Bloomberg Línea — Em meio ao cenário de juros elevados e crédito mais caro, o grupo alemão Traton – holding que detém as marcas de caminhões e ônibus Volkswagen, Scania, MAN e Navistar – decidiu lançar um banco no Brasil para oferecer serviços financeiros para os clientes locais.
O novo “braço” de negócio, voltado exclusivamente para a Volkswagen Caminhões e Ônibus, visa suportar o crescimento das vendas no país.
O mercado brasileiro representa 80% dos emplacamentos globais da Volkswagen no segmento de veículos comerciais.
Segundo o CEO da Volkswagen Caminhões e Ônibus, Roberto Cortes, a nova empresa, em gestação há 14 meses, não é só um banco: além de prover financiamentos, também deve oferecer outros serviços como seguro e crédito rotativo para concessionários.
“A grande vantagem de grupos como a Traton e a Volkswagen é que são empresas que estão no Brasil há muitos anos e sabem que é um país que tem alguns altos e baixos, mas é um bom lugar para fazer negócio”, disse Cortes à Bloomberg Línea após o evento de lançamento da Traton Financial Services Brasil.
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O executivo acrescentou que, embora o mercado tenha enfrentado grandes crises no passado recente, como em 2016, na média o país oferece um ambiente de negócios positivo.
“Por isso a Traton decidiu oferecer o serviço financeiro, que é uma atividade a mais, uma injeção de capital maior [no país] para suportar as vendas locais”, disse.
Em 2024, a Traton vendeu 334,2 mil veículos globalmente, com um resultado operacional de 205 bilhões de euros.
Até então, o Banco Volkswagen era responsável pelos serviços financeiros da marca de caminhões e ônibus no Brasil.
A partir de agora, a Traton Financial Services assume essa responsabilidade. A Scania segue com o braço já existente voltado para suas vendas no país.
México e Argentina
“O Brasil é atualmente um dos maiores mercados para veículos comerciais do grupo Traton e esse passo segue nossa recente chegada ao México, onde agora oferecemos serviços financeiros cativos para a Volkswagen Camiones y Buses e a MAN Truck & Bus. São avanços importantes”, afirmou o COO global da Traton Financial Services, Rene Renkema.
Segundo o executivo, o mercado argentino já está na “fila” para receber o serviço, bem como outros países da região.
Embora não abra valores de recursos destinados ao mercado brasileiro, executivos do grupo destacaram que o montante será “suficiente” para suportar o crescimento no país e elevar em pelo menos 10% as vendas no segundo semestre em relação aos seis primeiros meses do ano.
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“A expectativa é que os produtos financeiros dedicados a caminhões e ônibus sejam customizados, de fácil acesso e com taxas competitivas, em uma parceria que se estenderá para além do território brasileiro”, disse Cortes.
“Desde abril, estamos fechando importantes negócios no México, onde temos uma fábrica e buscamos crescer ainda mais”, contou.
A operação no Brasil começará no próximo dia 1º de julho, inicialmente com a modalidade CDC (Crédito Direto ao Consumidor). Posteriormente, a instituição deve oferecer o financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para bens de capital, conhecido como Finame.
“O mercado de financiamento de caminhões não se refere somente às taxas [de juros], em que sempre teremos as mais competitivas. Também é importante ter integração do banco com a montadora. O foco exclusivo no negócio fará toda a diferença”, disse o vice-presidente de vendas, marketing e pós-vendas da Volkswagen Caminhões e Ônibus, Ricardo Alouche.
Em sua avaliação, o mercado brasileiro enfrenta um ambiente desafiador, com aumento da Selic e encarecimento do crédito no primeiro semestre. “Por isso, temos que contar com uma instituição financeira 100% focada em veículos comerciais.”
No plano de crescimento das vendas, a montadora tem como cenário base a recuperação do agronegócio, após as dificuldades climáticas enfrentadas no ano passado, bem como a retomada da construção civil no período.
Adicionalmente, ele relatou que a atividade industrial está próximo da estabilidade, com viés positivo.
“O que movimenta a indústria de caminhões é o PIB e, se estiver positivo, teremos um bom ano. O novo banco será essencial para o fechamento de importantes volumes de vendas”, afirmou Alouche.
Para o CEO da Traton Financial Services Brasil, Eduardo Portas, a natureza do banco de montadora é incentivar as vendas. “Por isso teremos mais competitividade: a parceria com a Volkswagen trará essa vantagem adicional.”
Alouche relatou ainda que o serviço estará disponível para o financiamento de veículos eletrificados do grupo, incluindo, futuramente, pacotes de carregadores e infraestrutura de carregamento para clientes.
“No futuro, a tendência do transporte é o [veículo] elétrico, e esse serviço vai facilitar a transição energética”, afirmou.
A Volkswagen foi a primeira montadora a produzir e vender caminhões 100% elétricos no Brasil e agora testando modelos híbridos e a biometano.
“O caminhão elétrico é mais caro, mas no futuro poderemos incluir todo o pacote de serviços no financiamento da Traton”, disse Alouche.
De acordo com o executivo, em média, o financiamento de um caminhão pode ter taxas de juros de aproximadamente 25% ao ano, dependendo do caso.
Atualmente, cerca de 40% das vendas da montadora são feitas à vista, e o restante, financiado.
Cortes disse esperar que a maior parte das vendas da Volkswagen seja feita por meio do serviço da Traton. Segundo ele, 100% dos recursos virão da matriz.
“É a Traton injetando dinheiro no país, prova de que o grupo acredita nos nossos negócios”, afirmou.
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