Bloomberg Línea — A AMMO Varejo, empresa controlada pela Coteminas e dona das marcas Artex, mmartan e Casas Moysés, terá nova chance de aprovar seu plano de recuperação judicial na próxima sexta-feira (5), segundo documento enviado à CVM (Comissão de Valores Mobiliários) na última sexta (28).
A assembleia geral de credores já foi adiada três vezes desde junho. A empresa aguarda votação de um plano que prevê reestruturação de passivos de R$ 393,5 milhões. A aprovação depende da aceitação da maioria dos credores às condições propostas.
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O plano prevê alienação de bens, constituição de unidades produtivas isoladas e captação de novos recursos.
A criação de fundos de investimento viabilizará pagamentos aos credores. A marca mmartan foi incluída como garantia adicional no acordo com debenturistas.
A varejista especializada em produtos de cama, mesa e banho é controlada pela Coteminas, do empresário Josué Gomes da Silva, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), por meio da Springs Global Participações.
Ambas enfrentam processos de recuperação judicial distintos, com passivos e credores separados.
Os números do balanço de 2024 divulgado na sexta revelaram retração operacional e deterioração da geração de caixa, apesar da redução do prejuízo.
A receita líquida da AMMO caiu 39,3% em 2024, para R$ 202,5 milhões. O GMV (volume total de mercadorias transacionados) recuou 32,6%, para R$ 428,2 milhões.
O prejuízo atingiu R$ 76,2 milhões, ante R$ 156,4 milhões em 2023.
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A margem Ebitda ficou negativa em 33,9% (versus -12,7% em 2023), com Ebitda negativo (métrica de geração de caixa operacional) de R$ 68,7 milhões.
A margem bruta oscilou levemente de 48,7% para 49%. O capital de giro encolheu 47,5% no último trimestre de 2024, para R$ 15,1 milhões.
A rede encerrou o ano de 2024 com 191 lojas (51 próprias e 140 franquias), o que representou uma queda de 26,3% ante 2023. O e-commerce despencou 58,7%, o equivalente a apenas 6,8% do GMV total.
A dívida líquida (excluindo arrendamentos) caiu de R$ 230,7 milhões para R$ 190,8 milhões.
Acordo com credores
A segunda lista de credores, publicada em fevereiro deste ano, totalizava R$ 393,5 milhões em dívidas: R$ 1,4 milhão em créditos trabalhistas, R$ 24 milhões quirografários, R$ 559 mil de micro e pequenas empresas, R$ 249,4 milhões não sujeitos à recuperação e R$ 118,1 milhões em passivos fiscais.
O acordo de reestruturação das debêntures, assinado em julho de 2024, prevê o pagamento de 17 parcelas trimestrais de R$ 3,75 milhões a partir de dezembro de 2025, com vencimento final em dezembro de 2029.
O acordo isenta juros se cumpridas certas condições e prevê bônus de adimplência: se a empresa pagar US$ 34,5 milhões até o vencimento, o saldo remanescente será extinto.
Escalada da crise
A crise da AMMO Varejo se agravou em maio de 2024, quando o fundo Odernes, da gestora Farallon Capital, notificou a empresa sobre o vencimento antecipado de debêntures emitidas em 2022 no valor de R$ 180 milhões.
Após o fundo ameaçar executar as garantias, a Coteminas contestou o vencimento antecipado. A AMMO protocolou pedido de recuperação judicial em 6 de maio de 2024, com processamento oficializado em 26 de julho.
As empresas pertencem ao grupo da família Gomes da Silva, mas são juridicamente independentes. A Coteminas é fabricante têxtil, uma das maiores da América Latina.
A CVM (Comissão de Valores Mobiliários) cancelou o registro de companhia aberta da AMMO em maio por falta de prestação de informações. A empresa também vendeu participação na A11I Tecnologia por R$ 12,1 milhões em agosto, reduzindo sua fatia de 48% para 19% como parte da estratégia de desinvestimento.
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