Melhor que o esperado: as reações do mercado ao recuo de Trump com as tarifas

Ação da Embraer, empresa que seria mais afetada pelas tarifas, dispara 11% na bolsa depois da divulgação de lista de isenções; avaliação é que outros setores relevantes afetados com tarifas de 50% podem também conseguir alívio

Bolsa brasileira fechou em alta de quase 1% nesta quarta-feira (30) com alívio sobre tarifas de Trump (Foto: Tuane Fernandes/Bloomberg)
30 de Julho, 2025 | 08:08 PM

Bloomberg Línea — O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou nesta quarta-feira (30) a ordem executiva que impõe tarifas de 50% sobre produtos importados do Brasil, com exceções – dois dias antes do prazo inicialmente sinalizado, nesta sexta-feira (1º).

A decisão antecipada, no entanto, trouxe surpresas positivas para o Brasil.

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O primeiro ponto é que a implementação das tarifas foi adiada para o dia 6 de agosto, o abre um prazo maior, embora apertado, de negociação.

Mas o ponto mais destacado por investidores e analistas de mercado foi a longa lista de isenções às tarifas, que vão do suco de laranja às peças de aeronaves e aos jatos em si.

Petróleo e derivados, ferro-gusa, castanhas, madeiras, celulose e diferentes tipos de carvão são outros dos produtos incluídos.

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O que antes era uma tarifa indiscriminada para todos os produtos exportados agora parece mais contida.

Cálculos da XP apontam que as exceções abrangem cerca de 35% do total das exportações brasileiras para os EUA (com base em valores em dólares).

“As tarifas mais altas poderiam reduzir o crescimento do PIB do Brasil em cerca de 0,15 ponto percentual em 2025 — cenário melhor do que o inicialmente temido [de retração de 0,30 p.p.]”, afirmaram economistas da XP em nota.

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A resposta nos mercados foi rápida a partir das 15h30: o Ibovespa saiu de queda para fechar o pregão em alta de 0,95% e o dólar diminuiu o ímpeto contra o real, saindo de uma máxima de R$ 5,63 para o patamar de R$ 5,59.

“O que foi anunciado hoje [quarta] é super positivo na margem frente ao que tínhamos ontem [terça]: a lista de exceções é enorme”, afirmou Felipe Miranda, estrategista-chefe da Empiricus.

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O grande destaque na bolsa após o anúncio foi a Embraer (EMBR3), que, entre as empresas brasileiras, tem uma das maiores fatias de receita atreladas aos Estados Unidos. O número varia de 46% na estimativa do Itaú BBA a 23,8% nos cálculos da XP.

Com a isenção de tarifas às aeronaves, as ações da Embraer saltaram 11% nesta quarta-feira.

Análises preliminares do UBS BB apontam que a tarifa base obrigatória de 10% para praticamente todas as importações dos EUA, aplicável desde 5 de abril de 2025, será mantida, com isenção dos demais 40% que seriam aplicados na nova leva. “É positivo para a Embraer”, escreveram os analistas em nota.

Entre as empresas listadas, Suzano (SUZB3) também pode sair beneficiada. A empresa de celulose tem cerca de 19% de sua receita atrelada à América do Norte nos cálculos do BTG Pactual – e a celulose foi um dos produtos isentados da nova leva de tarifas.

Dois grandes setores que seguem taxados são o café e a carne bovina. A expectativa é que o prazo para implementação, estendido para a próxima semana, possa trazer algum nível de negociação nos setores ainda afetados.

Os Estados Unidos, porém, não parecem abertos a negociar.

A ordem executiva voltou a reforçar o tom político das sanções ao citar o processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e mencionar uma suposta “ameaça do governo brasileiro” contra a segurança dos EUA.

Ainda nesta quarta-feira, o governo dos Estados Unidos aplicou a Lei Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal) – a legislação permite aos EUA impor sanções econômicas a acusados de corrupção ou graves violações de direitos humanos, sob a interpretação americana.

Leia também: EUA sancionam Alexandre de Moraes, do STF, em nova escalada de confronto com Brasil

Do lado brasileiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, em entrevista ao jornal New York Times publicada nesta quarta-feira (30), que ele e autoridades do governo brasileiro têm tentado contato com Trump e seus representantes nas últimas semanas, mas sem sucesso.

“O que está nos impedindo é que ninguém quer conversar. Eu pedi para fazer contato”, afirmou Lula. A declaração foi dada horas antes da assinatura do decreto.

Apesar do recuo de Trump em relação a tarifas a todas as importações do Brasil, o cenário segue com incertezas no radar, segundo analistas.

“O risco agora é voltarmos para um cenário de escalada das tensões”, disse o estrategista-chefe da Empiricus.

Miranda disse avaliar que é preciso seguir com a estratégia de negociação separada para as frentes comercial e política.

“O caminho é continuar negociando uma tarifa menor para os demais produtos ainda taxados e tentar mostrar, a partir de observadores internacionais, que o STF é independente e isento.”

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Beatriz Quesada

Jornalista especializada na cobertura econômica. Formada pela USP, escreve sobre mercados, negócios e setor imobiliário. Tem passagens por Exame, Capital Aberto e BandNews FM.