S&P 500 vs LatAm: dividendos e valuations podem representar vantagem à região

Valuations baixos, dividendos elevados e efeito de composição projetam uma vantagem de rendimento para a América Latina em relação a um S&P 500 concentrado em empresas de tecnologia

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11 de Julho, 2025 | 04:02 PM

Bloomberg Línea — O rali das bolsas latino-americanas no primeiro semestre de 2025 surpreendeu investidores globais com ganhos de dois dígitos e valuations que, em vários casos, atingiram recordes históricos.

Esse desempenho prenuncia um cenário em que a região poderia superar o desempenho do S&P 500 nos próximos anos, graças à atratividade de seus dividendos.

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As bolsas da Colômbia, do Chile e do Brasil lideraram a recuperação em 2025, com rendimentos de mais de 30% medidos em dólares, um desempenho quase seis vezes superior ao do S&P 500 no ano.

No México, o S&P BMV/IPC subiu 29% em termos de dólar, impulsionado por fluxos consistentes e um cenário macroeconômico mais estável do que o esperado.

A região superou o desempenho dos mercados emergentes em geral graças a uma combinação de fluxos estrangeiros, expectativas de cortes nas taxas e melhores lucros corporativos.

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Um relatório recente da Ashmore destaca o potencial desempenho estrutural superior da América Latina em relação ao S&P 500 nos próximos anos, graças à atratividade de seus dividendos e ao efeito de composição.

De acordo com o relatório, a América Latina foi a região emergente com pior desempenho em 2024, com o índice MSCI Latin America caindo 26% em termos de dólares americanos. No entanto, a perspectiva para 2025 mostra uma reviravolta substancial, com a região avançando 30% até o momento.

“Com dividend yields mais altos, avaliações historicamente baixas e crescimento convergente dos lucros, realocar alguma exposição dos EUA para a América Latina é atraente e oportuno”, diz Ashmore no relatório assinado por Felipe Gomez Bridge, Gustavo Medeiros e Ben Underhill.

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Valuations favorecem atratividade

O documento mostra que os múltiplos de preço/lucro (P/L) da América Latina permanecem com descontos significativos em relação ao S&P 500, que é negociado a um P/L futuro de 22x, próximo aos máximos históricos, enquanto o Brasil e o México são negociados a 8,3x e 12,1x, respectivamente.

Essa disparidade sugere um potencial de valorização se as avaliações convergirem nos próximos trimestres. O P/L futuro mede quantas vezes o preço da ação excede seus lucros futuros esperados e é um indicador importante de quão cara ou barata a ação está em relação aos seus lucros projetados.

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Os rendimentos de dividendos também são mais altos na região, com destaque para a Colômbia, com rendimento de 14,1%, e o Brasil, com 8,2%, em comparação com 1,3% do índice dos EUA.

Isso, de acordo com Ashmore, representa um incentivo adicional para os investidores que buscam uma renda estável em um contexto de taxas globais ainda restritivas. O rendimento dos dividendos indica a renda anual que um investidor recebe para cada dólar investido em uma ação.

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“Os rendimentos de dividendos também são muito atraentes, com as ações brasileiras e colombianas oferecendo uma renda maior do que o índice de títulos Global Aggregate”, observa Ashmore em sua análise.

Um dos modelos da empresa projeta que, mesmo com o prêmio de avaliação atual do S&P 500 sobre a América Latina (2,3x), a região alcançaria um desempenho superior acumulado de 26% em cinco anos em relação ao índice dos EUA, principalmente devido ao efeito de composição dos dividendos reinvestidos e do crescimento dos lucros.

O cenário pressupõe que o crescimento do LPA da América Latina será de aproximadamente 90% do registrado nos EUA, convergindo em um contexto de menor expansão fiscal nos EUA e políticas de consolidação fiscal nos países latino-americanos.

“Mesmo mantendo o prêmio dos EUA sobre a América Latina, a região alcançaria um desempenho superior acumulado de 26% ao longo de cinco anos, principalmente devido ao efeito de composição dos dividendos reinvestidos”, observa o relatório.

