Ambipar reforça governança em esforço para recuperar confiança do mercado, diz CEO

Empresa de gestão de resíduos viu títulos caírem para níveis de estresse com investigação regulatória e questionamentos sobre laços com Banco Master; ‘a companhia precisava reforçar sua governança’, diz Tércio Borlenghi Junior à Bloomberg News

Máquinas da Ambipar
Por Rachel Gamarski - Giovanna Bellotti Azevedo - Vinícius Andrade
16 de Setembro, 2025 | 06:18 PM

Bloomberg — A Ambipar Participações e Empreendimentos reformulou sua governança corporativa após um ano difícil nos mercados.

A companhia ampliou seu conselho, reestruturou comitês e intensificou o diálogo com investidores — parte de um esforço para se distanciar do Banco Master e restaurar a confiança do mercado.

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Menos de dois anos após estrear nos mercados globais de crédito, a empresa de gestão de resíduos viu seus títulos caírem para níveis de estresse, em meio à crescente preocupação com uma investigação regulatória, dúvidas sobre sua governança e questionamentos sobre laços com o banco de Daniel Vorcaro — que se envolveu em uma complicada operação com o Banco de Brasília.

O banco em dificuldades esteve envolvido, por meio de intermediários, em transações de ações da Ambipar, o que alimentou especulações de que a companhia detinha dívida do Master que poderia perder valor.

Tércio Borlenghi Junior, CEO da Ambipar: executivo diz que empresa entendeu que precisava melhorar a sua governança

A empresa realizou uma série de reuniões presenciais e virtuais para assegurar a investidores que os problemas do Banco Master não afetarão seu balanço, disse o CEO Tércio Borlenghi Junior em entrevista à Bloomberg News.

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A Ambipar também vai ampliar seu conselho para nove membros, de cinco atualmente, após a nomeação da ex-chefe do UBS no Brasil e América Latina, Sylvia Coutinho, como conselheira de governança, disse Borlenghi.

A empresa planeja expandir para 11 conselheiros no curto prazo, com metade deles independentes.

“A companhia cresceu e precisava fortalecer sua governança”, disse o CEO. “Estamos trazendo a ex-ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira e o ex-diretor da Organização Mundial do Comércio Roberto Azevedo.”

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Ricardo Chagas, CEO da Ambipar Response — unidade do grupo nos EUA —, assumirá o cargo de presidente do conselho, mantendo também sua posição atual.

A reformulação da governança ocorre após sete meses de trabalho para atender a preocupações de investidores.

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Tanto Borlenghi quanto o diretor financeiro João Arruda negaram qualquer vínculo com o Master.

“Formalizamos que não temos nenhuma exposição”, disse Borlenghi, ao lado de Arruda e do diretor de Integração e Financiamentos, Thiago da Costa Silva.

O banco confirmou à Ambipar que ela não possui exposição a instrumentos de dívida do Master, de acordo com um documento revisado pela Bloomberg News. A empresa tem compartilhado essa informação em reuniões com investidores.

Outra fonte de preocupação têm sido os investimentos em FIDC (Fundo de Investimento em Direito Creditório), divulgados nos resultados como um montante de R$ 2,1 bilhões.

Borlenghi disse que esse valor reflete procedimentos internos de contabilidade, mas que apenas R$ 600 milhões estão de fato aplicados em um FIDC próprio da companhia, enquanto o restante está atrelado a instrumentos de financiamento tradicionais. “Isso ficará claro em nosso próximo balanço”, disse.

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A companhia também tem tomado medidas para reforçar suas finanças em meio ao aumento dos custos de captação.

Para elevar a produtividade em um cenário de juros a 15% ao ano no Brasil, a Ambipar cortou cerca de 1.000 postos de trabalho no mundo neste ano.

A empresa estuda um possível programa de recompra de ações e contratou um assessor para avaliar potenciais acordos com credores locais e estrangeiros sobre seus quase R$ 6 bilhões em dívida líquida.

“Gostaríamos de continuar melhorando nossa geração de caixa”, disse o CFO Arruda.

Rendimentos de bonds da Ambipar sobem na esteira de preocupação de investidores com a empresa

Mesmo assim, a pressão do mercado se intensificou.

As notas em dólares da Ambipar com vencimento em 2031 — emitidas em janeiro de 2024 — levaram aos investidores uma perda de cerca de 21% neste ano, entre os piores desempenhos de seu grupo de pares.

Atualmente, a divida rende cerca de 17%, com spreads sobre os Treasuries dos EUA bem acima do patamar de 1.000 pontos-base, frequentemente considerado como nível de distress.

Em comparação, um índice da Bloomberg de dívida corporativa de mercados emergentes teve retorno de 7% no mesmo período.

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As perdas se aprofundaram na semana passada, depois que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) abriu uma nova investigação sobre o programa de recompra de ações da Ambipar, para apurar se a empresa ultrapassou os limites estabelecidos.

Foi a segunda vez que a CVM analisou o programa de recompra.

Uma investigação anterior examinou supostas operações coordenadas entre Borlenghi e o empresário e investidor Nelson Tanure, que aumentou sua participação na Ambipar por meio da Trustee DTVM, conforme a Bloomberg News noticiou anteriormente.

Uma decisão favorável a uma oferta pública obrigatória foi revertida em cima da hora.

Borlenghi nega que tenha qualquer relação com o empresário.

Sobre a nova investigação, Borlenghi atribuiu o problema ao banco custodiante que, segundo ele, ultrapassou o limite em 2% por 10 dias sem transferir as ações para seus diretores por um erro.

O executivo acrescentou que a questão não tem relação com a investigação de julho e já foi corrigida.

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Na última sexta-feira (12), a Fitch Ratings revisou a perspectiva da Ambipar para negativa e citou “questões contínuas de governança” que podem elevar o custo de captação da empresa, e “transparência limitada sobre os números contábeis recentes.”

“Continuamos analisando nossa alocação de recursos, redução de custos e contratos”, disse Borlenghi sobre os próximos passos da companhia.

Em relação ao Master, acrescentou que a Ambipar quer “desconstruir rumores e mostrar que não temos nada a ver com isso.”

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