Ambipar pede recuperação judicial no Rio de Janeiro e nos EUA com R$ 11 bi em dívidas

Empresa de gestão de resíduos buscou proteção contra credores na 3ª Vara Empresarial do RJ e no Chapter 11 no Texas, no mais recente colapso corporativo a atingir os mercados de crédito no Brasil e em outros países nas últimas semanas

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Bloomberg — A Ambipar decidiu buscar na Justiça proteção contra credores, no mais recente colapso corporativo a atingir os mercados de crédito no Brasil e em outros países nas últimas semanas.

A subsidiária Ambipar Emergency Response entrou com pedido de proteção no Chapter 11 no estado do Texas, nos Estados Unidos, na noite de segunda-feira (20), enquanto a matriz iniciou os procedimentos na 3ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, de acordo com fato relevante e documentos judiciais.

A Ambipar, empresa brasileira de gestão ambiental de resíduos, se soma a uma lista crescente de crises que levaram o CEO do JPMorgan Chase, Jamie Dimon, a alertar que, “quando você vê uma barata, provavelmente há mais”.

Nos EUA, o banco de crédito para automóveis Tricolor Holdings e o fornecedor de autopeças First Brands Group declararam quebra no mês passado, o que chocou parte dos investidores com a implosão dos negócios.

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A Ambipar passou de uma situação sob controle para o pedido de recuperação judicial em questão de semanas, depois que alguns de seus credores buscaram antecipar o vencimento de dívidas da empresa em meio a uma crise de governança em espiral.

Os problemas financeiros da empresa também são uma advertência severa para investidores em dívidas corporativas brasileiras.

Nas últimas semanas, a Braskem viu seus títulos caírem em dificuldades, enquanto as dificuldades do Banco Master ameaçam se espalhar para empresas e fundos de pensão expostos a seus instrumentos de dívida.

A Ambipar tinha mais de R$ 11 bilhões (cerca de US$ 2 bilhões) em empréstimos e outros instrumentos de financiamento em seu balanço patrimonial no final de junho, de acordo com seu último relatório financeiro.

Seus títulos denominados em dólar foram negociados a cerca de 13 centavos de dólar na segunda-feira, muito abaixo dos mais de 90 centavos no início de agosto, de acordo com os preços da Trace.

Suas ações também despencaram mais de 95% desde meados de setembro, o que representava uma capitalização de mercado de menos de US$ 200 milhões na segunda-feira, em comparação com US$ 4,4 bilhões um mês atrás.

Sob investigações

A Ambipar, controlada pelo CEO Tercio Borlenghi Junior, tem enfrentado investigações da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), sobre possíveis irregularidades em um programa de recompra de ações que esteve por trás de uma espetacular alta de 1.000% iniciada em meados de 2024.

Em julho, o órgão regulador do mercado de capitais no Brasil investigou - e depois rejeitou - alegações de compras coordenadas entre Borlenghi e o magnata brasileiro Nelson Tanure, que construiu uma participação na Ambipar por meio da Trustee DTVM, conforme relatado anteriormente pela Bloomberg News.

A empresa controladora disse em um comunicado que seu conselho de administração se reuniu na segunda-feira e concordou em seguir com um pedido de recuperação judicial para a entidade controladora no Brasil; e acrescentou que a medida ajudaria a garantir a continuidade de suas operações, preservar valor e empregos e atender aos interesses dos acionistas.

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A empresa disse que a decisão foi o resultado de uma “sequência de eventos que se seguiram à descoberta de evidências de irregularidades na contratação de transações de swap pelo Departamento Financeiro e à demissão abrupta do ex-diretor financeiro, o que abalou a confiança do mercado no Grupo Ambipar e levou alguns credores a solicitar mudanças no vencimento da dívida, colocando em risco a capacidade do grupo de lidar com suas obrigações”.

A Ambipar buscou proteção emergencial dos credores em setembro, depois que o Deutsche Bank pediu mais garantias para seus contratos de swap de moeda e credores, incluindo o Santander, alegaram que a empresa havia deixado de cumprir seus contratos de financiamento, de acordo com o pedido no Chapter 11.

O ex-CFO João Arruda contestou em juízo as alegações de que suas ações desencadearam a crise da dívida da empresa.

A S&P Global Ratings reduziu a classificação de risco da empresa em vários níveis em setembro, chamando o pedido de proteção emergencial de “equivalente a uma reestruturação geral da dívida das obrigações da Ambipar”.

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