Mercados preveem que Banco Central Europeu iniciará cortes de juros antes do Fed

Números sugerem uma reviravolta na narrativa do mercado, que previa cortes dos três principais bancos centrais a partir do meio do ano

A euro sculpture in Frankfurt.
Por Alice Gledhill
11 de Abril, 2024 | 03:44 PM

Bloomberg — Em uma semana em que os investidores passaram a prever menos cortes de taxas de juros em nível global e em um ritmo mais lento, o Banco Central Europeu (BCe) parece estar prestes a romper essa tendência.

Os mercados continuam apostando que o BCE fará um corte de 0,25 ponto percentual em junho. Enquanto isso, data esperada para o início dos cortes do Federal Reserve e do Banco da Inglaterra foi adiada para as reuniões de setembro e agosto, respectivamente.

O cenário representa uma reviravolta em relação à narrativa recente do mercado, que previa que os três principais bancos centrais fariam cortes de forma unânime a partir do meio do ano.

Agora, com autoridades do BCE confirmando que não estão preocupadas com a perspectiva mais cautelosa nos Estados Unidos - onde um indicador de inflação mais alto do que o esperado provocou uma grande mudança de preço na quarta-feira (10) -, essa tese está se desmoronando.

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"O BCE comunicou uma mensagem clara sobre o início do ciclo de afrouxamento em junho. Isso marca uma diferença significativa em relação às intenções do Fed, que parece estar recuando", disse Nicolas Forest, diretor de investimentos da Candriam.

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Antes da decisão desta quinta-feira (11), a preocupação para alguns agentes era que a presidente, Christine Lagarde, fosse forçada a suavizar os sinais de que o BCE estava se preparando para reduzir as taxas em junho. Em vez disso, ela reiterou que o BCE não segue o exemplo dos Estados Unidos e sinalizou a possibilidade de uma movimentação daqui a dois meses.

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A economia da Europa tem flertado com uma recessão há mais de um ano. Uma pesquisa recente sobre empréstimos bancários mostrou uma queda na demanda corporativa, enquanto a inflação na área do euro ficou abaixo das expectativas no mês passado, desacelerando para 2,4% em relação a 2,6% em fevereiro.

A situação contrasta com a dos Estados Unidos, onde o crescimento dos preços ao consumidor superou as previsões e levou os investidores a reduzir as apostas sobre a magnitude do afrouxamento que o Fed pode implementar.

Uma política monetária mais restritiva nos Estados Unidos representa um desafio para as autoridades na zona do euro. Uma divergência significativa nas taxas de juros pode pesar sobre a moeda europeia, potencialmente levando-a de volta à paridade com o dólar.

‘Equilíbrio’

"A chance de o BCE reduzir as taxas de juros antes do Fed aumentou", disse Nick Sheridan, gestor de portfólio da Janus Henderson. "Os possíveis efeitos de tais cortes incluem a desvalorização do euro em relação ao dólar e o aumento dos preços do petróleo, então o BCE ainda precisa encontrar um equilíbrio habilidoso."

Os formuladores de política monetária da zona do euro mantiveram as taxas de juros inalteradas pela quinta reunião consecutiva, ao mesmo tempo em que anunciaram pela primeira vez a possibilidade de uma redução, condicionada às previsões econômicas indicarem que o crescimento do preço ao consumidor está devidamente encaminhado para 2%.

As taxas dos títulos europeus e do euro quase não se moveram no final de uma sessão volátil. O rendimento dos títulos alemães de dois anos subiu um ponto-base, para 2,97%, após atingir 3% anteriormente, o maior nível desde novembro.

"O BCE continua sinalizando que vai iniciar os cortes de taxas neste verão", disse Gurpreet Garewal, estrategista macro de renda fixa e soluções de liquidez na Goldman Sachs Asset Management. Ela tem uma posição com peso maior em taxas europeias.

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No caso do Banco da Inglaterra, a precificação restritiva se estendeu. Os investidores agora veem cerca de dois cortes nas taxas de juros este ano, em comparação a até três antes do relatório de inflação dos Estados Unidos. Os títulos do governo britânico caíram, fazendo com que os rendimentos dos títulos de dois anos subissem até 10 pontos-base.

"Enquanto outros bancos centrais promovem cortes nos próximos meses, parece que o Fed permanecerá em espera pelo menos até julho", afirmou Samuel Zief, chefe de estratégia global de câmbio no J.P. Morgan Private Bank. "Preferimos manter posições longas em dólar americano e gostamos desses níveis nos títulos europeus para expressar uma visão de longa duração."

-- Com a colaboração de Naomi Tajitsu, James Hirai, Alice Atkins e Greg Ritchie.

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