Bloomberg — O presidente Donald Trump disse que as empresas não deveriam ser obrigadas a entregar relatórios de resultados trimestrais e defendeu um cronograma de seis meses que ele considera uma economia de tempo e dinheiro para as empresas.
“Sujeito à aprovação da SEC, as empresas e as corporações não devem mais ser obrigadas a ‘reportar’ trimestralmente (relatórios trimestrais!), mas, sim, a reportar em uma “base de seis (6) meses””, disse Trump em um post na rede social na segunda-feira, referindo-se à Securities and Exchange Commission, equivalente nos Estados Unidos à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) no Brasil.
“Isso economizará dinheiro e permitirá que os executivos se concentrem na administração adequada de suas empresas.”
A SEC não retornou imediatamente um pedido de comentário da Bloomberg News.
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A manifestação de Trump se segue à defesa pública pelo fim de resultados trimestrais obrigatórios pela Long-Term Stock Exchange, segundo noticiado pelo Wall Street Journal há uma semana, no dia 8.
Trump comparou o processo de divulgação de informações dos EUA com o da China, sugerindo que Pequim tinha um sistema que era mais eficiente e econômico para as empresas daquele país.
Outros países, como o Brasil, também adotam o padrão de divulgação de resultados a cada três meses.
Trump, em seu primeiro mandato na Casa Branca, também sugeriu que as empresas mudassem a prática de cinco décadas - desde 1970 - de relatórios trimestrais para um cronograma de seis meses, o que alguns grupos empresariais já argumentaram naquela época ser excessivamente oneroso.
Em 2018, a agência reguladora do mercado de capitais solicitou ao público ideias sobre como encontrar um equilíbrio entre a redução de custos para empresas de capital aberto e a garantia de que os investidores recebam informações adequadas, mas a possível mudança nos requisitos de relatórios nunca foi finalizada.
Naquele mesmo ano, o CEO do JPMorgan, Jamie Dimon, e o CEO da Berkshire Hathaway, Warren Buffett, co-assinaram um artigo no Wall Street Journal em que defenderam o fim da divulgação de guidances (projeções) trimestrais, sob o argumento de que isso representaria uma economia de recursos.
O artigo “Short-Termism Is Harming the Economy” (“O Curto-Prazismo está Prejudicando a Economia”, em tradução livre) alegava que os guidances de curto prazo levavam ao foco nada saudável das empresas nos lucros de curto prazo, em detrimento de estratégias, crescimento e resultados sustentáveis de longo prazo.
Buffett e Dimon diziam à época que falavam em conjunto com a Business Roundtable, uma associação com cerca de 200 CEOs das maiores empresas americanas.
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Embora alguns grupos tenham dito que os relatórios trimestrais incentivam o foco excessivo em benchmarks de curto prazo, a mudança para relatórios semestrais poderia apresentar riscos.
“Embora o objetivo seja fazer com que os investidores e as empresas se concentrem mais no longo prazo, isso aumentaria a incerteza no mercado acionário e poderia levar a uma redução das avaliações [de mercado]”, disse Brian Nick, chefe de estratégia de portfólio da Newedge Wealth.
“Os movimentos da temporada de resultados também podem ser maiores à medida que os erros se tornam maiores e mais consequentes.”
Matt Maley, da Miller Tabak & Co., classificou a possível mudança nas exigências de relatórios como uma “faca de dois gumes” e observou que “a falta de transparência dificultará as coisas para os investidores, mas também liberará as gerências das empresas para que se concentrem em seus negócios em uma base de longo prazo”.
O presidente da SEC, Paul Atkins, não disse se planeja estender os períodos de apresentação de relatórios das empresas, mas ele tem sido um crítico frequente das divulgações que muitas empresas consideram excessivamente onerosas sem proporcionar benefícios significativos aos acionistas.
A agência incluiu uma possível proposta em sua agenda regulatória recentemente divulgada para “racionalizar as práticas de divulgação” - um tópico potencialmente amplo que poderia eventualmente abranger várias medidas.
-- Com a colaboração de Natalia Kniazhevich e Nicola M White.
-- Com informações da Bloomberg Línea.
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