário geopolítico, Noronha demonstrou otimismo moderado e disse esperar que as questões que envolvem as tarifas norte-americanas às importações brasileiras sejam resolvidas diplomaticamente. Para o banco em específico, a avaliação é que não há impacto material significativo até aqui.
As ações do banco fecharam com queda de 0,83% nesta quinta, depois de chegarem a subir 1% pela manhã. No ano, a alta acumulada é de 36%.
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