Bloomberg Línea — A Bemobi avalia que há oportunidades para levar suas soluções de pagamentos digitais para os segmentos de utilities, educação, seguro saúde e outros, incluindo em países da América Latina, depois de uma expansão nas áreas de energia e telecom no Brasil nos últimos anos.
De acordo com o CEO, Pedro Ripper, a empresa de tecnologia brasileira tem olhado outros segmentos no Brasil em sua estratégia de expansão, em especial saneamento e gás.
A Sabesp (SBSP3), por exemplo, foi uma das empresas que assinaram contrato com a empresa de tecnologia depois da privatização no ano passado e hoje trabalha com as soluções da Bemobi para oferecer meios de pagamento digitais a seus clientes, inclusive com o WhatsApp.
O foco da Bemobi está principalmente em atender as necessidades de empresas que prestam serviços essenciais e fazem cobranças recorrentes a consumidores.
Hoje a empresa atende principalmente empresas de energia, telefonia móvel e banda larga, educação básica e superior, saneamento e de seguro saúde, mas o objetivo é ir além dessas áreas de atuação.
“A nossa aposta, além de crescer nos segmentos em que já estamos, é entrar em alguns outros, dentro dessa tese de serviço recorrente”, disse Ripper em entrevista recente à Bloomberg Línea.
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O crescimento da empresa tem sustentado uma valorização das ações. Os papéis da Bemobi (BMOB3) acumulavam alta da ordem de 67% em 2025 até a quinta-feira (18), ante uma alta de 32% do índice Small Caps (SMLL) da B3.
No segundo trimestre, a Bemobi registrou receita líquida de R$ 175,1 milhões, 19% acima do resultado do mesmo período do ano passado, e um lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) de R$ 59,9 milhões (alta de 24%).
Pagamentos digitais avançados para empresas tradicionais
A tese da Bemobi tem como base oferecer meios de pagamentos mais novos e mais avançados para grandes empresas que, muitas vezes, não têm a infraestrutura ou as equipes necessárias para integrar todas as soluções.
Nos últimos anos, o Brasil tem visto o surgimento de uma grande variedade de soluções de pagamento, a começar pelo Pix e todas as suas variações, como Pix por QR Code, Pix por aproximação, Pix Automático, Pix agendado, entre outros.
Além disso, bancos, empresas de tecnologia como Google, Apple e Mercado Livre e outros investem para criar suas próprias soluções de wallets (carteiras digitais). E bandeiras de cartão criam serviços de pagamento digital.
Para Ripper, esses meios de pagamento buscam trazer mais conveniência e flexibilidade para os consumidores, mas, na prática, são poucas as empresas que de fato conseguem oferecer todas as soluções aos seus clientes.
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Isso criou o que ele chama de uma “dicotomia”.
De um lado, há empresas de tecnologia e do setor financeiro que investem muito e têm equipes para desenvolver essas soluções. Do outro, estão companhias tradicionais, com sistemas legados, e ainda fazem cobranças principalmente por meio de boleto e começaram a oferecer o Pix há pouco tempo.
“Nossa missão é atender essas indústrias tradicionais e levar para os clientes dessas empresas uma experiência como a que eles têm ao fazer compras em um e-commerce, e de uma maneira mais acessível”, afirmou Ripper.
“As pessoas esquecem, mas o consumidor é o mesmo. A pessoa que compra no Mercado Livre é a mesma que paga a conta de luz, paga a conta da escola, de banda larga”, ressaltou.
“Algumas experiências de compra da vida dela são bacanas. Ela parcela, divide um pedaço com o Pix, com um cartão, com dois cartões. E quando vai pagar metade das contas que ele paga do dia a dia, tem apenas a opção de Pix, boleto e olhe lá.”
A aposta tem se refletido nos números.
No segundo trimestre, as verticais de pagamentos digitais e de Software-as-a-service (SaaS), que estão ligadas mais diretamente a essa estratégia, tiveram crescimento de 25,7% e de 14%, respectivamente, em relação ao mesmo período do ano passado.
Segundo Ripper, essas duas verticais já representam cerca de 60% das receitas, e a tendência é que elas sejam as principais frentes de crescimento no curto e médio prazo.
“Não chega a ser uma meta, mas, neste ano e no próximo, achamos que 70% ou 80% do crescimento vai vir da combinação desses dois negócios”, afirmou. “E, olhando para a frente, nos próximos três anos, vai ser 80% ou 90% do crescimento.”
“Leva um tempo. Todos os negócios também crescem, mas a tendência é que ela cresça mais do que o resto”, disse.
Para o executivo, os riscos para que o crescimento se concretize estão ligados ao tempo de implementação das soluções pelos clientes e também à concorrência.
“Não tem muita dúvida de que esses pagamentos novos vão ganhar espaço versus o boleto, e que o cliente quer flexibilidade”, disse.
“O maior risco é que essas empresas com que trabalhamos são grandes e têm os próprios desafios de sistemas etc. Tudo leva um certo tempo. E obviamente é um mercado competitivo. Hoje estamos na frente, mas eventualmente outros concorrentes nossos também vão se especializar.”
Expansão na América Latina
Um impulso pode vir do crescimento da frente de pagamentos fora do Brasil e, em especial, em outros países da América Latina.
Hoje a Bemobi já trabalha com a Enel no Chile nessa frente, e Ripper disse ver “uma oportunidade muito grande” também de crescer no México e na Colômbia com esse tipo de oferta.
Os setores de telecom e utilities são as áreas em que a Bemobi mira atualmente na América Latina, uma vez que têm características parecidas às do Brasil nos países da região - em certos casos, com a mesma empresa com atuação global.
“Acredito que teremos novidades nos próximos seis meses. Temos uma parceria no Chile, que foi a primeira. Temos um caso na Colômbia e outro no México bem avançados. São projetos em que estamos trabalhando há mais de um ano e estão quase maduros para que possam ser comunicados”, afirmou.
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