Bloomberg — A maior produtora de aço do mundo chamou a atenção para uma crise na China com potencial de causar ondas de choque globais, alertando para uma desaceleração mais profunda da indústria do que as grandes turbulências de 2008 e 2015.
As condições na China se assemelham a um “inverno rigoroso” que será “mais longo, mais frio e mais difícil de suportar do que esperávamos”, disse Hu Wangming, presidente do conselho da China Baowu Steel Group, em reunião semestral da empresa com funcionários.
Investidores globais estão focados na frágil economia chinesa, mesmo enquanto contemplam a possibilidade de uma recessão nos Estados Unidos, com o Federal Reserve rumo ao corte de juros.
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Para commodities como o aço, o aviso da Baowu destaca os riscos para a demanda e os preços. A ArcelorMittal, a número dois do setor, alertou para o aumento “agressivo” das exportações da China.
O mercado de aço da China – de longe o maior do mundo – mostra múltiplos sinais de alerta, já que a prolongada crise do setor imobiliário não indica estar perto do fim.
Ao mesmo tempo, a atividade fabril permanece fraca. Sozinha, a Baowu produz cerca de 7% do aço mundial, e seus comentários são acompanhados de perto para avaliar o humor do mercado no país asiático.
A dura mensagem de Hu pode preocupar rivais na Ásia, Europa e América do Norte, enquanto enfrentam uma nova onda de exportações chinesas, muitas vezes pressionando por medidas comerciais.
As exportações da China podem atingir cerca de 100 milhões de toneladas neste ano, o maior nível desde 2016, enquanto produtores locais correm para compensar uma desaceleração doméstica.
A gigante siderúrgica ThyssenKrupp, da Alemanha, evidenciou nesta quarta-feira (14) os desafios do setor ao divulgar uma forte queda nos lucros. No início deste mês, a ArcelorMittal disse que o salto das exportações da China colocou o mercado global em uma condição “insustentável”.
Os futuros do minério de ferro em Singapura caíram até 3,4% para US$ 95,20 a tonelada, o menor patamar desde maio do ano passado. As perdas nos mercados de aço foram ainda mais acentuadas: os futuros da barra de aço em Xangai mergulharam mais de 4%, para a menor cotação desde 2017.
A ação da BHP, que obtém grande parte da receita vendendo minério de ferro para a China, recuou quase 3%.
A indústria siderúrgica chinesa registrou enormes perdas durante a crise financeira global de 2008-2009 e novamente em 2015-2016. Em ambos os casos, as crises foram resolvidas por estímulos em massa – um cenário que parece mais remoto em 2024, já que o presidente da China, Xi Jinping, busca remodelar a economia.
A Baowu não ofereceu muitas informações sobre as causas da atual desaceleração, concentrando-se em como os funcionários devem responder: preservando o caixa e minimizando riscos.
“Os departamentos financeiros de todos os níveis devem prestar mais atenção à segurança do financiamento da empresa”, disse o comunicado, com necessidade de fortalecer os controles, incluindo para pagamentos atrasados e detecção de negociações falsas.
“No processo de atravessar o longo e rigoroso inverno, o caixa é mais importante que o lucro.”
Com as siderúrgicas em dificuldades, os estoques de minério de ferro estão aumentando. A barra de reforço, usada na construção, está cotada no menor nível desde 2017.
Produzir aço tem se tornado cada vez menos rentável, colocando siderúrgicas sob pressão para cortar a produção. Enquanto isso, as exportações estão a caminho de superar 100 milhões de toneladas, o maior volume desde 2016.
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