Mercado sem fuso horário: Nasdaq busca ampliar pregão e operar 23 horas por dia

Segunda maior bolsa dos Estados Unidos solicitou autorização da SEC para criar uma sessão adicional de negociação, das 21h às 4h no horário da Costa Leste dos EUA

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Bloomberg — A Nasdaq, a segunda maior bolsa dos Estados Unidos, busca aprovação regulatória para estender o horário de negociação de suas plataformas de ações para 23 horas por dia durante a semana.

A empresa solicitou à Securities and Exchange Commission (SEC) autorização para acrescentar uma sessão adicional de negociação, das 21h às 4h no horário da Costa Leste dos EUA, segundo documento protocolado na segunda-feira (15).

Esse período se somaria aos horários já existentes de pré-mercado, pregão regular e pós-mercado, informou a companhia.

“Essa evolução reflete uma realidade simples: investidores globais esperam acesso nos seus próprios termos, em seus fusos horários, sem comprometer a confiança ou a integridade do mercado”, afirmou Chuck Mack, vice-presidente sênior de mercados da América do Norte da Nasdaq, em comunicado enviado por e-mail.

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A bolsa se junta a concorrentes ao destacar o crescente interesse pela negociação de ações americanas fora do horário tradicional de mercado, que vai das 9h30 às 16h (horário da Costa Leste).

Participantes do mercado fora dos EUA receberam positivamente a possibilidade de ter atualizações de preços mais rápidas para resultados corporativos e dados macroeconômicos, embora tenham alertado que uma negociação quase contínua daria menos tempo para os investidores assimilarem notícias divulgadas fora do horário regular e poderia levar a oscilações mais intensas em períodos de baixa liquidez.

No início deste ano, a Nasdaq anunciou a intenção de oferecer horários adicionais de negociação em seu mercado de ações, buscando aproveitar a crescente demanda global por papéis americanos.

A empresa espera estar pronta para o pregão estendido no início do terceiro trimestre de 2026, dependendo da aprovação regulatória e do alinhamento com o restante do setor.

A iniciativa da Nasdaq “é absolutamente transformadora”, disse Dilin Wu, estrategista de research do Pepperstone Group, na Austrália.

“Ela praticamente traz as ações dos EUA para o nosso horário local de negociação, aumentando a liquidez e permitindo que investidores daqui reajam em tempo real, em vez de esperar sessões noturnas. Para quem atua em ações americanas de tecnologia ou de maior beta, é um passo importante rumo a um mercado verdadeiramente global.”

Outras bolsas também têm traçado seus próprios planos para ampliar o horário de negociação, incluindo a Bolsa de Nova York (NYSE), que pretende operar 22 horas por dia nos dias úteis. Essa proposta recebeu aprovação inicial da SEC em fevereiro, condicionada a atualizações no sistema de disseminação de dados do mercado.

Para que a mudança se concretize, atores-chave como a Depository Trust & Clearing Corp. (DTCC), responsável pela compensação das operações, e os comitês operacionais dos Securities Information Processors, que exibem preços em tempo real, também precisam ampliar seus horários de funcionamento.

Ambas as organizações já apresentaram seus planos, com a DTCC informando que pretende iniciar a compensação de operações com ações 24 horas por dia, cinco dias por semana, até o segundo trimestre de 2026.

O desenvolvimento pode atrair “mais investidores de varejo em diferentes mercados ao redor do mundo”, disse Kerry Craig, estrategista global de mercados da JPMorgan Asset Management, em Melbourne.

Horários estendidos de negociação tornaram-se mais comuns durante a pandemia, permitindo que investidores reagissem imediatamente a eventos com impacto nos mercados.

Empresas como Robinhood Markets e Interactive Brokers Group passaram a permitir que clientes comprassem e vendessem ações americanas 24 horas por dia, cinco dias por semana, em plataformas fora de bolsa, como o sistema alternativo de negociação da Blue Ocean.

As plataformas que permitem negociação estendida dividiram Wall Street. Defensores argumentam que investidores tanto nos EUA quanto no exterior querem a capacidade de acessar e reagir a ações fora do horário regular do mercado americano.

Críticos alertam que a qualidade das negociações pode sofrer com volumes menores, o que tende a tornar os preços menos precisos.

A maior parte do volume negociado ainda se concentra em torno dos tradicionais toques de abertura e fechamento das principais bolsas americanas. Com a ampliação do horário, permanece a dúvida se investidores institucionais passarão a negociar fora desses momentos de maior liquidez.

“O verdadeiro teste será a profundidade da liquidez”, disse Hebe Chen, analista da Vantage Markets, em Melbourne. “Se a participação institucional acompanhar, será uma vitória clara para investidores baseados na Ásia; caso contrário, o pregão estendido pode se mostrar mais ruidoso do que eficiente.”

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-- Com a colaboração de Winnie Hsu e Ruth Carson.

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