Bilionário Jorge Moll mira Fleury e novo império da saúde pode faturar R$ 40 bilhões

Rede D’Or pode comprar fatia do Bradesco no grupo de medicina diagnóstica, segundo relatos na imprensa. Empresas não descartam acerto em fato relevante, mas há desafios como prêmio a ser pago, apontam analistas do Santander

Unidade do hospital Rede D'Or São Luiz Itaim, em São Paulo
21 de Julho, 2025 | 07:50 PM

Bloomberg Línea — O médico cardiologista e bilionário Jorge Moll Filho pode estar prestes a ampliar o domínio da Rede D’Or São Luiz (RDOR3) como maior player do setor de saúde do Brasil.

Fundada em 1977 no Rio de Janeiro, a companhia pode adquirir o Grupo Fleury (FLRY3) em transação estimada em até R$ 10 bilhões, segundo relatos de fontes não identificadas, em nota publicada inicialmente por Lauro Jardim, do Globo.

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A combinação de negócios, caso confirmada, criaria uma gigante com receita bruta anual de quase R$ 40 bilhões. Em 2024, a Rede D’Or registrou receita bruta de R$ 31,3 bilhões, enquanto o Fleury, de R$ 8,3 bilhões.

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Para adquirir o controle do Fleury, tradicional grupo de medicina diagnóstica, a Rede D’Or negocia com o Bradesco (BBDC4), dono de 24,71% da companhia por meio da Bradesco Diagnóstico em Saúde, segundo dados da B3.

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A notícia inicial sobre as conversas entre a Rede D’Or e o Bradesco saiu no domingo (20). As partes evitaram negar a possibilidade de um acordo em fatos relevantes divulgados nesta segunda-feira (21).

A Rede D’Or informou estar “permanentemente avaliando oportunidades de expansão de suas linhas de negócio, inclusive por meio da aquisição de participações ou combinação de negócios com outras empresas do setor”.

A companhia carioca acrescentou, no entanto, que “não existe qualquer decisão, proposta ou documentos celebrados a respeito de eventual transação envolvendo a Fleury S.A. ou seus acionistas”.

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O Fleury disse em fato relevante que “analisa constantemente as condições do mercado, à luz dos seus planos de investimentos, buscando manter-se permanentemente em condições de beneficiar-se de eventuais oportunidades de mercado compatíveis com esses planos e objetivos estratégicos”.

“Não há qualquer decisão da sua administração, tampouco quaisquer compromissos ou documentos celebrados com a Rede D’or, vinculantes ou não, tendo por objeto uma potencial operação”, complementou o Fleury.

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A holding Bradesco Seguros limitou-se a dizer que “o tema deve ser tratado diretamente com as partes envolvidas que, inclusive divulgaram fato relevante ao mercado”.

A reação de analistas e investidores sobre o possível negócio foi positiva. As ações do Fleury fecharam em alta de 15,04% nesta segunda-feira (21), cotadas a R$ 14,53. Os papéis da Rede D’Or subiram 0,70%, cotados a R$ 33,12.

Acordo de acionistas

Há, no entanto, obstáculos a serem vencidos para materializar a combinação de negócios.

O acordo de acionistas do Fleury estabelece que o Bradesco e o grupo de médicos fundadores, que atualmente detêm cerca de 36% da companhia, votam em conjunto.

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“Como resultado, o grupo precisaria de mais apoio para aprovar o acordo”, observaram os analistas Caio Moscardini e Eyzo Lima, do Santander, em relatório.

Os analistas consideram também que o pagamento de um prêmio significativo para as ações do Fleury parece improvável.

“Supondo que a Rede D’Or pague um prêmio de 20% ao Fleury, isso implicaria que a Rede D’Or seria negociada com um prêmio de apenas 16% em relação ao Fleury, o que parece excessivamente baixo”, avaliaram.

A Rede D’Or está sendo negociada atualmente com um prêmio de 39% em relação ao Fleury, o que a equipe do Santander considera razoável devido à posição dominante da Rede D’Or em mercados-chave, ao perfil de crescimento mais elevado e ao maior potencial de retorno.

Já o Fleury está sendo negociado a um P/L (Preço/Lucro) de 9,6x em 2026, o que os analistas consideram já levar em consideração o forte perfil de geração de caixa da empresa.

Os analistas destacam no relatório ainda que Rede D’Or e Fleury são líderes em seus respectivos segmentos e se beneficiam de oportunidades significativas de ganhos de escala.

Além disso, a combinação de marcas de primeira linha em seguros e planos de saúde (SulAmérica), hospitais (Rede D’Or) e diagnósticos (Fleury) poderia se traduzir em uma proposta de valor atraente para os pacientes por meio de ofertas integradas de produtos.

“As principais sinergias podem estar relacionadas à maior escala e, portanto, maior poder de barganha para comprar materiais na Fleury e economias em G&A [Despesas Gerais e Administrativas]”, escreveram os analistas.

Eles utilizaram em sua análise economias de 5% nos custos de materiais do Fleury e eficiências de G&A de 20%, calculando um VPL (valor presente líquido) de R$ 2 bilhões.

Um possível acordo com a Rede D’Or poderia representar também uma jogada defensiva e estratégica do Fleury, segundo os analistas.

Eles citaram que o cenário competitivo está se deteriorando para a companhia, já que a concorrente Dasa (DASA3) terá um foco maior no negócio de diagnósticos após a transferência da maioria dos hospitais para a joint venture com a Amil, sob a marca Rede Américas.

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“Além disso, a Amil (estimada em representar cerca de 8% da receita do Fleury) poderia começar a intensificar os esforços para transferir o tráfego de pacientes das marcas do Fleury para as da Dasa”, observaram.

Segundo o Bloomberg Billionaires Index, Jorge Moll e família possuem uma fortuna estimada em US$ 8,06 bilhões, com a posição de número 425 no ranking das pessoas mais ricas do mundo. Ele detém individualmente 16,40% do capital da Rede D’Or, segundo dados da B3. A companhia é avaliada em R$ 75,3 bilhões, enquanto o Fleury, em R$ 6,91 bilhões.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.