O que esperar para as ações do setor de luxo após balanços fracos e recuo na China

Papéis de empresas como Richemont, LVMH e outras são pressionadas por rebaixamentos e perspectivas de resultados aquém do esperado

Loja da Louis Vuitton, em Xangai
Por Julien Ponthus
17 de Janeiro, 2024 | 10:25 AM

Bloomberg — Os investidores em ações de empresas do setor de luxo enfrentam o risco de mais más notícias. Empresas como Burberry Group e Hugo Boss tiveram resultados trimestrais aquém das expectativas, que já estavam reduzidas, e dados econômicos da China prejudicam as chances de uma recuperação no curto prazo.

A Richemont oferecerá novas perspectivas sobre como as empresas de luxo têm sido afetadas por uma retração generalizada no setor quando divulgar o balanço na quinta-feira (18). As ações da empresa, que é dona da marca Cartier, foram rebaixadas pela Investec esta semana, depois de pelo menos seis rebaixamentos para as ações da líder do setor, a LVMH, no segundo semestre do ano passado.

Preocupações com a demanda por bens de luxo foram ampliadas nesta quarta-feira (17) com números decepcionantes de crescimento econômico da China. Os consumidores do país representam cerca de um quarto do mercado global de luxo, estimado em € 362 bilhões (US$ 394 bilhões). O resultado levou a uma queda generalizada das ações do setor na Europa.

Além disso, a reação negativa aos balanços na semana passada da Burberry e da Hugo Boss mostrou que os mercados não estavam preparados para a extensão dos problemas da indústria.

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"O sentimento continua agitado em relação a quais serão os próximos rebaixamentos", disse Swetha Ramachandran, gestora de fundos da Artemis Investment Management.

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Os investidores esperam que o início deste ano seja particularmente desfavorável em comparação com o otimismo inicial de 2023, quando a reabertura da China impulsionou um aumento nas vendas de relógios de luxo e casacos caros, levando brevemente a avaliação da LVMH acima de US$ 500 bilhões.

A maioria das corretoras reduziu suas expectativas de lucros em mais de 5% desde setembro, com as perspectivas do setor ainda incertas e dependendo de uma recuperação econômica global ainda frágil.

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“Vemos poucos catalisadores para o setor de luxo antes de abril/maio de 2024″, disseram os analistas do HSBC liderados por Aurelie Husson-Dumoutier em relatório. Além disso, o aumento de preços está se tornando mais um problema para os consumidores aspiracionais. A demanda por artigos de luxo perdeu força durante as vendas de fim de ano, disseram os analistas.

Mesmo assim, um setor que passa por um período difícil ainda tem espaço para vencedores.

Especificamente, a Hermes mostrou menos fraqueza do que seus concorrentes, já que a demanda por suas cobiçadas bolsas continua alta, podendo ser vendidas por mais de € 8.000 até dezenas de milhares de euros.

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“Provavelmente haverá grandes diferenças entre as ações”, disse Bruno Vacossin, diretor sênior de gestão de portfólio da Palatine Asset Management. “Espero uma grande diferença de desempenho entre os principais players, como Hermes e LVMH, e os retardatários da indústria.”

A LVMH divulgará os resultados anuais em 25 de janeiro e a Hermes em 9 de fevereiro.

Muitos mantêm suas apostas a longo prazo em um setor conhecido por sua capacidade de gerar crescimento superior devido ao poder de fixação de preços, que geralmente supera a inflação e protege as margens de lucro. A grande maioria dos analistas acompanhados pela Bloomberg ainda recomenda a compra de LVMH e Richemont, enquanto o restante está neutro.

Recuperação

Uma recuperação nos lucros provavelmente está a seis meses de distância, à medida que o crescimento econômico acelera e as viagens da China aumentam, disse Ramachandran, da Artemis Investment Management.

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O setor está atualmente com múltiplos baixos e aguarda boas notícias macroeconômicas, como taxas de juros mais baixas e aumento dos salários reais para marcas de moda de entrada e aspiracionais, disse a analista Deborah Aitken, da Bloomberg Intelligence.

Até lá, mais riscos permanecem, especialmente para empresas na parte inferior da pirâmide, segundo Ariane Hayate, gestora de fundos da Edmond de Rothschild Asset Management.

"Com certeza, não esperamos receber muitas mensagens otimistas", disse ela.

-- Com a colaboração de Jan-Patrick Barnert, Kit Rees e Michael Msika.

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