Após cinco aquisições em 2023, Totvs mantém a aposta em M&A para crescer, diz CEO

Dennis Herszkowicz afirma em entrevista à Bloomberg Línea que, mesmo em ambiente econômico de juros elevados, as aquisições são importantes para trazer talentos e se fortalecer no mercado

Sede da Totvs, uma das principais empresas de tecnologia do país
07 de Dezembro, 2023 | 04:45 AM

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Bloomberg Línea — Depois de realizar novas fusões e aquisições nos últimos meses de 2023, a Totvs (TOTS3) avalia que as operações de M&A continuarão a ser uma ferramenta essencial para o crescimento da empresa brasileira de software, de acordo com o CEO Dennis Herszkowicz, em entrevista recente à Bloomberg Línea.

O CEO destaca a importância contínua das operações de M&A para o desenvolvimento da Totvs, especialmente em um ambiente de juros elevados que torna as transações mais desafiadoras.

A Totvs acertou em outubro a aquisição da franquia IP por R$ 137,6 milhões e, no dia 30 de novembro, anunciou a compra da 100% da Ahgora, uma startup de recursos humanos (ou HRtech) focada em gestão de ponto eletrônico e frequência, por R$ 380 milhões.

Com as duas aquisições, o número de fusões e aquisições realizadas pela empresa chega a cinco em 2023, somando um total de mais de R$ 500 milhões desembolsados, com fusões com franquias e uma compra de sua subsidiária RD Station, que adquiriu a Exact Sales.

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Segundo o executivo, o ambiente de juros elevados torna o mercado mais difícil para as operações, mas elas ainda assim continuam sendo importantes como uma forma de trazer talentos e fortalecer a posição da empresa no mercado.

“Ficou um pouco mais difícil para as empresas. O que era um mercado com muita liquidez, no qual qualquer empresa tinha acesso irrestrito a capital, hoje não é assim”, disse Herszkowicz.

As ações da Totvs acumulavam alta de 24,6% em 2023 até quarta-feira (6) e têm alcançado as máximas do ano nos últimos pregões. Os papéis se recuperaram de uma baixa de 3,5% em 2022, e neste ano têm uma performance acima do índice Ibovespa (IBOV), de 14,5%, no mesmo período.

Dennis Herszkowicz, CEO da Totvs

Antes da Ahgora, a Totvs já havia feito aquisições na área de RH, com a aquisição da Feedz em 2022, startup especializada em soluções por assinatura voltadas para engajamento, desempenho e clima organizacional.

Em relatório do dia 30 de novembro, os analistas do BTG Pactual apontaram oportunidades de venda cruzada com o segmento de gestão da Totvs, já que a recém-adquirida Ahgora tem uma receita recorrente anual de R$ 84 milhões (2% da receita de gestão da Totvs), e suas receitas líquidas cresceram a uma taxa composta de crescimento anual (CAGR) de 45% de 2019 a 2022.

Segundo o relatório do BTG, a Totvs é a principal fornecedora de software de RH no Brasil, processando a folha de pagamento de 10 milhões de pessoas. O software da Ahgora atende a 1,8 milhão de pessoas (ou seja, 18% da base da Totvs).

“As oportunidades de venda cruzada parecem significativas, pois a Totvs pode oferecer aos seus 40 mil clientes de gestão as soluções complementares que a Ahgora traz (por exemplo, marcação de ponto eletrônico baseada em reconhecimento facial)”, dizem os analistas do BTG.

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“Essa venda cruzada intra-vertical é a estratégia que a Totvs executou de maneira eficaz ao longo do tempo. Mas também há uma perspectiva de vender a solução para outros segmentos. Os novos 1,8 milhão de usuários que a empresa irá incorporar representam um mercado endereçável para o segmento Techfin (principalmente o produto de empréstimo consignado)”, afirma o relatório.

Parceria com o Itaú

Herszkowicz abordou também a joint venture com o Itaú (ITUB4), destacando a satisfação da Totvs com essa parceria recente com a Techfin, de serviços financeiros personalizados por meio dos sistemas da Totvs.

Nos resultados do terceiro trimestre de 2023, a operação Techfin teve uma originação de crédito de R$ 2,9 bilhões (um aumento de 16% trimestre contra trimestre, superando as expectativas dos analistas), principalmente devido a um forte desempenho do agronegócio, segundo analistas do Itaú BBA.

A receita líquida (líquida de custos de financiamento) foi de R$ 97,8 milhões devido a uma originação de crédito mais forte, um custo menor de financiamento e um aumento (11 dias) no prazo médio do crédito. “Como este é um negócio com forte alavancagem operacional, a margem de contribuição foi de R$ 64,5 milhões (+33% ano contra ano)”, disse o Itaú BBA, em relatório.

Segundo o Itaú BBA, a margem de juros sobre créditos foi muito alta (4,9%), muito melhor que no terceiro trimestre de 2022, o que impulsionou as receitas (e resultados).

No terceiro trimestre, a margem Ebitda da Totvs como um todo atingiu quase 44%, “indicando saúde financeira”, segundo Herszkowicz.

Ao abordar perspectivas futuras, ele expressou confiança na dinâmica contínua, apesar de um mercado desafiador. Métricas positivas, como novas vendas se transformando rapidamente em receitas adicionais, reforçaram a expectativa de um quarto trimestre promissor.

