Mercado de IPOs tem a semana mais aquecida desde 2021 em Wall Street

Seis ofertas em Nova York levantaram mais de US$ 4 bilhões, o maior valor em quase quatro anos; para analistas, baixa volatilidade depois da estreia pode indicar um ambiente saudável e estimular novas emissões

IPO da Klarna
Por Bailey Lipschultz
12 de Setembro, 2025 | 06:11 PM
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Bloomberg — O mercado de IPOs voltou a ganhar força nesta semana, depois que seis ofertas levantaram mais de US$ 4 bilhões, no período mais aquecido desde 2021.

Embora cinco das seis aberturas de capital — todas acima de US$ 290 milhões — tenham saído a preços superiores à faixa indicada inicialmente, o desempenho nos dias que se seguiram foi em grande parte sem brilho.

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Analistas de Wall Street avaliam isso como sinal de ceticismo saudável entre investidores, o que tende a ser positivo para o mercado daqui em diante.

As ações do Klarna (KLAR) oscilaram depois da disparada de quarta-feira (10), quando ocorreu o maior IPO da semana, enquanto a Figure Technology Solutions (FIGR) encerrou o segundo pregão em alta após uma estreia sólida.

Na leva de quatro listagens nesta sexta-feira (12), a Gemini Space Station (GEMI) chegou a disparar quando investidores correram para a corretora de criptoativos comandada pelos bilionários gêmeos Winklevoss, mas reduziu ganhos depois.

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Já a Legence (LGN), apoiada pela Blackstone, e a Via Transportation (VIA) subiram de forma mais modesta, após abrirem abaixo do preço de IPO.

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Com as bolsas americanas renovando recordes mesmo diante de sinais de enfraquecimento do mercado de trabalho — o que favorece um corte nos juros pelo Federal Reserve —, a enxurrada de ofertas desta semana serviu de termômetro para medir o grau de euforia do mercado.

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O resultado foi misto. Todos os IPOs registraram forte demanda no processo de precificação, antes do início dos pregões, e muitos venderam fatias maiores do que o planejado inicialmente. A mediana das estreias foi 31% acima do preço de oferta, segundo dados compilados pela Bloomberg.

Os ganhos no pregão, porém, não indicaram entusiasmo desmedido por parte dos investidores que compraram as ações no mercado aberto.

Ainda assim, a situação foi bem mais tranquila do que a de ofertas problemáticas lançadas no começo do ano, como as da NIQ Global Intelligence e da Venture Global, que seguem bem abaixo do preço inicial.

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A relativa calma pode atrair novas empresas para a bolsa, mesmo com investidores ainda seletivos em relação a valorizações e lucros.

“As expectativas seguem altas e continuam exigentes — rentabilidade e fundamentos são decisivos”, disse Mike Bellin, que lidera a área de IPOs da PricewaterhouseCoopers nos EUA. “Algumas companhias foram bem conservadoras nos preços porque ainda estamos em um mercado incerto.”

Estímulo a novos IPOs

As ofertas também serviram como um teste relevante para medir o apetite de investidores institucionais, que não viam esse volume de IPOs acima de US$ 250 milhões desde outubro de 2021.

No fim, eles correram para adquirir participações bilionárias em empresas de tecnologia e cripto, uma rede de cafeterias e uma companhia de engenharia apoiada por private equity.

Investidores de varejo também participaram cada vez mais das rodadas pré-IPO, depois que várias ofertas reservaram fatias específicas para esse público. A Gemini, em especial, despertou entusiasmo ao destinar mais de 20% da operação de US$ 425 milhões a investidores individuais.

As operações abriram caminho para outra semana movimentada. Stubhub Holdings, Netskope e outras empresas devem estrear na bolsa, podendo levantar juntas até US$ 2,53 bilhões.

Se confirmado, será a primeira vez desde dezembro de 2021 que o mercado americano terá duas semanas consecutivas de IPOs em volumes desse porte, excluindo SPACs, fundos imobiliários e fundos fechados, de acordo com dados da Bloomberg.

“Sucesso gera sucesso”, disse Doug Adams, chefe global de mercados de capitais do Citigroup. “Num mercado em que as emissões de IPO estão se recuperando, é fundamental que as operações funcionem bem — tanto na precificação quanto na negociação.”

Desempenho de IPOs em 2025

Mesmo com o forte início de setembro, o mercado de IPOs ainda caminha para se aproximar dos níveis anteriores à pandemia.

Até 12 de setembro, cerca de US$ 29 bilhões haviam sido captados nas bolsas americanas, segundo dados da Bloomberg. O número está abaixo da média de US$ 31,4 bilhões registrada na década antes do boom de 2020 e é pequeno em comparação com os anos frenéticos da pandemia.

Para Kati Penney, líder de transações corporativas na CrossCountry Consulting, o ritmo deve diminuir. Ela classificou a movimentação da semana como uma “anomalia”, provocada pelo retorno de grandes nomes que haviam adiado seus processos devido à volatilidade gerada pelas políticas tarifárias caóticas do presidente Donald Trump em abril.

Isso manteve várias startups de estágio avançado afastadas da bolsa por meses, enquanto a demanda por novas ofertas enfraquecia.

“Vamos ver um avanço constante, mas não nesse ritmo das últimas duas semanas”, disse ela em entrevista. “Além disso, a movimentação parece mais concentrada em setores de tecnologia — cripto e inteligência artificial.”

Isso ficou evidente nessa semana. As maiores ofertas, de Klarna e Figure, receberam pedidos de investidores equivalentes a cerca de 25 vezes a quantidade de ações disponíveis, informou a Bloomberg News.

O IPO da Gemini, apoiada pelos gêmeos Winklevoss, foi mais de 20 vezes subscrito, com aproximadamente 70% dos pedidos ficando de fora da operação, noticiou a Bloomberg nesta sexta-feira.

Nas semanas anteriores, Figma, Bullish e Circle também tiveram estreias exuberantes, cada uma abrindo com alta superior a 120% em relação ao preço de IPO. Mas todas perderam mais da metade do valor após os picos intradiários, reforçando a visão de que a dinâmica mais estável das ofertas desta semana representa um passo na direção certa para o mercado.

“No fim, a negociação estável é positiva para os investidores. Saltos extremos e reversões rápidas não são saudáveis para o mercado”, disse Jeremy Abelson, fundador e gestor da Irving Investors. “Quando empresas veem movimentos como o da Figma, ficam mais ousadas para definir seus preços.”

Essas estreias ruidosas ocorreram em um contexto em que investidores individuais vinham migrando em peso para o mercado de novas emissões, o que impulsionou disparadas nas ações.

Para os bancos, tentar precificar levando em conta o entusiasmo de investidores pessoa física é “complicado”, especialmente quando as ofertas são mais de 20 vezes subscritas, disse Adams, do Citigroup.

“É difícil precificar um IPO partindo da suposição de que o varejo vai puxar os preços no mercado secundário”, afirmou. Segundo ele, cabe aos bancos alocar ações para investidores de longo prazo de forma a criar uma “base de sustentação de compra no mercado”.

“Se você lhes der uma fatia muito pequena, eles podem decidir vender em vez de reforçar a posição a preços mais altos”, disse.

-- Com a colaboração de Matt Turner.

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