Bloomberg Línea — A extração de petróleo na camada do pré-sal ocorre, em média, a 200 quilômetros da costa e, para garantir suprimentos e manutenção, não só a distância é um desafio. Muitas vezes a operação ocorre sob condições adversas, que incluem fortes correntes oceânicas, tempestades, ventos fortes e mar agitado.
“Sem embarcação de apoio não tem produção de petróleo no Brasil”, disse o CEO do grupo CBO, Marcos Tinti, em entrevista à Bloomberg Línea.
A empresa possui 45 barcos que trabalham em alto-mar (offshore), inclusive no pré-sal, para dar suporte às operações de extração de óleo e gás.
Historicamente, a Petrobras (PETR3, PETR4) responde por cerca de 80% do faturamento do grupo. “Se você quer ser grande nesse setor no Brasil, vai depender da Petrobras”, disse o executivo.
Apesar da dependência da estatal, ele afirmou que a CBO tem na carteira de clientes todas as empresas que atuam no país, de gigantes globais como a norueguesa Equinor a operadoras independentes, como a PRIO (PRIO3) e a Brava (BRAV3).
A companhia foi fundada em 1978 e, em 2013, passou por um processo de transição ao ser adquirida por dois dos maiores fundos de ativos alternativos e private equity do país, o Patria Investimentos e a Vinci Partners, em parceria com o BNDESPar.
Atualmente, são mais de 1.800 funcionários.
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Tinti contou que, em meados de 2018, a companhia traçou um plano estratégico amplo, após encomendar um estudo sobre o mercado de energia global.
“Enquanto o mundo todo falava que o [mercado de] petróleo acabaria, nós chegamos à conclusão que o insumo continuaria sendo importante e que o Brasil era o melhor lugar para se estar.”
Naquele momento, a companhia já tinha se desalavancado de forma significativa em meio a uma crise no setor de petróleo. As diárias no mercado de embarcações de apoio marítimo - que até então custavam em torno de US$ 35.000 a US$ 37.000 - caíram drasticamente, atingindo o patamar de US$ 15.000.
Segundo Tinti, o custo do barco também caiu na mesma proporção. “Conseguimos fazer excelentes negócios, comprando embarcações maiores e com tecnologias até superiores às existentes no Brasil.”
A CBO adquiriu barcos de segunda mão, com idades ainda reduzidas, além de embarcações zero quilômetro que estavam paradas na China.
“Fomos ao limite responsável da alavancagem e adquirimos 11 embarcações. Em 2019, me chamaram de louco. Em 2024, de herói”, contou.
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O executivo disse que a CBO foi a primeira empresa a trazer uma embarcação movida a bateria para o mercado nacional, além de ter sido pioneira na conversão de um barco a diesel marítimo (bunker) para um modelo híbrido, que funciona com bateria.
A companhia também aprovou junto ao Fundo da Marinha Mercante o primeiro projeto de pesquisa e desenvolvimento de transformação de motores a diesel para híbridos movidos com etanol.
“As novas construções já pedem motores híbridos pensando na transição energética”, disse Tinti.
Neste contexto, ele disse que a frota brasileira do setor tem cerca de 400 embarcações que operam a diesel, com idade média em torno de 16 anos.
“Essas embarcações têm mais uns 15 anos de operação pela frente. Do ponto de vista da transição energética, é importante primeiramente pensar na transformação das embarcações que já estão em operação.”
Horizonte de mercado
Tinti afirmou que a indústria de petróleo ainda terá uma vida longa.
“Olho para 2050 com muita tranquilidade”, disse.
Segundo o executivo, o carvão é responsável por gerar cerca de 30% da energia global. Nos países em desenvolvimento, ele cita que o GLP (gás liquefeito de petróleo), por exemplo, ainda é pouco usado para cozinhar, como em alguns locais da África. “Há uma carência muito grande de energia no mundo.”
Ele se disse otimista com as projeções de produção de petróleo até 2030 no Brasil. “Estima-se que a Margem Equatorial tenha reservas semelhantes aos volumes do pré-sal. Por isso estamos otimistas com o petróleo, por mais que tenha altos e baixos.”
O preço do barril, destacou o executivo, não impacta diretamente o negócio da CBO.
“Não estamos expostos imediatamente à retração do petróleo. O reflexo [da queda] acaba acontecendo com um atraso um pouco maior”, disse.
“Com o breakeven do pré-sal em torno de US$ 25 a US$ 30, a margem é interessante com o patamar atual de petróleo”, acrescentou.
Atualmente, o barril de petróleo está na casa dos US$ 70.
Mesmo com as mudanças nos planos de negócios da Petrobras a cada gestão, Tinti reforçou a avaliação de que o horizonte é positivo.
“Já vimos mudanças de políticas da petroleira na ditadura [militar], no governo Collor, no Plano Bresser, nas administrações de Dilma e Temer. A ‘instituição’ Petrobras é forte e nós só crescemos ao longo dos anos”, afirmou.
Segundo o executivo, até 2030 a expectativa é que faltem embarcações de apoio marítimo no mercado brasileiro.
Atualmente, as diárias do setor giram em torno de US$ 40.000, relatou. “Embora as tarifas estejam aquém do que entendemos ser necessário para que haja uma estrutura de capital saudável, há uma retomada das diárias.”
IPO, fusões e aquisições
No fragmentado mercado de apoio marítimo para óleo e gás, seis grandes empresas respondem por 40% do segmento, segundo Tinti.
A CBO encerrou 2024 com uma receita operacional líquida de US$ 364,5 milhões (cerca de R$ 2 bilhões).
A geração de caixa operacional medida pelo lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) no período somou US$ 173,1 milhões (R$ 970 milhões) e, o lucro líquido, US$ 6,67 milhões (R$ 37,3 milhões).
Tinti afirmou que uma oferta pública inicial de ações está no radar da companhia já há alguns anos. “Infelizmente não encontramos ainda uma janela no mercado brasileiro para fazer o IPO”, disse.
Ele lembrou que os acionistas da companhia são fundos de investimentos, que já estão há 12 anos comprados com a tese.
“Eles não estão desesperados para sair, mas de fato a natureza dos fundos é comprar e vender empresas, e nós já estamos o mais perto possível da venda do que qualquer outra coisa.”
Em sua avaliação, o IPO pode ser um fator de crescimento estratégico para a companhia, mas não o único. A CBO estuda fusões e aquisições e até um “IPO reverso”, que é a compra de uma empresa já listada em bolsa.
“É importante para a companhia ter moeda líquida de troca para continuarmos com nosso plano de crescimento e o IPO seria interessante. Estamos preparados para isso”, afirmou.
“Por outro lado, enquanto o mercado brasileiro não abre uma janela para listagem, buscamos, no mundo inteiro, oportunidades de fusões ou eventualmente até uma aquisição”, acrescentou.
A internacionalização também segue no radar da empresa. Tinti explicou que a CBO pode trazer barcos de outros países e operá-los com bandeira nacional por meio de parcerias, aluguel, entre outras opções.
Segundo o executivo, a exploração no Suriname e na Guiana cresce significativamente, o que abre espaço para o avanço internacional da CBO – já que são países que possivelmente têm áreas de óleo e gás contíguas ao Brasil.
“Talvez o projeto de internacionalização da CBO esteja mais perto do que imaginávamos alguns anos atrás”, disse Tinti.
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