Com um terço das empresas listadas na bolsa sendo clientes da Totvs e uma geração de caixa superando R$ 1 bilhão por ano, Herszkowicz disse que a receita consolidada cresceu 19%. A empresa tem hoje mais de 70 mil clientes.

“Olhando a penetração de mercado, o espaço para continuar crescendo é muito grande. Na medida em que você vai padronizando os produtos, você vai tirando a necessidade de implantações muito longas, você vai colocando elementos de implantação remota e reduzindo esse custo e, consequentemente, consegue atender um grupo de empresas menores”, diz o executivo.

“Até alguns anos atrás, normalmente a gente não conseguiria vender um projeto para um cliente que tivesse uma receita anual muito menor do que R$ 15 milhões. Agora isso abre mercado para nós também.”

Recompras de ações

A Totvs também divulgou recentemente um programa de recompra de 18 milhões de ações (3% das ações em circulação) que será efetivo até 8 de novembro de 2024.

A recompra de ações, que pela primeira vez não está vinculada a programas de remuneração, foi explicada como uma estratégia para proporcionar um retorno maior aos acionistas, segundo Herszkowicz.

“Olhamos o valor da ação e entendemos que o valor não conversa com o desempenho operacional e financeiro da companhia”, disse. “Estamos muito seguros que o desempenho que a companhia tem nos últimos anos e trimestres é um desempenho que justifica um valor de mercado maior para companhia.”

Herszkowicz esclareceu que a cautela dos investidores estrangeiros em relação ao Brasil não se deve apenas à Selic, mas também a fatores geopolíticos globais.

Ele destacou que o país está em sintonia com a redução de taxas de juros, afastando a ideia de que os investidores estrangeiros estão mais cautelosos só por conta da taxa brasileira, o que faria da Totvs mais desvalorizada do que seus pares americanos.

“Não acho que o investidor estrangeiro seja mais cauteloso em função dos juros, ele é provavelmente mais cauteloso em um cenário geopolítico econômico do mundo como um todo”, afirmou.

A Totvs não é a única entre as brasileiras listadas nesta estratégia. A Stone (STNE) informou autorizou um programa de recompra de ações, em que a empresa poderá adquirir até R$ 1 bilhão em ações ordinárias Classe A em circulação na Nasdaq.

A VTEX (VTEX) recentemente renovou seu programa de recompra, válido até 10 de agosto de 2024, no valor de até US$20 milhões em ações ordinárias Classe A.

“A decisão sobre o momento e a quantidade de ações recompradas, se ocorrer, ficará a critério da nossa administração, levando em consideração as condições de mercado e outros fatores relevantes. Este anúncio reflete a nossa confiança na posição financeira da VTEX e o nosso compromisso em buscar entregar valor de longo prazo aos nossos acionistas”, disse a VTEX, em comunicado à Bloomberg Línea.

Uma empresa pode optar por recomprar suas próprias ações como um sinal de confiança por parte da administração na saúde e no desempenho futuro da empresa ou para aproveitar oportunidades de mercado, se as ações da empresa estiverem sendo negociadas a um preço considerado abaixo do valor intrínseco.

Outra possibilidade é melhorar o gestão de capital, já que as recompras de ações podem ser uma maneira eficaz de devolver dinheiro aos acionistas, especialmente quando a empresa tem excesso de caixa e não vê oportunidades de investimento atraentes em seu próprio negócio.

Sucessão

Dennis Herszkowicz, que foi CFO da Linx antes da aquisição da empresa pela Stone, tornou-se o diretor presidente da Totvs em 2018, assumindo o cargo do fundador Laércio Cosentino.

Herszkowicz destacou a importância de respeitar o papel do fundador, afirmando que seu objetivo como CEO é ser o melhor na função, não substituindo o papel eterno do fundador Laércio Cosentino.

“Um investidor me perguntou se eu iria vestir os sapatos do fundador. Eu nunca vou vestir os sapatos, porque o papel de fundador é eterno. Esse papel nunca vai deixar de ser dele. Meu papel é tentar ser o melhor CEO que essa companhia já teve até agora, mas nada além disso”, disse Herszkowicz à Bloomberg Línea.

Da mesma forma, Juliano Tubino, que era vice-presidente de Business Performance da Totvs, assumiu em março deste ano o cargo de CEO do RD Station no lugar do fundador Eric Santos. Tubino observou a transformação na gestão da empresa, destacando a transição para a segunda fase da estratégia de negócios, marcada pela integração da inteligência artificial em todas as operações, desde CRM até soluções de conversa.

“Quando houve a sucessão de CEO da RD foi mais do que uma sucessão de liderança, foi a segunda fase do que a gente queria fazer com essa estratégia de negócios (...) Ano que vem talvez falaremos menos da palavra Inteligência Artificial, mas mais de IA, vendas com IA, marketing com IA, vai ser uma tecnologia inclusa”, disse Tubino.

Quanto ao cenário financeiro, Herszkowicz destacou a solidez da empresa, alcançando um NPS (net promoting score) competitivo, mantendo preços acessíveis e focando no segmento SMB (pequenas e médias empresas). “O espaço para continuar crescendo é muito grande”, disse.

-- Corrige nome do CEO da RD às 11h51 do dia 7/12

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups