Anglo deixa setor de diamantes e platina em reestruturação após oferta da BHP

Empresa também venderá ou fechará o negócio de níquel que tem no Brasil; segunda oferta de US$ 43 bi da BHP foi rejeitada pela mineradora

Anglo American
Por Thomas Biesheuvel e William Clowes
14 de Maio, 2024 | 10:22 AM

Bloomberg — A Anglo American sairá dos setores de mineração de diamantes, platina e carvão em uma reestruturação massiva projetada para se proteger de uma oferta de aquisição de 34 bilhões de libras (US$ 43 bilhões) da rival BHP e transformar a mineradora em uma gigante do cobre.

O movimento da Anglo vem após a oferta da BHP — que ela rejeitou duas vezes —, mas também responde à pressão dos acionistas para se desfazer de negócios menos lucrativos e focar nos ativos de cobre que são cobiçados pela indústria.

A mudança deixa a empresa muito mais simples — embora também potencialmente mais atraente para compradores.

Leia mais: BHP diz que rival Anglo American rejeitou proposta de aquisição por US$ 43 bi

PUBLICIDADE

“Esta não é a direção que a BHP queria tomar”, disse Lachlan Shaw, analista do UBS (UBS).

A Anglo está apostando no apoio de seus investidores ao seu plano — e na capacidade da gestão para entregá-lo — em vez de pressionar para aceitar uma oferta da BHP.

Os investidores estavam exigindo que a Anglo apresentasse seu próprio plano, e o movimento de hoje responde ao que alguns acionistas estavam pedindo.

As ações da Anglo caíram 0,8% para 26,85 libras na negociação em Londres, abaixo das 27,53 libras que a BHP está oferecendo. A Amplats, como é conhecida a unidade de platina, caiu até 10% em Johanesburgo.

Novo foco

A Anglo agora se concentrará em minas de cobre e minério de ferro, seus dois maiores e mais consistentes produtos, e os quais mais atraem a BHP.

Talvez de forma controversa, ela também continuará com seu projeto de fertilizantes Woodsmith no norte da Inglaterra, o qual alguns investidores pediram para que ela desistisse. No entanto, os gastos sofrerão grandes cortes.

A Anglo disse nesta terça-feira (14) que planeja desmembrar ou vender seu negócio de diamantes da De Beers, separar sua unidade Anglo American Platinum e vender suas minas de carvão coque na Austrália.

PUBLICIDADE

Também reduzirá os gastos com uma mina de fertilizantes na Inglaterra. Isso deixará uma empresa muito mais simples focada em minério de ferro e cobre, um metal-chave para a transição energética.

Gráfico: anglo American

A empresa também venderá ou fechará seu relativamente pequeno negócio de níquel no Brasil.

O mercado de níquel tem sido prejudicado por uma inundação de oferta de baixo custo da Indonésia, e várias mineradoras foram forçadas a suspender a produção em países como Austrália e Nova Caledônia.

Reestruturação

A decisão de reduzir drasticamente e simplificar seus negócios vem sendo tomada há anos na Anglo, que sempre foi um mix de commodities. No entanto, a abordagem da BHP serviu como um catalisador para a empresa acelerar decisões que ela vem adiando por anos.

A De Beers — apesar de seu status como um ativo “troféu” — parecia cada vez mais fora de lugar dentro do portfólio da Anglo. O mercado de diamantes ficou mais volátil nos últimos anos, oscilando entre boom e queda.

Os desafios colocados pelas mudanças nos hábitos dos consumidores exigem cada vez mais gastos em setores como publicidade, uma área fora da zona de conforto de muitos investidores em mineração.

A Anglo disse nesta terça-feira que a De Beers será vendida ou desmembrada. Isso quebrará o vínculo de quase 100 anos entre as duas empresas, com a Anglo se tornando primeiro um grande acionista em 1926.

A Anglo também buscará sair da Amplats, como é chamada sua unidade de platina. O negócio está atualmente listado na África do Sul, com a Anglo como principal proprietária. Seu negócio de carvão coque, que fica adjacente às minas da BHP, também será vendido, e a Anglo disse que já recebeu interessados.

A BHP havia feito do desmembramento da Amplats — e de sua unidade de minério de ferro da África do Sul — pré-requisitos para uma oferta. A Anglo disse que essa proposta subvaloriza a empresa, acrescentando que a estrutura do acordo é inviável.

“O resultado da revisão estratégica da Anglo não mudará os planos da BHP, mas eles provavelmente estão avaliando ativamente onde estão agora à luz disso”, disse Shaw, do UBS.

A Anglo também reduzirá os gastos em uma mina de fertilizantes de US$ 9 bilhões no norte da Inglaterra, que tem sido um ponto focal para investidores e analistas que têm pressionado a empresa para reformular seu diversificado portfólio de ativos.

A empresa — que vem gastando cerca de US$ 1 bilhão por ano na gigantesca mina Woodsmith — reduzirá os gastos para cerca de US$ 200 milhões em 2025, e planeja não gastar nada em 2026. Também buscará trazer um ou mais parceiros estratégicos para analisar os custos do projeto, disse ela.

Além dos enormes compromissos de gastos, as preocupações dos investidores com a Woodsmith foram ampliadas, porque ela produzirá um produto de fertilizante relativamente obscuro chamado polihalita, e a Anglo precisará criar um novo mercado global para ele quase do zero.

Na avaliação de Grant Sporre, analista de mineração e metais da Bloomberg Intelligence, o desinvestimento planejado pela Anglo American da Anglo Platinum, De Beers, Carvão Metalúrgico e Níquel pode levar pelo menos 18 meses para ser concluído, e “tem grande parte dos mesmos riscos de execução e de cronometragem que a oferta da BHP que ela rejeitou”.

“No entanto, uma carteira menor e mais focada poderia atrair uma gama mais ampla de potenciais compradores uma vez que os desinvestimentos forem concluídos.”

Veja mais em Bloomberg.com