BB não vai desacelerar o crédito mesmo após ‘surpresa negativa’ no balanço, diz CEO

Tarciana Medeiros disse a jornalistas que o Banco do Brasil vai buscar o guidance de carteira já divulgado para o ano e vê alta de pedidos de recuperação judicial como ‘advocacia predatória’

Tarciana Medeiros, CEO do Banco do Brasil
16 de Maio, 2025 | 05:52 PM

Bloomberg Línea — O Banco do Brasil (BBAS3) não pretende desacelerar o ritmo de concessão de crédito, mesmo após o impacto negativo considerado surpreendente do balanço no primeiro trimestre de 2025, segundo a CEO, Tarciana Medeiros.

O banco estatal teve queda anual de 20% no lucro líquido, que somou R$ 7,37 bilhões, impactado principalmente pela magnitude da inadimplência na carteira para o agronegócio.

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“Nós não vamos arrefecer a oferta para o cliente que tem perfil [adequado] para receber crédito”, afirmou a CEO do BB em entrevista a jornalistas nesta sexta-feira (16) para comentar os resultados do banco. “Não vamos segurar crédito. Vamos buscar as metas [de carteira] propostas para 2025.”

A inadimplência da carteira do agro subiu 1,85 ponto percentual (p.p.) frente ao primeiro trimestre de 2024, para 3,04%. Na carteira de crédito total, também houve avanço na base anual, de 2,90% para 3,86%.

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O BB vem sendo pressionado desde o ano passado por um movimento de recuperações judiciais que elevaram a inadimplência no agronegócio diante da queda das cotações de grãos – que representam um terço da carteira de crédito da estatal.

O movimento é classificado como “advocacia predatória” pela presidente do banco, que admitiu surpresa com a magnitude do impacto negativo nos números do primeiro trimestre. “Vimos uma inadimplência mais agravada do segmento agro do que nós projetamos”, disse Medeiros.

O Banco do Brasil também sofreu o impacto para a transição da resolução CMN 4.966, que alinha práticas contábeis ao padrão internacional.

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Segundo os executivos do BB, a norma criou uma “jabuticaba” ao exigir pisos mínimos de provisão que acabam sendo mais conservadores que os modelos do banco, levando a R$ 1 bilhão em provisões extras.

A norma impacta principalmente o segmento agro, que conta com prazos mais alongados de pagamento dos empréstimos, alinhado com o ciclo da safra.

O BB informou que pretende iniciar conversas com o Banco Central para instituir um tratamento diferenciado na carteira do agronegócio no âmbito da resolução.

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Leia mais: Tarciana Medeiros tem conciliado diversidade e lucro no BB. E vem mais desafio

“Outros bancos não tiveram esse mesmo impacto, mas eles não têm R$ 406 bilhões na carteira do agronegócio”, afirmou o CFO do BB, Geovanne Tobias.

Segundo o banco, 96% dos clientes do agro estão adimplentes e a pressão atual é causada por 4% da base.

A expectativa é a de estabilização da carteira nos próximos trimestres, diante, especialmente, dos números da safra 2025, que promete ser recorde.

Apesar de o agro ter sido o “vilão” do balanço do primeiro trimestre, a inadimplência avançou em todos os segmentos.

Em pessoa física, a inadimplência subiu de 4,77% para 5,10% em 12 meses, enquanto, na jurídica, passou de 3,19% para 4,06%.

O Banco do Brasil atribuiu a adaptação da resolução 4.966 à alta no segmento PF.

Já o segmento PJ foi impactado por uma piora nas pequenas e nas médias empresas. Ainda assim, a presidente reforçou que não enxerga descontrole na carteira de crédito PF e PJ e que as projeções para o ano serão mantidas.

Em pessoa física, os executivos destacaram também a ambição do banco em crescer na nova modalidade de consignado privado.

O banco estatal tem sido mais agressivo que os pares na concessão da modalidade e já tem uma carteira de R$ 3 bilhões no segmento – cerca de 30% do volume total contratado. Para o segundo trimestre, o plano é alcançar algo entre R$ 6 bilhões e R$ 7 bilhões.

Ainda assim, a incerteza segue alta.

O BB indicou revisão do guidance divulgado para o ano de 2025 em suas principais métricas: margem financeira bruta, custo de crédito e lucro líquido.

A expectativa é que os números do segundo trimestre tragam mais clareza sobre os rumos da inadimplência no agro e sobre os efeitos da resolução e, por consequência, seus impactos no resultado do banco em 2025. Isso poderia em tese permitir a divulgação de novos guidances.

Em reação de investidores ao balanço, as ações do Banco do Brasil afundaram 12,69% na bolsa nesta sexta-feira. Mas ainda acumulam ganhos acima de 7% no acumulado de 2025.

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Beatriz Quesada

Jornalista especializada na cobertura econômica. Formada pela USP, escreve sobre mercados, negócios e setor imobiliário. Tem passagens por Exame, Capital Aberto e BandNews FM.