Bloomberg — As ações norte-americanas registraram uma segunda semana seguida de ganhos, com o índice S&P 500 em sua mais longa sequência de altas em mais de 20 anos e eliminando todas as perdas decorrentes da turbulência tarifária de abril.
Como pano de fundo, novos dados sólidos de empregos nos Estados Unidos e o progresso em negociações comerciais internacionais, que desencadearam uma onda de compras entre investidores de ativos americanos.
O S&P 500 subiu 1,47%, aos 5.686,67 pontos, superando os níveis atingidos em 2 de abril, pouco antes de o presidente dos EUA, Donald Trump, desencadear uma onda de perdas no mercado ao lançar tarifas abrangentes contra os principais parceiros comerciais.
O Nasdaq 100 subiu 1,60% - elevando sua recuperação em relação às baixas de abril para 18%, próximo para entrar em bull market - enquanto o Dow Jones Industrial Average subiu 1,39%.
No Brasil, na volta do feriado do Dia do Trabalhador, o Ibovespa fechou com leve alta de 0,05%, aos 135.133,88 pontos. O dólar caiu 0,56%, para R$ 5,65.
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Foi um dia para superlativos no mercado americano.
O ganho desta sexta-feira (2) no S&P 500 foi o maior após a divulgação de um relatório de empregos em dois anos, e sua valorização de 10% em nove dias marca uma variação inédita em tal sequência.
Dos 31 casos anteriores em que o indicador teve um avanço tão sustentado de nove pregões, nenhum teve uma alta acumulada tão grande.
O índice também subiu cerca de 14% em relação ao fundo do poço de 8 de abril, que chegou a levá-lo à beira de um mercado em baixa - um bear market.
Mesmo com a alta das ações, os títulos dos EUA caíram, dado que os investidores reduziram suas apostas nos cortes das taxas de juros do Federal Reserve, enquanto o dólar se enfraqueceu.

“Os mercados deram de ombros para suas feridas tarifárias autoinfligidas, à medida que os investidores trocam o caos pela clareza, precificando a ideia de que os acordos, mesmo com dor, superam a incerteza política, mesmo sem detalhes”, disse Dave Mazza, CEO da Roundhill Financial.
Os indicadores dos EUA sofreram um novo abalo ao meio-dia, depois que o Wall Street Journal noticiou que a China avalia opções para lidar com as reclamações do governo Trump sobre seu papel no comércio de fentanil.
Os dados econômicos mais recentes dos EUA mostraram contratações dinâmicas em abril, fornecendo evidências de resiliência em uma economia cada vez mais afetada por pressões comerciais.
A economia criou 177.000 empregos no mês passado, mais do que o ganho de 138.000 esperado pelos economistas no consenso e um sinal de que o mercado de trabalho continua saudável.
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A taxa de desemprego manteve-se em 4,2%. A forte impressão de emprego pode manter o Fed em compasso de espera por mais tempo, enquanto avalia o impacto das tarifas sobre o crescimento e a inflação.
“Por um lado, o mercado de trabalho resiliente dificulta a justificativa para um corte, mas também diz que as perdas de emprego não estão ocorrendo tão rapidamente quanto se temia e dá clareza de que os piores temores podem ser afastados”, disse Mazza.
Todas as ações das Sete Magníficas - Mag Seven - subiram, com exceção da Apple (AAPL), porque as vendas da China caíram mais do que o previsto no último trimestre, ofuscando os resultados sólidos da fabricante do iPhone. A ação recebeu rebaixamentos da Jefferies e da Rosenblatt Securities.
As ações de fabricantes de autopeças, empresas de consumo e outras ligadas ao comércio global e à saúde da economia se recuperaram na sexta-feira, depois que a China disse que avalia retomar negociações comerciais com os EUA.
Pela primeira vez desde o final de março, o Cboe Volatility Index à vista - que mede a volatilidade esperada de 30 dias do S&P 500 - está abaixo do contrato de futuros do primeiro mês, um sinal de que o estresse do mercado perde força.
Uma métrica de avaliação importante, indicada pelo lendário investidor Warren Buffett, sinaliza que as ações estão relativamente baratas, o que reforça o argumento de que a recuperação das ações dos EUA ainda tem espaço para continuar.
O “Indicador Buffett” mede a proporção do valor total do mercado acionário dos EUA por meio do Índice Wilshire 5000 dividido pelo valor em dólares do Produto Interno Bruto dos EUA.
Ele está em seu nível mais baixo desde o início de setembro, mesmo depois de uma recuperação que fez com que as ações subissem vertiginosamente nas últimas semanas.
O veterano Tom DeMark, no entanto, não tem tanta certeza.
O estrategista técnico, que assessorou investidores bilionários, incluindo Paul Tudor Jones, Leon Cooperman e Steve Cohen, disse que um pico de curto prazo no mercado pode ocorrer dentro de alguns dias, desencadeado por duas novas máximas de fechamento para o S&P 500, o que levaria a sinais de venda e pressionaria o índice a retomar seu declínio.
Para estrategistas do HSBC, é provável que os investidores continuem a transferir seus recursos em ações dos EUA para a Europa, dada a incerteza contínua em relação ao comércio.
“Os investidores que respiram aliviados hoje podem se encontrar ofegantes nas próximas semanas, quando perceberem que abril foi apenas o prólogo”, disse Max Gokhman, vice-diretor de investimentos da Franklin Templeton Investment Solutions.
-- Com a colaboração de Matt Turner.
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