Para gestores, ‘trade eleitoral’ começa já em 2025, segundo pesquisa do BofA

Segundo sondagem do Bank of America (BofA) com 30 gestores que investem na América Latina, a maioria prevê que a eleição presidencial brasileira de 2026 será levada em conta na alocação já neste segundo semestre

Palácio do Planalto
15 de Julho, 2025 | 04:39 PM

Bloomberg Línea — A maioria dos gestores acredita que o mercado começará a montar suas posições no Brasil em razão das eleições presidenciais de 2026 já neste segundo semestre, segundo pesquisa mensal do Bank of America com profissionais de fundos que investem na América Latina.

Para 57% dos entrevistados, o chamado “trade eleitoral” deve ser antecipado para o quarto ou até o terceiro trimestre deste ano, contrariando a visão predominante até o mês anterior, quando a maioria enxergava esse movimento apenas para 2026.

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“Mais respondentes acreditam que os investidores começarão a adicionar posições para as eleições no quarto trimestre de 2025 (em comparação ao primeiro semestre de 2026)”, destacaram analistas do BofA em relatório divulgado nesta terça-feira (15).

O relatório indicou que mais de 40% dos gestores consultados avaliaram que o trade eleitoral deve começar no quarto trimestre, enquanto pouco menos de 10% disseram entender que isso deve ocorrer já neste terceiro trimestre.

Outra fatia de menos de 10% dos gestores disseram que a alocação de olho no pleito de 2026 já começou.

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Embora a sondagem tenha sido realizada antes da nova rodada de tarifas do presidente Donald Trump, incluindo uma taxa de 50% sobre produtos brasileiros, a maioria dos gestores consultados mantém uma visão construtiva para o Ibovespa (IBOV).

Segundo o levantamento, 83% dos gestores veem o índice da bolsa brasileira acima dos 140 mil pontos até o fim do ano — um salto expressivo em relação aos 66% que apostavam nesse cenário na pesquisa anterior. O índice fechou próximo dos 135.300 pontos na segunda-feira (14).

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Para o Bank of America, isso mostra uma “convicção crescente sobre o Ibovespa” por parte dos gestores e sobre o desempenho relativo do Brasil. A maioria dos entrevistados acredita que o mercado brasileiro vai superar o mexicano nos próximos seis meses.

Setores como o financeiro, o de consumo discricionário e o de utilities (serviços públicos) seguem como os mais favorecidos para alocação, de acordo com a sondagem.

A pesquisa ouviu 30 gestores de fundos que, juntos, administram cerca de US$ 63 bilhões em ativos. Mais da metade dos participantes (57%) atua como gestor de portfólio, enquanto 13% são diretores de investimentos (CIOs) e 20% trabalham como estrategistas, economistas ou responsáveis por alocação de ativos.

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Selic e dólar

Parte do otimismo sobre os ativos brasileiros tem relação com a política monetária. Mais de 80% dos gestores avaliam que o Banco Central já concluiu o ciclo de aumento da taxa de juros, no patamar atual de 15% ao ano. E 43% esperam esperam o início dos cortes da Selic ainda neste ano.

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Em relação ao câmbio, a maioria dos gestores projeta uma depreciação do dólar frente ao real até o fim de 2025, com a taxa de câmbio estimada em torno de R$ 5,45.

O relatório mostra que a maior concentração de respostas está na faixa entre R$ 5,41 e R$ 5,70, o que reflete uma expectativa de alívio moderado no câmbio.

Além disso, os participantes demonstraram maior inclinação para um dólar mais fraco globalmente, o que também contribui para a visão de um real mais estável nos próximos meses.

Sobre a perspectiva para a atividade econômica, a expectativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2025 recuou ante a pesquisa anterior: a maior parte dos gestores agora projeta expansão entre 1% e 2%, versus 2% a 3% anteriormente.

Demais países da América Latina

Para o restante da América Latina, a visão dos gestores é mais dispersa. No México, o sentimento piorou. Nenhum dos entrevistados manifestou otimismo com os ativos mexicanos no curto prazo.

“A incerteza continua alta”, apontaram os analistas do BofA no relatório, citando o risco de novas tarifas comerciais por parte dos Estados Unidos.

A previsão de crescimento do PIB mexicano em 2025 se concentra entre zero e 1%, e não há consenso sobre a trajetória da taxa de juros do banco central mexicano, atualmente em 8,5% ao ano.

Nos países andinos, o destaque é o Chile, visto como o mais propenso a apresentar desempenho superior nos próximos seis meses. A principal preocupação na região passou a ser o preço do cobre, após os EUA anunciarem tarifas de 50% sobre o metal.

“Participantes agora consideram os preços mais altos do cobre como o principal risco para os países andinos”, escreveram os analistas do BofA no relatório.

Em relação à Argentina, apesar da forte queda acumulada no ano — o índice MSCI Argentina recua 22% em dólares —, a maioria dos gestores segue com visão neutra ou levemente positiva sobre os ativos locais nos próximos meses.

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Filipe Serrano

É editor sênior da Bloomberg Línea Brasil e jornalista especializado na cobertura de macroeconomia, negócios, internacional e tecnologia. Foi editor de economia no jornal O Estado de S. Paulo, e editor na Exame e na revista INFO, da Editora Abril. Tem pós-graduação em Relações Internacionais pela FGV-SP, e graduação em Jornalismo pela PUC-SP.