IPO da Medline, o maior do ano, indica nova janela de ‘saídas’ para o private equity

Empresa que fabrica e distribui suprimentos médicos-cirúrgicos levantou US$ 6,26 bilhões na Nasdaq, com precificação perto do topo da faixa indicativa, em operação que deu saída parcial para os investidores Blackstone, Carlyle e Hellman & Friedman

A Medline é uma gigante do mercado de fabricação e distribuição de equipamentos médico-hospitalares e cirúrgicos nos EUA (Foto: Sipa via AP Images)
Por Anthony Hughes - Bailey Lipschultz - Ryan Gould
17 de Dezembro, 2025 | 07:52 AM

Bloomberg — A Medline levantou US$ 6,26 bilhões na maior oferta pública inicial do ano, em operação que captou acima do plano original (US$ 5,37 bilhões) e precificou as ações perto do topo da faixa indicativa de preço.

A empresa vendeu 216 milhões de ações na terça-feira (16) por US$ 29 cada, de acordo com um comunicado que confirma uma reportagem da Bloomberg News.

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A Medline, que conta com as gigantes de private equity Blackstone, Carlyle Group e Hellman & Friedman como investidores, havia comercializado 179 milhões de ações por US$ 26 a US$ 30 cada - com saída parcial para as três.

O preço atribiu à empresa um valor de mercado de cerca de US$ 39 bilhões, com base no número de ações listadas em seus registros junto à Securities and Exchange Commission (SEC) dos EUA.

A Medline fabrica e distribui suprimentos médicos, como luvas, aventais e mesas de exame usadas por hospitais e médicos - produz cerca de 40% do que vende -, em modelo que remete ao da Viveo no mercado brasileiro.

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As três gigante de private equity fecharam um acordo de US$ 34 bilhões para adquirir uma participação majoritária na empresa em 2021, em uma das maiores aquisições alavancadas de todos os tempos.

A IPO supera a maior listagem anterior deste ano, a da fabricante chinesa de baterias Contemporary Amperex Technology Co., de US$ 5,26 bilhões, em Hong Kong, bem como a oferta de US$ 1,75 bilhão da Venture Global, em janeiro, que havia sido a maior de 2025 nos Estados Unidos.

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A Medline havia conseguido até US$ 2,35 bilhões em compromissos de investidores âncora, incluindo Baillie Gifford, Capital Group, Morgan Stanley’s Counterpoint Global, Durable Capital Partners, GIC, Janus Henderson Investors, Viking Global Investors e WCM Investment Management.

A transação também é o maior IPO majoritariamente apoiado por private equity, superando a listagem de US$ 5,1 bilhões feita no ano passado pela Lineage, maior operadora global de armazéns refrigerados e que conta com a Bay Grove Capital como seu principal investidor.

Wall Street esperando que as empresas de private equity aumentem os volumes de listagem no próximo ano, com a abertura de capital de uma grande parte das empresas de sua carteira - o que significará conseguir saída de investimentos depois de anos de mercado menos receptivo.

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Com US$ 6,26 bilhões captados, a Medline é apenas a quinta empresa listada nos EUA a levantar mais de US$ 5 bilhões em um IPO na última década, segundo dados compilados pela Bloomberg.

As outras quatro foram a Uber Technologies, a Lineage, a Rivian Automotive e Arm Holdings, de design de chips.

A Medline havia solicitado confidencialmente a listagem junto à SEC dos EUA no fim do ano passado, mas a incerteza tarifária de Donald Trump atrasou seus planos de abrir o capital no primeiro semestre de 2025.

A paralisação - shutdown - do governo dos Estados Unidos no segundo semestre atrapalhou ainda mais os preparativos para a IPO, e a Medline finalmente apresentou seu pedido publicamente nesse período, que terminou em 12 de novembro.

As vendas iniciais de ações nos EUA arrecadaram mais de US$ 46 bilhões neste ano, excluindo as “empresas de cheque em branco” (SPACs), segundo dados compilados pela Bloomberg.

Mesmo com a Medline, espera-se que o total permaneça um pouco abaixo dos quase US$ 50 bilhões arrecadados por ano, em média, na década anterior à Covid.

A Medline foi fundada pelos irmãos Jon e Jim Mills em 1966. A família Mills, que permaneceu como a maior acionista individual da Medline após a aquisição, terá 17,8% do poder de voto após a IPO.

A Blackstone, o Carlyle e a Hellman & Friedman terão, cada uma, 18% dos direitos de voto após a transação.

Os membros da família Mills e suas afiliadas haviam manifestado interesse em comprar até US$ 250 milhões em ações no IPO, segundo os registros.

Desde a aquisição pelo trio de gigantes do private equity, a Medline passou a contar com uma nova liderança sob o comando de Jim Boyle, um veterano da empresa com 28 anos de experiência e seu primeiro CEO não relacionado à família Mills.

A Medline adquiriu o negócio de soluções cirúrgicas da Ecolab em 2024 por cerca de US$ 905 milhões e investiu US$ 1,6 bilhão em despesas de capital em sua rede de distribuição nos últimos cinco anos.

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A companhia oferece um amplo portfólio de cerca de 335.000 produtos médico-cirúrgicos e tem uma cadeia de suprimentos que permite a entrega no dia seguinte para 95% dos clientes corporativos dos EUA, mostram os registros. A empresa tem mais de 43.000 funcionários em todo o mundo.

A Medline obteve um lucro líquido de US$ 977 milhões sobre uma receita de US$ 20,6 bilhões nos nove meses encerrados em 27 de setembro, em comparação com um lucro líquido de US$ 911 milhões sobre uma receita de US$ 18,7 bilhões no ano anterior, de acordo com os registros.

O Goldman Sachs, o Morgan Stanley, o Bank of America e o JPMorgan Chase lideraram a coordenação da oferta, juntamente com 21 gerentes conjuntos de bookrunning e 21 co-gerentes. A Medline espera começar a ser negociada nesta quarta-feira no Nasdaq Global Select Market sob o ticker MDLN.

-- Com a colaboração de Natalia Kniazhevich.

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