Azul prevê gerar mais caixa em 2024 com ampliação de oferta a custo menor, diz CEO

John Rodgerson diz que foco neste ano é aumentar a eficiência operacional com o menor custo do combustível e aproveitar a demanda crescente por voos no Brasil

Avião da Azul em Campinas
28 de Março, 2024 | 05:39 PM

Bloomberg Línea — Após uma reestruturação de dívida no ano passado, a Azul (AZUL4) vai colocar foco na melhoria operacional em 2024, de olho em aproveitar a demanda crescente por voos no Brasil. Prestes a receber novas aeronaves, a companhia aérea elevou sua projeção (guidance) para a geração de caixa neste ano. O Ebitda esperado saltou de R$ 6,3 bilhões (perspectiva anterior) para R$ 6,5 bilhões.

Para justificar essa revisão positiva, o CEO da Azul, John Rodgerson, citou a tendência de menor custo de combustíveis, o aumento da capacidade e da eficiência, além do mercado de viagens ainda aquecido no país. Ele apontou ainda a estratégia da companhia de avançar com novas rotas principalmente fora do Sudeste, região em que a concorrência é maior com Gol (GOLL4) e Latam (LTM).

“O foco é ser mais eficiente em 2024. Estamos colocando uma maior capacidade com um custo menor de combustível (veja mais abaixo). E a demanda continua forte”, afirmou o executivo nesta quinta-feira (28) em conversa com jornalistas.

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A Azul espera aumentar a capacidade aproximadamente em 11% neste ano na comparação com 2023. O CEO destacou ainda a expectativa de um maior número de aeronaves com baixo consumo de combustível que vão entrar na frota. No fim do ano passado, aproximadamente 82% de sua capacidade estava em aeronaves de nova geração.

Rodgerson citou a expectativa de entregas de 11 a 13 aviões da Embraer até o final do ano. Em 2023, a empresa aérea transportou 17,227 milhões de passageiros, acima dos 14,594 milhões de 2022.

Alex Malfitani, CFO da Azul, disse que, depois da reestruturação de dívida no ano passado, a Azul voltou a acessar fontes de capital em melhores condições no mercado. Além disso, a empresa deve queimar menos caixa com pagamento de juros.

“Estamos acessando crédito com agentes financeiros sem a exigência de colateral [garantia]. É a primeira vez que isso acontece desde a pandemia.”

Com o aumento esperado para o Ebitda, a companhia projetou que chegará ao final de 2024 com uma alavancagem (dívida líquida/Ebitda) em torno de 3x, abaixo das 3,7x do ano passado.

A administração da empresa expressou confiança em continuar a reduzir a alavancagem de forma orgânica neste ano, depois de ter firmado acordos comerciais para a extensão dos prazos de pagamentos das dívidas com parceiros.

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A Azul terminou 2023, no entanto, com uma dívida bruta 6,3% maior, totalizando R$ 23,1 bilhões - ante R$ 21,8 bilhões em dezembro de 2022. A dívida líquida somou R$ 19,3 bilhões, muito acima do valor de caixa (R$ 3,8 bilhões) no final do ano. A companhia teve um prejuízo líquido de R$ 2,380 bilhões em 2023, mais que o triplo da perda de 2022 (R$ 722,367 milhões).

Em março de 2023, a companhia celebrou acordos com seus principais arrendadores, com a suspensão temporária de pagamentos relacionados aos aluguéis de aeronaves.

Os arrendadores concordaram em receber títulos de dívida negociáveis com vencimento em 2030 e dívida com possibilidade de liquidação de ações PN (preferenciais) da Azul ou caixa. Até o final de 2023, a Azul tinha repactuado 119 contratos de arrendamento.

Malha aérea

Ao exemplificar os destaques da malha aérea da Azul, Rodgerson destacou sua presença crescente nas rotas com partida ou destino nas capitais do Norte, como Belém (Pará) e Manaus (Amazonas), e do Nordeste, como Recife (Pernambuco), além de Cuiabá (Mato Grosso), no Centro-Oeste. No Sudeste, a Azul apontou o aeroporto internacional de Belo Horizonte, em Confins, em Minas Gerais como um destaque de desempenho positivo.

Em Congonhas, na capital paulista, a situação é mais desafiadora para o aumento da presença da Azul. O CEO disse que a Gol, que entrou com procedimento equivalente à recuperação judicial pelo Chapter 11 nos EUA, vai proteger seus atuais slots (autorizações para horários específicos de chegadas e partidas) no aeroporto. Ele não quis comentar o suposto interesse da Azul, comentado no mercado, em comprar a rival.

“O único aeroporto fechado para nós é Congonhas, que não está no nosso radar”, resumiu o executivo.

A frota operacional de passageiros da Azul somava 183 aeronaves em dezembro, acima do número final de 2022 (177) - houve crescimento anual de 3,4%. A companhia voa principalmente com modelos das fabricantes Airbus (66) e Embraer (57), além de ATR (36) e Cessna (24).

As despesas com combustível de aviação recuaram 10,2% em 2023, representando um valor total de R$ 5,890 bilhões. O preço do combustível por litro caiu 16,1% no ano passado, excluindo impacto do hedge.

Também houve uma redução de combustível por ASK (indicador de oferta) como resultado da frota de nova geração mais eficiente, segundo o balanço.

O indicador ASK (Available Seat-Kilometers, assentos-quilômetros oferecidos) calcula a oferta pela multiplicação do número de assentos disponíveis para comercialização pela distância percorrida em cada etapa. Em 2023, a Azul elevou sua receita operacional para valor recorde de R$ 18,7 bilhões, aumento de 17,2%.

A visão do sell side

Analistas apontaram em relatório que o resultado operacional da Azul foi positivo no quarto trimestre, com aumento de 34% no Ebitda (R$ 1,5 bilhão) em 12 meses.

A equipe de equity research da XP destacou a recuperação da demanda no trimestre (alta de 9% ano contra ano), o melhor ambiente de rentabilidade (aumento de 4% ano contra ano) e aumento da métrica conhecida como fator de utilização (incremento de 1,9 ponto percentual na base anual).

“O guidance revisto para 2024 implica perspectivas ligeiramente melhores no médio prazo”, citou a XP em relatório, que tem recomendação “neutra” para o papel da Azul.

Já o Itaú BBA, que tem recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado) para a ação da Azul com preço-alvo de R$ 24, também enxergou tendências positivas no balanço e notou que a receita líquida da Azul ficou um pouco acima do esperado, demonstrando a demanda resiliente no setor aéreo brasileiro. O relatório destacou ainda a melhora nos níveis de alavancagem e um ambiente competitivo saudável em geral.

Nesta quinta, as ações da Azul encerraram com queda de 7,65%, cotada a R$ 13,04, em dia em que o Ibovespa teve leve alta de 0,33%.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.