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Riscos do S&P 500

Esse cenário é agravado pelo fato de que o rendimento dos dividendos do S&P 500 está apenas 20 pontos-base acima de sua maior baixa histórica, registrada durante a bolha tecnológica de 2000. De acordo com um relatório recente do Deutsche Bank, o nível atual é de 1,26%, em comparação com o piso histórico de 1,08%.

Wall Street atingiu recordes de alta impulsionados pela tecnologia, mas enfrenta riscos devido à sua concentração em poucas empresas líderes.

É importante o fato de estar tão baixo? De acordo com o banco alemão, isso não parece ser grave, desde que as empresas continuem a recomprar ações e tenham liquidez para isso.

Mas essa estrutura torna o mercado dos EUA mais vulnerável: em uma correção, as recompras podem desaparecer mais rapidamente do que os dividendos, removendo um pilar fundamental de apoio ao mercado de ações.

Além disso, as recompras apresentam riscos: maior discricionariedade, já que podem ser abruptamente canceladas em uma recessão; ou risco de timing, já que tendem a se concentrar em momentos de preços altos, entre outros.

Essa vulnerabilidade é ampliada pela extrema concentração do índice dos EUA.

Uma análise da Bloomberg Intelligence, liderada por Gina Martin Adams, adverte que “o S&P 500 pode ter 500 empresas, mas um número muito menor está contribuindo: apenas 10% dos membros geram retornos, em comparação com uma média de 22% entre 2010 e 2024”.

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Isso implica que a dependência excessiva de um pequeno grupo de empresas de tecnologia expõe o mercado a um risco idiossincrático maior do que índices menores, mas proporcionalmente mais diversificados, como o do México e do Canadá.

De acordo com a Bloomberg Intelligence, embora os mercados globais desenvolvidos tenham apresentado uma maior diversificação (com um índice de concentração efetivo de 33%, uma alta de 15 anos), o S&P 500 caiu para um nível efetivo de apenas 9,7%, refletindo sua crescente dependência de um punhado de gigantes da tecnologia ligados à inteligência artificial.

O México e o Canadá, apesar de terem menos empresas listadas (20 e 80, respectivamente), apresentam uma distribuição mais equilibrada dos retornos, com 13 e 37 empresas contribuindo efetivamente para sua alta, em comparação com apenas 49 no S&P 500.

O S&P 500 apresenta um rendimento de dividendos de apenas 1,26%, próximo ao seu mínimo histórico, e alta dependência de um punhado de ações.

Esse fenômeno implica que a aparente estabilidade do índice dos EUA esconde riscos sistêmicos decorrentes da concentração, enquanto a América Latina mantém seu dinamismo apoiado por fluxos setoriais mais amplos e exposição diversificada a commodities.

Crescimento apesar das taxas

Esse potencial de retorno do mercado de ações é complementado por uma perspectiva macroeconômica que, de acordo com a Ashmore, continua a surpreender positivamente na região, apesar dos desafios globais e locais.

O Brasil está mantendo a taxa Selic em 15% para controlar a inflação, enquanto o México já a reduziu em 400 pontos-base, mas continua firme diante das expectativas de inflação ancoradas. O Chile e o Peru também estão projetando expansões entre 2,5% e 3% este ano, apoiados pelas exportações agrícolas e de mineração.

“As taxas de desemprego nas principais economias estão próximas ou abaixo de suas médias de longo prazo”, diz Ashmore, destacando a resiliência da mão de obra como um impulsionador adicional do consumo e da atividade.

Renato Campos, chefe de pesquisa da GHTrading, acredita que fatores como rendimentos globais, política monetária local e preços de commodities ligados à América Latina continuarão a apoiar a confiança dos investidores. “Setores como mineração e tecnologia podem ter um desempenho superior”, disse ele.

Para os analistas da Ashmore, os investidores com alta exposição às ações dos EUA devem considerar a possibilidade de acrescentar alguma exposição à região.

Nos últimos 20 anos, as ações apresentaram uma correlação relativamente baixa com o S&P 500, o que indica que elas podem proporcionar benefícios de diversificação e possíveis melhorias nos retornos.

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Carlos Rodríguez Salcedo (BR)

Jornalista colombiano, especializado em economia. Fui jornalista e editor do jornal La República, com experiência em questões macroeconômicas, comerciais e financeiras. Eu também trabalhei para a agência de notícias Colprensa.